Valdir Teles, nome maior do repente, morre aos 64 anos

Ele fazia parte de um pequeno grupo que reune a elite da cantoria nordestina
José Teles
Publicado em 22/03/2020 às 23:18
Valdir Teles, criador de versos antológicos Foto: Divulgação


O repentista Valdir Teles, um dos maiores nomes da poesia oral brasileira, teve sua morte anunciadanesse domingo, pela filha, a advogada Mariana Teles, em seu perfil no Facebook. A provável causa da morte foi um infarto. O poeta estava com 64 anos (faria 65 em julho), e faleceu no Sítio Serrinha, onde morava, na Zona Rural de Tuparetama (PE), no Sertão pernambucano, cidade que o adotou ainda criança.

Paraibano de Livramento, no Cariri paraibano, ele se tornou órfão de pai aos onze anos, passou a trabalhar para sustentar a mãe e os quatro irmãos mais novos. Trabalhou na agricultura até os 19 anos. Foi peão nas hidroelétricas de Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso. A arte do repente até 1979, permaneceu mais ou menos latente em Valdir Teles até que aflorou numa cantoria entre Sebastião da Silva e Moacir Laurentino, em São José do Egito. Daí em diante não teria mais volta. Em pouco tempo ele apresentaria um programa de cantoria e viola numa emissora de Patos (PB).

Numa entrevista à radialista Roberta Clarissa, em 2001, sobre a vocação para a poesia, respondeu: “Concordo, o poeta nasce feito, agora ele se aperfeiçoa, ele nasce feito e tem que se aperfeiçoar a muitas coisas, por que se ele nascer feito e não se atualizar, não procurar progredir, aí ele estagna, fica com a fonte estagnada que não vai produzir e acompanhar a evolução de hoje”.

Valdir teles nunca parou de evoluir, deixou vários clássicos para a poesia popular, um destes desenvolvido, com Moacir Laurentino, em torno do mote, Eu ainda sinto o cheiro, do café que mãe fazia. Poete premiado, com apresentações no exterior, Valdir , como grande parte dos cantadores de viola, circulava basicamente no universo particular dos repentistas e apologistas. Gravou vários CDs, DVDs, vendidos em espaços limitados.

Viajava muito mais seu porto seguro era São José do Egito, terra de lendas da cantoria de viola: “Eu sou da cidade de São José do Egito, mas morei 10 anos fora, depois voltei. São José é uma cidade onde não só me sinto em casa, eu acho que é uma cidade que todo mundo que chega lá se sente em casa, o povo é muito acolhedor, a cidade é poética e parece que a poesia aflora na terra”.

Assim definiu sua profissão, na citada entrevista: “Ser um cantador de viola é ser um repórter do povo do sertão, um boêmio da vida, gostar de cantar, não ligar pra muito dinheiro, dando pra viver já tá bom, isso é que ser um cantador de viola.

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