Produtora de série sobre Marielle Franco pede desculpas, sem descartar José Padilha do projeto

Em suas redes sociais, a produtora e roteirista Antonia Pellegrino pediu perdão sobre suas declarações recentes envolvendo a produção de série sobre a vereadora Marielle Franco e reafirmou a busca por uma equipe diversa e inclusiva
Rostand Tiago
Publicado em 12/03/2020 às 9:09
Vereadora do PSOL foi morta em março de 2018 Foto: Arquivo/Guilherme Cunha/Alerj


Após as críticas que chegaram com anúncio de que José Padilha (Tropa de Elite 1 e 2) estaria envolvido em uma série sobre a vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 2018, a produtora e roteirista Antonia Pellegrino pediu desculpas em suas redes sociais. "Tentei justificar uma relação estratégica de trabalho com um discurso que não apenas reforçava a tal estrutura que eu criticava, como era também a sua principal causa", afirmou.

Entretanto, nada foi dito sobre se Padilha continuará ou não envolvido no projeto. "Contar sua saga, na atual conjuntura, dando máxima visibilidade à história desta heroína brasileira e à sua execução brutal é uma forma de manter o apelo social do caso. Entendo e respeito quem discorde, mas este foi meu compromisso com a família de Marielle", elaborou.

Em sua reflexão, pontuou a intenção do projeto sempre foi de ter uma equipe diversa, com mulheres e negros encabeçando o processo criativo e que o convite para essas pessoas está sendo feito. "Estou feliz por poder cumprir com a minha obrigação cidadã de levar a história de Marielle ainda mais longe, sendo mais coerente com aquilo que acredito e defendo", concluiu.

Já Padilha escreveu um artigo para a Folha de São Paulo intitulado "Lichamento Moral", citando nomes como Malcolm X e Martin Luther King e classificando como estarrecedora a situação. "Foi um linchamento moral sem direito a respostas ou tempo para explicações. Os linchadores reduziram tudo à cor da minha pele, como se eu fosse fazer o projeto sozinho, como se não fôssemos contar a história de Anderson, um homem branco, como se não fôssemos montar uma equipe repleta de realizadores negros", argumentou

O projeto e a repercussão

A série foi anunciada na última semana pela Globoplay, serviço de streaming da Rede Globo, prometendo abordar a vida e o assassinato de Marielle Franco, planejada para estrear em 2021. Com o nome de Padilha revelado como um dos envolvidos no projeto, internautas começaram a criticar a escolha, apontada como inadequada. O diretor foi apontado como um romantizador de figuras como Sérgio Moro e a Operação Lava-Jato, a qual baseia sua série 'O Mecanismo', realizada para a Netflix. O diretor foi tido como dono de um discurso que demonizava a esquerda da qual Marielle era militante.

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O caldo entornou quando Pellegrino justificou sua escolha em entrevista ao jornalista Maurício Stycer, do portal Uol. "Sou progressista e não-punitivista. Ele se arrependeu. As pessoas erram. E não acho que seja um erro suficiente para a gente cancelar uma pessoa", declarou. Grande parte da polêmica veio de sua fala sobre a ausência de um "Spike Lee" e "Ava DuVernay" no Brasil, dois prestigiados cineastas negros dos Estados Unidos. 

Sobre esse trecho, a produtora se retratou, afirmando que "Sobre a frase infeliz: 'No Brasil não tem um Spike Lee'. O fato de não haver um Spike Lee no Brasil fala sobre o nosso racismo estrutural, e não sobre supremacia branca. Não tem uma Ava DuVernay no Brasil não porque não existam diretoras negras talentosas. Mas porque existe sim racismo estrutural. Abrir espaço para diretores, roteiristas, profissionais negros é um compromisso público que fizemos. E o julgamento de estarmos comprometidos em reproduzir racismo é muito precipitado", que também acabou recebendo críticas.

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