Obra do pernambucano Augusto Rodrigues ganha coletânea da Cepe Editora

Em quatro volumes, livros revelam facetas do educador, pintor, caricaturista e jornalista
Márcio Bastos
Publicado em 20/04/2020 às 12:46
Augusto Rodrigues atuou em diversas frentes enquanto artista e intelectual Foto: Divulgação


Augusto Rodrigues (1913 - 1993) foi um artista e intelectual cuja visão holística do mundo fazia com que entendesse arte, cultura, educação e política como partes integradas de um mesmo sistema, acreditando na potência libertadora do conhecimento, da liberdade e da criatividade para o ser humano. A vasta obra do pernambucano é tema de uma coletânea publicada pela Cepe Editora, dividida em quatro livros, cada um ressaltando uma faceta do seu trabalho: Artista (R$ 80); Caricaturista (R$ 100); Fotógrafo (R$ 70); e Educador (R$ 50). As publicações estarão disponíveis para compra a partir do dia 24 deste mês no site da editora.

Educador, pintor, caricaturista, desenhista, ilustrador, gravador, fotógrafo, jornalista e poeta. Eram muitas as atividades de Augusto Rodrigues - e quase sempre exercidas ao mesmo tempo. Essa ebulição criativa se manifestou desde cedo quando o recifense, ainda adolescente manifestava sua aptidão para o jornalismo no tablóide Alma Infantil, escrito com o primo Nelson Rodrigues, que também se tornaria uma referência na área e na dramaturgia.

No início da vida adulta, muda-se para o Rio de Janeiro, cidade que adotaria até sua morte. Como chargista, Augusto contribuiu com veículos como a revista O Cruzeiro, os Diários Associados e o Estado de São Paulo, chegando a ser publicado, simultaneamente, por cerca de 20 publicações. Suas observações políticas eram perspicazes e ajudaram a documentar e compreender momentos importantes da história brasileira e internacional, como no caso da Segunda Guerra Mundial, quando teceu críticas vorazes a Hitler e ao autoritarismo.

Reprodução - Caricaturas de Augusto Rodrigues registraram momentos importantes da política e sociedade brasileira

A vastidão da obra de Augusto é tamanha que surpreendeu até seu filho, o jornalista, desenhista e fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues, responsável pela pesquisa e organização da coletânea. Ele acredita que com as publicações as pessoas terão acesso a facetas ainda pouco reconhecidas de seu pai, como a de caricaturista, fotógrafo e também de artista visual.

“Mesmo dividindo em quatro livros, sinto que ainda haveria espaço para mais obras porque a atuação do meu pai foi muito grande e muitos fatos são desconhecidos do grande público. Nas artes plásticas, por exemplo, acho que ele não é reconhecido na proporção que merece. Ele produziu muito - e obras excelentes. Também foi um visionário: fez o primeiro happening do Brasil, na década de 1940, quando chamou um grupo de frevo para dançar da Avenida Rio Branco até o Museu de Belas Artes, no Rio de Janeiro, por exemplo”, ressalta.

Prolífico, Augusto estava sempre produzindo. Antônio Carlos lembra que o pai quase sempre tinha um pincel ou um lápis nas mãos e sua casa no Largo do Boticário, no Cosme Velho, era um ponto de encontro de artistas emergentes e consagrados. Do figurativo ao abstrato, Rodrigues explorou diferentes técnicas em sua obra com pintura, aventurando-se também por outros caminhos, como o da escultura.

Sua paixão pela arte se manifestava também no cuidado que tinha com seus contemporâneos e com a produção para além dos grandes centros urbanos. Foi ele quem popularizou a obra de Vitalino após se encantar com suas obras em Caruaru, organizando uma exposição no Rio de Janeiro em 1947.

Outro importante e desconhecido aspecto da obra do pernambucano era sua paixão por fotografia. No exemplar dedicado às imagens produzidas por ele, fica claro seu olhar atencioso para o bairro onde morava, suas paisagens e pessoas. São imagens de cunho intimista e poético.

EDUCAÇÃO

Um dos aspectos mais conhecidos da trajetória de Augusto Rodrigues é sua contribuição para a educação brasileira. Através das Escolinhas de Arte, a partir do final da década de 1940, ele incentivou um método de aprendizagem que estimulava a criatividade e defendia a autonomia dos alunos. A iniciativa se tornou referência, com 150 unidades instituídas no Brasil e na América Latina e foi fruto de uma tentativa do pernambucano de transformar o sistema educacional, formado por “escolas tristes e sombrias”, como ele ressaltava.

“Ao contrário do que muita gente pensa, a ideia não era que fossem apenas escolas para crianças. Eram espaços onde os professores eram chamados para desenvolverem projetos criativos que depois poderiam ser reproduzidos em outras instituições. Meu pai sempre dizia que as escolinhas não eram destinadas a pessoas que sabiam desenhar ou que iriam necessariamente virar artistas. O que ele queria é estimular a criatividade das pessoas. Se o aluno fosse virar um médico, cientista, arquiteto, que fosse o mais criativo dentro de sua área”, explica Antônio Carlos.

TAGS
cultura livro cepe
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory