A música brega voltou a mostrar a sua grande popularidade com a noite dedicada ao ritmo no 30º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) nesta segunda-feira (24). Apesar do dia escolhido dificultar a presença de muitos turistas, a praça do Palco Mestre Dominguinhos já estava fechando os seus portões por volta das 21h, um horário similar ao sábado (23) - que teve o maior público do festival até então. Cerca de 70 mil pessoas estiveram no polo.
Na programação, nomes representativos do brega. Banda Sentimentos, projeto romântico da nova geração, Conde Só Brega, com mais de 20 anos de carreira e uma forte iconografia, e Raphaela Santos, que certamente é a maior cantora do ritmo no Estado hoje - ao lado de Priscila Senna.
Esse é o segundo ano em que o brega ganhou espaço na programação do festival. A primeira vez foi em 2019, com shows da banda Banda Kitara, das Amigas do Brega e de Priscila Senna - que também teve portões fechados.
Quem abriu a noite foi a cantora Carla Marques, seguindo a tradição do festival em dar espaço para as artistas da terra. "Uma responsabilidade imensa abrir a noite do brega. A segunda de toda história do Festival de Inverno. E eu que, em 2019, estava lá achando que era impossível para mim. Estou aqui abrindo essa noite. Foi incrível. Foi lindo. Realmente, me emocionei”, disse a cantora após o show.
Em seguida, a Banda Sentimentos entrou com uma sequência de sucessos que provocou um intenso coro do público: "Onde Estás", "Pouca Roupa" e "Otária". "Chuva não existe para os bregueiros", disse Ellyson, vocalista da banda ao lado de Zianne Martins, quando começou a chover na praça.
O show seguiu com "Lençol", "Clichê" (primeiro sucesso da banda), "Gamei", "Única opção". A última parte do show contou com algumas interpretações de sucessos, como "Dengo", e algumas canções menos conhecidas. 'Hoje é um dos dias mais felizes da nossa vida", disse Zianne.
Conde Só Brega, que voltou com tudo ao mercado do brega no último ano, também teve as suas músicas religiosamente cantadas pelo público. Ele abriu o show com “A Vida é Assim”, que já pode ser considerada um clássico do ritmo no Estado, e seguiu com sucessos “Azafama”, “Artigo de Vitrine” (da banda Chama do Brega) e "Não Devo Nada a Ninguém".
O interessante é que, apesar da maior parte das músicas terem sido lançadas entre o final dos anos 1990 e o começo dos anos 2000, jovens e adolescentes de diferentes faixas etárias cantavam com todo o ar dos pulmões
Não por acaso o cantor ganhou ampla divulgação de João Gomes, de 19 anos. "Espelho do Poder", que ganhou uma regravação ao vivo com o fenômeno do piseiro, também esteve no repertório.
O show do Conde contou com participação do jovem cantor Rafa Lira, que integra a mesma produtora do veterano. Apesar de problemas no microfone nos primeiros minutos, Lira foi bem recebido pelo público e cantou com o Conde os sucessos "Leila", "Cubana" e "Chelli", todas influenciadas pelos clubes de música latina do Recife.
Ainda teve homenagem a Reginaldo Rossi com "Em Plena Lua de Mel" (1981) e a nova música do próprio Conde, "Qual é o Homem que Não Trai", a primeira inédita em 15 anos. O show acabou com um bis de "Não Devo Nada a Ninguém".
Raphaela Santos, que, apesar da pouca idade, já canta há uns 10 anos, se converteu num verdadeiro fenômeno nos últimos tempos. Ela convidou Garanhuns a cantar sofrências como "Atende aí Bebê", "Só Queria Desabafar" e "Seu Mentiroso", lançamento já amplamente conhecido pelo público.
"Estou muito feliz. A gente fechou o portão, o que é isso? No começo eu fiquei louca pensando, ‘poxa, me colocaram na segunda-feira, não vem ninguém'. Daí no andar, um monte de gente assim. Muito obrigada", disse Raphaela, que comemorou o número de 1 milhão de seguidores no Instagram com uma foto no palco.
A cantora ainda apresentou algumas versões de brega de pagodes como "Não é por Maldade", de Ludmilla, "Depois do Prazer", de Só Pra Contrariar e "Você me Vira a Cabeça", de Alcione. Ainda teve espaço para "A Dor desse Amor", do KLB.
Com um repertório amplamente conhecido pela multidão, a cantora mostrou a sua potencial vocal e sintetizou bem porque o ritmo é um fenômeno no Estado, sobretudo no Grande Recife. O encerramento coube ao seu sucesso que ultrapassou fronteiras: "Só Dá Tu", regravação de "I Got You", de Bebe Rexha.
Até 2017, o ritmo brega não ocupava as grades dos eventos do Governo de Pernambuco, o que mudou com o Projeto de Lei 16.044/2017, apelidada de "Lei do Brega", que alterou a legislação nº 14.679/2012, garantindo a preservação da manifestação brega como bem cultural do estado. O sucesso no FIG mostrou que o espaço é merecido.
O FIG continua até o dia 31 de julho. No palco, ainda passam artistas como Solange Almeida, Sepultura, Baco Exu do Clubes, Filipe Ret, entre outros. Clique aqui para conferir a programação completa do FIG 2022.