Para os produtores musicais Gabriel Diniz, da Paraíba, e Rodrigo Oliveira, de São Paulo, trabalhar à distância, realidade que agora se impõe a grande parte da população brasileira por conta do coronavírus, tem sido o modus operandi desde que começaram a trabalhar juntos, no final de 2018. Apesar de nunca terem se encontrado pessoalmente, eles formam o duo CyberKills e têm utilizado essa expertise virtual para pensar alternativas para este momento, a exemplo do HyperPop Festival, maratona de lives que acontece sexta (21), sábado 22) e domingo (24), com artistas nacionais e internacionais. Na sexta, a transmissão começa às 15h.
Com participações da canadense Allie X, da rapper americana Kilo Kish, da vencedora da 10ª temporada de RuPaul’s Drag Race, Aquaris; Jup do Bairro, Davi Sabbag, Getúlio Abelha, Enme, entre outros cantores e DJs, o HyperPop Festival foi concebido em três semanas e foi viabilizado através de convites por e-mails e até mensagens diretas no Instagram. O projeto é independente, tem caráter beneficente e tem transmissão através do www.twitch.tv/cyberkillsmusic. Os recursos arrecadados serão doados para a ONG Mães da Favela.
“Estávamos sempre ligados nos eventos on-line que estavam acontecendo, prestando atenção na dinâmica, nas plataformas e, principalmente, nas causas em que estavam engajando”, contou o duo por e-mail. “Tudo ocorreu de forma bem orgânica e independente sem patrocínios ou mediadores. Tudo foi entre CyberKills e os artistas que integraram a line, no máximo, seus empresários. Além dos nomes internacionais e de nomes mais famosos daqui, buscamos artistas que ganhariam muito com a visibilidade do festival, além de grandes amigos pessoais de ambos.”
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Nos planos de Gabriel e Rodrigo está o desejo de que o projeto cresça e, passada a pandemia, possa se concretizar em um festival presencial. Mas, enquanto o futuro ainda é uma incógnita por conta da pandemia, o duo não para de produzir. Atualmente, têm inclusive trabalhando mais, elaborando sets para discotecagem em festas on-line.
“Produzimos dois remixes completos em apenas uma madrugada, estamos com beats prontos para apresentá-los a alguns artistas, temos artistas que já escolheram beats nossos, inclusive uma delas é literalmente o nosso sonho nacional (caso veja a luz do dia, vocês saberão na hora quem é). Depois que o festival passar, planejamos um EP de quarentena que servirá como o tão prometido debut do CyberKills”, adiantam.
A colaboração entre Gabriel e Rodrigo começou através do Twitter, quando decidiram fazer um remix de Buzina, canção de Pabllo Vittar. A iniciativa foi informal e, brincam, “desastrosa” porque não tinham os recursos para trabalhar a faixa mais profissionalmente.
“Não tínhamos nem a acapella da música, mas colocamos a cara no mundo a partir daí, sempre buscando engajamento na internet. Posteriormente, tivemos a oportunidade de trabalhar profissionalmente com os materiais oficiais da música e nosso remix foi parar no disco NPN Remixes. Desde então não paramos!”, lembram.
Além de Pabllo Vittar, o duo já remixou faixas para Getúlio Abelha, Jup do Bairro, Linn da Quebrada, entre outros, além de produzir algumas faixas autorais, como Não Vou, com Mia Badgyal, e Hit do Carnaval, com Kaya Conky e Potyguara Bardo.
“Nosso processo é 100% baseado na nossa conexão, na amizade que construímos. Constantemente estamos trocando referências, sejam atuais, como antigas. Literalmente qualquer som, convencional ou não, nos inspira. Às vezes um começa uma ideia, o outro vai guiando, tudo isso trocando arquivos pelo WhatsApp, reuniões por aplicativos que permitem compartilhamento de tela; infinitos áudios até chegar no resultado final”, contam.
As produções do CyberKills mesclam pop, pc music e também gêneros mais regionais, como o bregafunk. Essa miscelânea de referências sonoras inspira o duo à constante experimentação. Atualmente, têm pensado em como misturar o funk com vertentes da música eletrônica, buscando sempre criar e imprimir uma assinatura autoral.
Eles tinham planos de lançar um single ainda em julho, mas adiaram os planos. Além dessa mudança, eles também precisaram colocar em suspenso o primeiro encontro da dupla, que aconteceria em dois eventos, em São Paulo, marcados antes da pandemia e adiados por conta da crise na saúde.
Gabriel e Rodrigo acreditam que, daqui para frente, a indústria vai passar por uma série de adaptações, tanto no que diz respeito aos processos de criação quanto à realização dos eventos presenciais e virtuais, e é preciso valorizar o trabalho dos profissionais que estão por trás das produções.
“Para quem é mais leigo, eu creio que continua a mesma coisa, geralmente o valor é creditado aos intérpretes e acabamos tendo nosso trabalho sendo levado em detrimento a isso tudo. Um exemplo dessa desvalorização foi a proposta da Medida Provisória 948/20 (proposta pelo deputado Felipe Carreras), que tinha como finalidade alterar os processos de arrecadação de direitos autorais, excluindo partes essenciais da criação de um fonograma”, apontam. “Deixamos esse espaço para agradecer a mobilização que a Anitta e outros artistas realizaram contra esse absurdo. A gente espera que um dia consigam olhar pro nosso trabalho e pensem duas vezes em desvalorizá-lo, ou até mesmo chegarem pedindo a gratuidade do fruto do nosso esforço. Lembrem-se que também temos contas a pagar (risos).”