O Instagram favorece a nudez e um padrão de beleza? Confira respostas de estudo

Para fazer sucesso na rede social, nada melhor do que uma pose sensual de biquíni ou maiô, afirma estudo
AFP
Publicado em 05/10/2020 às 8:42
Um porta-voz do Instagram à AFP afirmou que a pesquisa é "completamente tendenciosa", uma vez em que "o algoritmo analisa o tempo gasto em determinados tipos de conteúdo" Foto: PIXABAY


O Instagram favorece a nudez e um padrão de beleza? É o que afirma um estudo da organização AlgorithmWatch, publicado em junho, feito com base na análise de fotos que aparecem no feed de usuários voluntários, enquanto as "influenciadoras" censuradas se queixam dos "erros" do algoritmo. Os especialistas afirmam que, para fazer sucesso no Instagram, nada melhor do que uma pose sensual de biquíni ou maiô, tendo em vista o quão comum são essas imagens no aplicativo.

A estrela dos reality shows americanos Kylie Jenner parece ter utilizado recentemente este princípio ao postar uma foto de biquíni para convocar seus 197 milhões de seguidores para se registrarem a tempo de votar na próxima eleição presidencial dos Estados Unidos.

Surge a questão: o algoritmo da rede social, ou seja, a fórmula secreta que rege o conteúdo da plataforma, promove esse tipo de iniciativa? De acordo com uma pesquisa da organização AlgorithmWatch, publicada em junho, a resposta é sim.

"Nossos resultados permitem afirmar que uma foto de uma mulher de roupas íntimas ou de banho é mostrada 1,6 mais vezes do que uma dela vestida. Para um homem, a taxa é de 1,3", declararam ao jornal online francês Mediapart os dois autores do estudo, Nicolas Kayser-Bril e Judith Duportail.

Para obter os resultados, eles analisaram 1.737 postagens de 37 contas do Instagram, seguidas por 26 voluntários que instalaram um plug-in em seus navegadores para contar o número de vezes que cada imagem aparece.

Em 2016, o Instagram, que está prestes a completar 10 anos, deixou de mostrar as fotos em ordem cronológica. Um algoritmo seleciona as imagens de acordo com as preferências de cada usuário, segundo uma série de parâmetros que não são claros.

Para os autores do estudo, isso poderia ser baseado em um "nível de nudez" calculado quando a imagem é publicada. Eles citam uma patente de 2011, registrada pelo Facebook - que comprou o Instagram no ano seguinte - de um sistema de identificação de pele por meio de faixas de cores específicas.

Esta pesquisa é "completamente tendenciosa", disse uma porta-voz do Instagram à AFP. "O algoritmo analisa o tempo gasto em determinados tipos de conteúdo, as interações, e mostra como prioridade o conteúdo que atrai cada usuário, mas não existe uma patente que priorize a nudez, não faz sentido".

A sensação de ver imagens similares com frequência se deveria então aos hábitos do usuário, que poderia evitar isso buscando outros tipos de fotos, explica a porta-voz.

As redes sociais são acusadas de reproduzir preconceitos ao personalizar o máximo possível o conteúdo que oferecem aos usuários. Porém, é difícil respaldar essas observações porque faltam dados das próprias plataformas.

O caso é notório no Instagram porque o aplicativo tem uma responsabilidade econômica com os "influenciadores", pagos pelas marcas de acordo com seu público, mas também com a sociedade ao propagar certo padrão físico a mais de um bilhão de usuários.

Ao mesmo tempo, o Instagram é acusado de puritanismo e, principalmente, falta de objetividade na aplicação de suas próprias regras sobre nudez. O aplicativo proíbe "close-ups de nádegas totalmente expostas" e "mamilos de mulheres", mas várias vezes essa cautela foi suprimida para mostrar fotos de mulheres nuas.

No início do ano, a plataforma removeu imagens da capa da revista francesa Télérama sobre gordofobia. "Os algoritmos do Facebook, Instagram e outros não gostam de nudez, mesmo quando não é pornográfica (...) A foto (da DJ da capa) Leslie Barbara Butch não mostra sexo nem mamilos, mas, obviamente, muita pele. Demais, aparentemente, para as redes sociais", escreveu a revista. 

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