Empresários que formam o trade turístico da Ilha de Fernando de Noronha viram como positiva a reunião que tiveram no final da manhã de ontem (8), no Palácio do Campo das Princesas, com representantes do governo estadual. Os empresários tiveram a promessa de que, até a próxima quinta-feira (10), teriam uma resposta sobre a possibilidade de flexibilização no protocolo que permitiu a reabertura da ilha aos turistas neste mês de setembro. Oficialmente, o governo confirmou que o pedido será analisado, mas não definiu uma data para resposta.
A reunião com o governo aconteceu depois de os empresários do setor de turismo realizaram uma carreata de protesto, durante a manhã, com cerca de 100 integrantes, desde a orla de Boa Viagem, no Recife, até a sede do governo estadual. No mesmo horário, uma outra carreata aconteceu em Fernando de Noronha, a 700 km do Recife, com bugueiros, donos de restaurantes e pousadas até a sede da administração da Ilha, na Vila dos Remédios.
Uma comissão foi recebida no Palácio do Campo das Princesas, pelo secretário-executivo de articulação da Casa Civil, Eduardo Figueiredo. Através de nota, o governo informou que os empresários protocolaram um ofício pedindo uma abertura maior para a entrada de turistas na ilha. No dia 1 deste mês a Ilha de Fernando de Noronha foi reaberta para o turismo depois de quase seis meses fechada por conta da pandemia. No último sábado (5), o primeiro voo trazendo turistas aterrissou na ilha, com apenas quatro visitantes.
Os empresários do trade turístico de Noronha reclamam da determinação do governo do estado para que sejam aceitos na Ilha apenas os turistas que, comprovadamente, já testaram positivo para a covid-19 e estejam recuperados, ou seja, comprovem através de exames, terem anticorpos para a doença.
Fabiana De Sanctis, diretora do Dolphin Hotel, em Fernando de Noronha e que fez parte da comissão recebida no Palácio, afirmou que a principal reivindicação dos empresários é de que Noronha seja aberta com o protocolo que foi construído em acordo com o Ministério Público de Pernambuco há dois meses. Pelo protocolo sugerido pelo trade turístico, o turista que apresentar o resultado de um exame do tipo RT-PCR com resultado negativo até 72 horas antes do embarque poderia ter acesso a ilha. “Queremos que a ilha seja reaberta a partir de outubro para todos, quem teve e quem ainda não teve a covid, sem exclusão. Do jeito que foi feito, não funciona” afirmou Fabiana. "O documento será encaminhado ao Comitê Socioeconômico de Enfrentamento ao Coronavírus para avaliação e eventual deliberação”, diz a nota do governo do estado enviada à imprensa, sem definir uma data para resposta.
José Maria, empresário, também participou da reunião no palácio e exigiu mais coerência das autoridades. “Nós já tínhamos um protocolo muito seguro, mas decidiram implantar esse outro, esdrúxulo e totalmente inadequado. Eu vi em Boa Viagem ontem [no feriado de 7 de setembro] milhares de pessoas na praia. Por que em Fernando de Noronha não pode ter 200 ou 300 turistas? Isso é uma falta de bom senso”, protestou José Maria.
Para Claudio Cardoso, proprietário de quatro pousadas na ilha, se apenas as pessoas que tiveram a covid-19 puderem visitar a ilha, será inviável economicamente. “Não terá gente suficiente para ir a Noronha. As empresas aéreas não podem sustentar um voo com tão poucas pessoas. Um terço das empresas da ilha já estão à beira da falência”, disse Cardoso. O empresário revelou que, na alta estação, que começa nas férias de julho e vai até fevereiro, Noronha mantinha até cinco voos diários. “Hoje temos um por semana”, lamentou Cláudio. “Se existisse uma ponte ligando Noronha ao continente, se isto fosse possível, o governo teria fechado essa ponte? Claro que não. Itamaracá é uma ilha, tem uma ponte, e não está fechada”, provocou o empresário.
Cleide Maria, dona da pousada da Carmô, mantém uma pousada familiar na ilha há mais de 30 anos. Ela conta que, com o protocolo atual, perdeu a maioria das reservas que tinha garantido para este ano. “Muita gente desistiu porque se em uma família, duas pessoas tiveram covid e três não tiveram, vai viajar a metade da família? Não vai”, citou Cleide. Ela estima que Noronha tenha cerca de 400 pousadas, todas vazias atualmente. “Nós recebemos ajuda do governo em cesta básica. Até frango e ovos recebemos, mas a gente quer trabalhar. Noronha nunca teve desemprego”, diz ela.
O turismo é a principal atividade econômica de Fernando de Noronha. Em 2019 a ilha recebeu 106.130 turistas, sendo 92% brasileiros e 8% estrangeiros. Só no ano passado, foram arrecadados R$ 42 milhões em Taxa de Preservção Ambiental (TPA), cobrada diretamente dos turistas, segundo dados da administração da Ilha.