No rol dos pernambucanos mais relevantes da história da música, Alceu Valença agora tem vida e obra detalhadas do livro "Pelas Ruas que Andei - Uma Biografia de Alceu Valença", assinado pelo jornalista carioca Julio Moura.
Essa é "uma biografia", como ressalta o título da publicação, por não ser definitiva. "Entender isso me tirou um peso muito grande. O Alceu está vivendo um momento excepcional da carreira, então nada que for feito será definitivo", diz o escritor, que é assessor do artista desde 2009, ao JC.
O livro está sendo publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), com projeto assinado pela Relicário Produções, de Carla Valença. O lançamento ocorre dia 27 de junho, às 19h, no Paço do Frevo, com sessão de autógrafos e bate-papo com o autor, mediado pela jornalista Luiza Maia. A presença do biografado já está confirmada.
A produção de "Pelas Ruas que Andei" começou em 2019, quando o projeto conseguiu apoio do Itaú Cultural para contratar uma editora e a pesquisadora Patrícia Pamplona. "E aí entrou a pandemia. Tudo o que eu pensava fazer, como passar temporadas em São Bento do Una (terra natal do artista), no Recife e em Garanhuns, caiu por terra", diz Júlio, que também é autor de "Por trás da luneta" (2015), sobre o filme "A luneta do tempo", que Alceu escreveu e dirigiu.
"Fiquei trancado, mas pude me aprofundar excessivamente no universo do Alceu através de pesquisa histórica, de jornais, revistas e livros… Acho que o livro lança um olhar atento ao diálogo do artista com o jornalismo cultural, pois ele sempre deu grandes entrevistas e os jornalistas também são personagens do livro". O prefácio é da jornalista francesa Dominique Dreyfus, biografia de Luiz Gonzaga e Baden Powell.
Para o autor, a obra tem uma importância por registrar um capítulo fundamental da música nacional: a ascensão dos artistas nordestinos na década de 1970. De fato, a trajetória de Alceu é uma das mais representativas em relação a essa temática. Natural de São Bento do Una, ele viveu entre o Recife e a capital fluminense participando de festivais de música, batendo na porta de gravadoras do Sudeste numa época em que a música dita "regional" vivia instabilidades no mercado.
"Sempre fui muito leitor de biografias, sobretudo as biografias musicais. Durante muito tempo, existiu uma lacuna de biografias da música brasileira. Lá fora esse cenário é bem diferente. Isso começa a mudar no início dos anos 1990, com 'Chega de Saudade' do Ruy Castro ou 'Noel Rosa. Uma Biografia', de João Máximo'", diz. "Comecei a trabalhar com o Alceu em 2009 e não demorou muito para entender que ele era o meu personagem."
"Existe pouca bibliografia. O Jotabê Medeiros fez uma biografia sobre o Belchior e lançaram também uma do Fagner, mas você não tem uma biografia da Elba Ramalho, do Geraldo Azevedo, do Dominguinhos... Eu acho que estava na hora de dar a minha contribuição."
Para além de biografar um artista da dimensão de Alceu, Julio Moura admite que um outro grande desafio foi conseguir um distanciamento do papel de assessor de imprensa. "Sempre tem assuntos que são mais espinhosos. O distanciamento é necessário justamente para você lidar com esse tipo de assunto. Utilizar muito mais o acervo de pesquisa ajudou nisso, embora o Alceu tenha dado uma certa condução ao livro", diz.
Moura relembra de uma conversa que teve com Ruy Costa, um dos principais biógrafos da música brasileira. "Ele disse que 'se você conviveu com o seu biografado, você tem um livro de memórias e não uma biografia'. Eu acabei usando essa frase para usar como referência do que eu não queria fazer. É uma biografia, eu até apareço em algum momento. Mas, saio rapidamente de cena."
Já a percepção da "biografia não definitiva" veio da conversa com o editor Lucas Bandeira de Melo. "Estou lançando esse livro e outras pessoas devem fazer melhor, se aprofundar mais, pegar determinados aspectos. Minha contribuição é essa, com minhas facilidades de estar próximo e com todas as limitações que existe", diz.
"Pelas Ruas que Andei" também aborda como a ditadura impactou a trajetória de Alceu - seu parceiro Geraldo Azevedo, inclusive, foi preso e torturado no período. Alceu chegou a passar uma noite no DOPs quando era estudante de direito. Em 1973, já no Rio de Janeiro, ele precisou voltar ao Recife após pessoas de sua convivência começarem a desaparecer.
"Ele começou a conviver com pessoas que estavam envolvidas em grupos de resistência, embora não fizesse ideia do nível de envolvimento. Aquilo era omitido. Ele volta para o Recife derrotado como um recuo estratégico inesperado", diz.
A interessante trajetória do artista, contudo, está para além das peripécias para conseguir espaço no Sudeste, da ditadura e do ápice do sucesso nos anos 1980. Alceu continuou se reinventando nas décadas de 1990 e 2000, por exemplo.
"Nos anos 1990, ele acaba procurando mais independência, embora o mercado ainda não tivesse mudado tanto. Ele começou a fazer discos de projetos por gravadora. Em 1991, lançou um disco de pouca visibilidade que é um dos mais importantes da sua carreira, o 'Sete Desejos', que tem La Belle De Jour, que foi uma faixa que cresceu com o tempo", diz Moura.
"Nos anos 1990, tem Grande Encontro e, no final da década, tem a coisa do forró universitário no Sudeste e ele grava o 'Forró de Todos os Tempos'. Ali ele começa a falar para uma geração de 20 anos que estava curtindo coisas do Nordeste."
Logo na sequência vem a internet, um meio em que o artista continua evidente. "Acho que a internet que ajuda a explicar o momento que ele está atualmente. Um sucesso incrível que atinge crianças, adolescentes e programações de festivais nas principais capitais de Norte a Sul. A internet é uma grande aliada sua", finaliza.
SERVIÇO
Lançamento do livro Pelas ruas que andei - Uma biografia de Alceu Valença (Cepe Editora)
Quanto: R$ 70 (livro impresso); R$ 35 (e-book); 49,90 (compra do audiolivro); R$ 20 (assinatura do audiolivro)
Recife
Quando: 27 de junho
Onde: Paço do Frevo (Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Recife)
Horário: 19h
Acesso gratuito
Rio de Janeiro
Quando: 25 de julho
Onde: Livraria Travessa do Shopping Leblon (Avenida Afrânio de Melo Franco, 290, loja 205, Rio de Janeiro)
Horário:19h
Acesso gratuito
São Paulo
Quando: 27 de julho
Onde: Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, Bela Vista, São Paulo)
Horário: 19h
Acesso gratuito