Atualizada às 20h46
Em coletiva de imprensa na tarde desta quarta (23), o governo de Pernambuco anunciou novo protocolo de segurança sanitária para o Arquipélago de Fernando de Noronha. Com isso, a partir de 10 de outubro, o turismo na ilha, a 540 km do Recife, estará reaberto para todos os visitantes, não apenas aqueles que já foram contaminados pela covid-19. Desde o dia 1º de setembro, estava autorizado apenas o desembarque de turistas que comprovassem a cicatriz imunológica deixada pela infecção do novo coronavírus. O anúncio foi feito pelo administrador do arquipélago, Guilherme Rocha, e os secretários estaduais de Saúde, André Longo, e de Desenvolvimento Econômico, Bruno Schwambach.
Apesar da reabertura ampla, o turista que não tem a cicatriz imunológica deverá realizar um teste RT-PCR (nariz e garganta) para covid-19 no dia anterior ou , no máximo, no momento do embarque. Com o resultado negativo, o vistante poderá entrar no arquipélago. O turista também terá que fazer o download do aplicativo Dycovid – Dynamic Contact Tracing, que permite a rastrear por onde ele passou durante sua estadia na ilha. O serviço poderá ajudar o governo do Estado a identificar com quem o turista teve contato caso ele teste positivo para o coronavírus ao sair do arquipélago.
Criado pelo Porto Digital, em parceria com o Ministério Público de Pernambuco e Secretaria Estadual de Saúde, o Dycovid notifica o usuário da ocorrência de um contato de alto risco, dando melhor rastreabilidade e controle da doença. Quando alguma pessoa, também usuária, sinaliza que está contaminada, todos aqueles contatos que estiveram próximos são avisados que, em algum momento, podem ter sido expostos ao vírus. Tudo é feito de forma anônima. Toda informação coletada pelo aplicativo é identificável apenas pelo aparelho do usuário.
No desembarque no arquipélago serão seguidas as regras já em vigor para todos que chegam à ilha. Será feita a medição de temperatura e não será permitida a entrada de pessoas com sintomas de febre. E também é necessário obedecer ao distanciamento social de 1,5 metro na área do aeroporto. Além disso, é necessário seguir as normas de higiene e segurança como uso de máscara em locais públicos, sob pena de multa caso não seja utilizada, e a higienização das mãos.
Outro teste será realizado no Aeroporto de Fernando de Noronha no momento que o visitante deixar a ilha. Caso o exame confirme a infecção, o turista não é impedido de deixar a ilha, mas o teste é considerado importante para que as autoridades identifiquem as possíveis pessoas que mantiveram contato com ele. "Essa reabertura só vai ocorrer devido a responsabilidade que o Governo de Pernambuco tratou a pandemia no Estado", afirmou o administrador do arquipélago Guilherme Rocha.
Já o secretário de Saúde do Estado, André Longo, reforçou que o avanço para essa retomada do turismo acontece no momento em que não há transmissão comunitária na ilha. "Noronha está sendo alvo de uma pesquisa de incidência e prevalência, feita por quatro institutos. Já foram feitos mais de 1.600 testes, o que significa cerca de um terço da população local. Os resultados mostram que não há essa transmissão comunitária e, talvez, até onde sabemos, é o único território nacional com essa característica", explicou.
Expectativas para o turismo
A retomada plena do turismo em Noronha era algo que vinha sendo cobrado por quem depende das atividades desse setor no arquipélago. Entre os principais afetados estão os donos de hotéis e pousadas, grandes empregadores locais. Com a divulgação da reabertura no dia 10 de outubro, o vice-presidente da Associação das Pousadas de Fernando de Noronha, Cláudio Cardoso, disse que a definição traz novas expectativas para o setor.
"Não deixa de ser uma boa notícia que a pandemia está diminuindo e que vai haver essa segunda fase de reabertura. Agora é torcer que as pessoas enfrentem o protocolo e possam desfrutar de um dos lugar mais seguro do mundo, afinal, hoje a ilha é um reduto de controle da pandemia", comentou Cardoso.
