Um artista relevante para o teatro pernambucano entre as décadas de 1930 e 1960 ganhará mais reconhecimento (e chegará ao conhecimento do grande público) com o lançamento do livro "O Teatro do Mendigo Milionário", do jornalista Sam Castro.
A publicação conta a história do recifense Elpídio de Arruda Câmara (1895-1965), ator, ensaiador e funcionário público que fundou várias companhias teatrais de destaque na cena pernambucana e que desempenhou a maioria das funções nas artes cênicas.
O livro será lançado nesta quinta-feira (9), a partir das 19h, no Teatro de Santa Isabel, no Centro do Recife. O evento contará com parentes de Elpídio, além de arrecadar alimentos para vítimas das chuvas no Recife - as doações serão entregues pelo grupo Casinha de Oração. Os exemplares do livro serão vendidos por R$ 70.
Uma curiosidade é que Elpídio sonhava em ter um velório no Teatro de Santa Isabel, o que não foi realizado quando ele veio a falecer. O autor Sam Castro acredita que esse será o "pagamento de uma dívida histórica".
O jornalista, que também já lançou o livro "Ary: Um Bandeirante do Cinema Brasileiro" (sobre o Ciclo do Recife), realizou pesquisas durante 15 anos. A obra é recheada de fatos históricos, documentos, fotografias, histórias de amor e fofocas sobre o teatro do século passado e também sobre a cultura pernambucana.
Sobre Elpídio de Arruda Câmara
Um exemplo da importância Elpídio de Arruda Câmara é que ele fundou o Grupo Gente Nossa (1931-1942), que foi o embrião do consagrado Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), marco divisor das artes cênicas em Pernambuco.
No palco, interpretou diversos personagens, personagem central da peça Deus Lhe Pague (de Joracy Camargo), daí o nome ao livro de Sam Castro.
Durante a vida, foi amigo de figuras como Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, Lúcio Mauro, Arlete Salles, apenas para citar alguns exemplos. Contudo, caiu no esquecimento com o passar do tempo.
"Essa biografia visa preencher a lacuna histórica desta personalidade tão importante da cultura brasileira, que merece reinseri-lo no panteão dos imorais do teatro brasileiro", diz a sinopse. O livro tem prefácio de Paulo Cunha, professor de comunicação aposentado da Universidade Federal de Pernambuco.
"Uma das várias contribuições dele foi gerar em Pernambuco uma tradição para o teatro. Antes de Elpídio e de sua geração, não havia um hábito de prestigiar os seus próprios artistas. Existia um complexo de inferioridade. As pessoas iam prestigiar companhias do Sul e de Portugal", diz Sam Castro ao JC.
"Ele ajudou a provar a qualidade dos nossos artistas, proporcionando diversão e arte de qualidade do mesmo nível ou maior do que as companhias de fora", continua.
"Outro ponto é que ele não se limitou ao grupo Gente Nossa, pois tinha um teatro social. Tinha essa coisa de salvar vocações perdidas. Respirava teatro até os fios dos cabelos. Era um homem comprometido, pois desde criança sabia que esse era o seu destino."