Por Joaquim Falcão*
Alguns homens, e mulheres também, nascem poucos. Outros nascem muitos. Doutor Ricardo nasceu muitos. Não Existe um Doutor Ricardo. Existem infindáveis Doutores Ricardos. São tantos e tão variados que, às vezes, não cabem em si mesmo. Às vezes convergem, mas às vezes divergem-se. Brigam e concorrem entre si. Mas sempre se complementam e extrapolam-se. Sua marca não é a homogeneidades. É a auto-heterogeneidade.
É desenhista e arquiteto ao mesmo tempo. É engenheiro e mestre de obras concomitantemente. É colecionador e museólogo no mesmo piscar de olhos. É industrial e empresário, um sendo o outro. Como empreendedor foi capaz de inventar futuros, culturais sobretudo, e Pernambuco e o Brasil a lhe dever. Senhor de engenho e castelos. É capaz de inventar, copiar, aperfeiçoar, ensinar e fazer. Tudo de uma vez só. Trata a Rainha Beatriz com tropical e respeitosa intimidade, de fazer tremer Frans Post. Assim como trata o Mazinho com ensinante proteção comandante.
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Manda e desmanda com a mesma facilidade. Como o ar que respira. Como o sangue que lhe flui as veias. É brabo e doce, sucessivamente, e vice-versa. Às vezes é tormenta, outras, calmaria, sempre ventania. Tem um humor cúmplice, a sagacidade recôndita, a ironia cortante e o olhar peculiar. Ao contrário de Bauhaus, não é adepto do princípio de que menos é mais. Para ele: mais é mais.
É capaz de gestos de grande generosidade. É farto na mesa e no convívio. Adora os filhos. Idolatra a família. Tem plano de voo para cada neto. Ao seu lado não existem espaços. Ocupa todos. Não tem vácuo. Ocupa tudo. Apenas, por cautela, limita-se em e por Dona Graça, que, com discreta sabedoria e pernambucana paciência, usufrui e ajuda a multiplicar estes tantos Ricardos.
* Joaquim Falcão é membro da Academia Brasileira de Letras