O empresário Eduardo Oliveira, 28 anos, é ilhéu de Noronha e viu sua renda ser reduzida a zero com o fechamento do turismo na ilha. Ele e os irmãos atuam na Akoya Noronha oferecendo passeios, aluguel de equipamentos para mergulho e locação de veículos, como embarcações e buggy. "Tem sido um período muito complicado, vivendo de ajuda do governo, sem renda nenhuma. A gente pesca para não deixar faltar comida em casa", contou.
Ele revela que a nova data de reabertura encheu a comunidade noronhense se expectativas. "A gente acreditava que essa reabertura ia ser em setembro, mas acabou sendo só para quem já teve covid-19 e isso fez com que viesse pouquíssimas pessoas. Agora essa nova data enche a gente que vive do turismo de expectativa porque as contas estão se acumulando", relatou Eduardo Oliveira.
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Poucos visitantes
De acordo com números repassados pela Administração do arquipélago de Fernando de Noronha, somente neste mês de setembro, 350 turistas já pagaram a Taxa de Preservação Ambiental via plataforma online. O número, no entanto, não quer dizer que o destino já recebeu esse grupo, já que é possível fazer o pagamento de forma antecipada e viajar em outro momento.
Entre os que quitaram a TPA este mês e já viajaram para o local, foram contabilizados apenas 64 vistantes. Nesta conta não estão registrados, porém, aqueles que pagaram o valor antes da pandemia e ainda não tinham conseguido concretizar a viagem. O número é muito abaixo do registrado em 2019, quando a ilha recebeu mais de 106 mil vistantes no ano.
Companhias aéreas
Atualmente, apenas a Azul linhas Aéreas está realizando viagens para Fernando de Noronha, o que acontece somente aos sábados, com exceção de voos fretados que chegam às quintas-feiras. A companhia foi a única a manter voos semanais para a ilha, transportando mantimentos, moradores e autoridades públicas. No entanto, tanto ela quanto a Gol Linhas Aéreas, que também atua no local, já anunciaram a retomada dos voos comerciais a partir de 1º de outubro.
No caso da Gol, a companhia paralisou as atividades na ilha no início da pandemia da covid-19, em março, e planeja retomar no próximo mês com frequências diárias. Embora tenha dito, em nota, que "os bilhetes já estão sendo disponibilizados para compra nos canais de vendas da companhia", os detalhes da operação, como data do primeiro voo e horário das viagens, não foram divulgados.
Já a Azul informa que a meta é, a partir de outubro, realizar três voos por semana, nas quintas, sábados e domingo. As viagens serão realizadas com aeronaves modelo Embraer E195 E1, com capacidade para até 118 clientes.
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Pressão para reabertura
Na última sexta-feira (18), um grupo formado por donos de pousadas, empresários, comerciantes e trabalhadores realizou um protesto batizado de #ReabreNoronha. O ato aconteceu em frente ao Palácio São Miguel, sede da Administração da Ilha, na Vila dos Remédios. Os manifestantes pediam a reabertura total da ilha para turismo, ainda que seguindo protocolos de segurança, mas sem delimitar aos turistas já contaminados pela covid-19.
A movimentação turística é a principal responsável pela receita de Noronha, que gira em torno de R$ 42 milhões (R$ 36 milhões vindos da Taxa de Preservação Ambiental e R$ 6 milhões de ISS). A importância do turismo para os ilhéus justifica a ansiedade para a retomada ampla das atividades. Por causa da pandemia, o arquipélago de Fernando de Noronha esteve fechado para visitantes entre março e setembro. Os primeiros quatro turistas desembarcaram no dia 5 de setembro.
Vale ressaltar que desde a reabertura para turistas que já tiveram covid-19, algo que precisa sem comprovado através de envio dos exames comprobatórios via plataforma digital, o arquipélago registou quatro novos casos da doença entre os dias 1º e 12 de setembro (último boletim oficial).
Turismo em Noronha
(Informações de Fernando de Noronha em 2019. Fonte: Setur PE)
- Taxa da ocupação hoteleira: 83,2%;
- Permanência média: 4 dias;
- Fluxo Global de turistas: 106.130 mil, deste total 91,74% é nacional e 8,26% é internacional;
- Fernando de Noronha é o 4º destino mais visitado pelos turistas internacionais em Pernambuco;
- Principais destinos emissores nacionais: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Norte;
- Principais destinos emissores internacionais: Argentina, Estados Unidos, Portugal, Chile e Espanha.
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