Os atores de Hollywood anunciaram, nesta quinta-feira (13), que vão entrar em greve após o fracasso das negociações com os estúdios, unindo-se assim aos roteiristas em uma ação que ameaça paralisar a indústria do cinema e da televisão americana.
O comitê nacional do Screen Actors Guild (SAG-AFTRA) "votou em unanimidade para lançar uma ordem de greve contra os estúdios e as plataformas de streaming", anunciou o negociador do grupo Duncan Crabtree-Ireland em entrevista coletiva nesta quinta em Los Angeles.
Os atores exigem melhorias salariais, um ajuste dos pagamentos que recebem por retransmissões de suas produções, bem como definições sobre o uso de inteligência artificial na indústria, entre outros pontos.
"Este é um momento histórico. É a hora da verdade", disse Fran Drescher, presidente do SAG-AFTRA em um discurso enérgico para anunciar a convocação de greve.
"Se não fizermos isso agora, todos vamos estar em apuros. Estaremos ameaçados de sermos substituídos pelas máquinas e os grandes negócios."
"A greve começará à meia-noite de hoje [4h00 de sexta-feira em Brasília], e todos nós, membros do sindicato, líderes e pessoal de trabalho, estaremos nos piquetes amanhã pela manhã", acrescentou Crabtree-Ireland.
Assim, atores e roteiristas estarão lado a lado nas ruas.
Há 11 semanas, os roteiristas participam de piquetes do lado de fora de estúdios como Netflix e Disney com exigências similares.
"Encruzilhada"
Mais cedo, a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) afirmou que estava "decepcionada" com o encerramento das negociações. "É uma decisão do sindicato [dos atores], não nossa", assinalou o grupo em um comunicado durante a madrugada.
O CEO da Disney, Bob Iger, disse à emissora CNBC nesta quinta-feira que as expectativas dos roteiristas e atores "não são realistas" e chamou a greve de "muito preocupante".
Mas Drescher rebateu na manhã desta quinta: "Nós somos as vítimas. Estamos sendo vítimas de uma entidade muito gananciosa. Estou chocado com a forma como fomos tratados pelas pessoas com as quais fizemos negócios."
A atriz afirmou que o sindicato havia entrado nas negociações com otimismo, mas a negativa dos estúdios o colocou "em uma encruzilhada". "Não tínhamos escolha", acrescentou.
"Exigimos respeito e sermos honrados por nossa contribuição [...] Vocês não podem existir sem nós", declarou, ao se referir aos estúdios.
As redes sociais repercutiram a situação até mesmo antes da convocação oficial.
"A AMPTP jogou duro em vez de ajudar a resolver problemas totalmente solucionáveis que põem em risco os roteiristas e atores nos degraus mais baixos da escala salarial", tuitou Phil Lord, o escritor, diretor e produtor do sucesso "Homem-Aranha: Através do Aranhaverso" e "Uma Aventura LEGO".
Hollywood em compasso de espera
A última vez em que atores e roteiristas de Hollywood fizeram uma greve simultânea foi em 1960, quando Ronald Reagan, ator e futuro presidente dos Estados Unidos, liderou uma ação que eventualmente obrigou os estúdios a darem o braço a torcer.
A cidade do espetáculo se prepara para o impacto dessa nova ação que pode colocá-la de joelhos.
A paralisação dos roteiristas já havia reduzido a quantidade de filmes e programas em produção, mas sem atores a indústria se verá obrigada a parar.
Alguns reality shows, programas de auditório e entrevistas poderiam continuar. Mas as séries e outras produções de grande sucesso enfrentarão atrasos.
As estrelas também não participarão dos eventos promocionais de seus filmes e tampouco poderão desfilar nos tapetes vermelhos.
A Comic-Con, um dos principais eventos anuais da cultura pop marcado para a próxima semana em San Diego, também poderia ficar sem a presença de estrelas.
A cerimônia do Emmy, prevista para 18 de setembro, poderia ser adiada para novembro, ou até mesmo para o ano seguinte.
Um dos pontos de desencontro entre os sindicatos e os estúdios são os chamados pagamentos "residuais", feitos todas as vezes em que as plataformas transmitem uma produção da qual participaram.
Para os atores, a fórmula deve considerar a popularidade das produções na hora de realizar a compensação. Assim, um programa mais assistido geraria mais pagamentos residuais.
Mas plataformas de streaming como Netflix e Disney+ mantêm sob sete chaves suas estatísticas de visualização, e oferecem a mesma tarifa por tudo o que transmitem em seus catálogos, independentemente de sua popularidade.
Além disso, tanto atores como roteiristas querem a regulamentação do uso futuro da inteligência artificial na indústria, que veem como uma ameaça a seu trabalho.