João Cabral de Melo Neto, pernambucano, ficou conhecido por uma poesia com um incrível rigor estético e olhar atento às desigualdades. O artista plástico Luiz Hermano, cearense, transita entre o repertório popular e os materias da cultura de massa, acentuando a dimensão artesanal da produção. O que poderia surgir em um diálogo entre essas duas visões artísticas?
É isso o que os visitantes poderão conferir na exposição "Vinte Palavras Girando ao Redor do Sol", inaugurada na Amparo 60, Zona Sul do Recife, nesta quarta-feira (10), a partir das 19h. O título foi retirado de poema de Graciliano Ramos, alagoano, de 1961. A curadoria de Walter Arcela propõe uma fricção entre as poéticas de Hermano e e Melo Neto.
A mostra está em cartaz até o dia 30 de setembro, com visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábados das 10h às 15h, com agendamento prévio.
O nome de João Cabral surgiu naturalmente nas conversas entre artista e curador, despertando a ideia de relacioná-los. "Tenho admiração pelo poeta na forma direta que escolhe e usa as palavras. Sempre o admirei pela visão de revelar o social e a política", resume Luiz Hermano.
"A poesia de João Cabral foi marcada pelo rigor estético que o fez estruturar seus versos imbuídos na economia lexical que configuraram justamente sua potência. Para ele, um poema se faz somente com as mesmas vinte palavras. Assim como Hermano em seus trabalhos", detalha o curador.
São cerca de 20 obras que representam o percurso de mais de 46 anos dedicados à arte, ressaltando aspectos gerais de suas obras que marcam sua produção.
"Essa mostra é mais sobre desvelar aspectos da feitura que se mostram presentes ao longo da trajetória de Hermano, do que apresentar uma produção momentânea dele", detalha o curador. O artista vai expor esculturas em materiais diversos, tais como cobre e madeira.
"Hermano trabalha com uma geometria oscilante. Essa determinação visual que não consegue ser completamente apreendida. Ele ao mesmo tempo que se aproxima da filiação da arte concreta e construtiva brasileira também se afasta. Existe um desejo de ordenamento nas formas geométricas, as matizes construtivas da sua obra, mas trata-se de uma geometria imprecisa, mole, que brinca com sentidos da geometria; Existe um grau de organicidade muito
grande", aponta Arcela.
Desenhando desde sempe, Luiz Hermano Façanha Farias estudou filosofia em Fortaleza no início dos anos 1970. No início, sem acesso a tintas profissionais, pintava com café. Em 1979, frequenta aulas de gravura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, transfere-se para São Paulo e a convite de Pietro Maria Bardi, realiza a mostra "Desenhos", no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
Em 1980, edita o álbum de gravuras intitulado "O Universo". Em 1984, ao receber o Prêmio Chandon, viaja para Paris, onde realiza exposição individual na Galeria Debret. Participa da 5ª Bienal Internacional de Seul (1983), e da 2ª Bienal Pan-Americana de Havana (1986).
Na década de 1980, dedica-se, sobretudo, à pintura. Nos anos 1990, desenvolve obras tridimensionais utilizando materiais diversos, como cabaças naturais, fios de cobre, arame, capacitores eletrônicos, ligas de bronze, alumínio, peças de acrílico e vários tipos de peças industrializadas, deslocadas do cotidiano. Em 1987, expõe pinturas na 19ª Bienal Internacional de São Paulo e esculturas na 21ª edição do evento, em 1991. Em 2005, participa da exposição “Discover Brazil”, no Ludwig Museum, Koblenz, Alemanha.
Em 2008, realiza a exposição "Templo do Corpo", na Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo nesta ocasião publicado o livro: "Luiz Hermano". A monumentalidade na obra de Luiz Hermano, se apresenta em diversos espaços públicos.
O artista divide seu tempo entre o ateliê e o mundo, como já escreveu Katia Canton: "As viagens são formas de reivindicar territórios, consagrando ao artista um reservatório cada vez mais denso de experiências de mundo. Paisagens, templos, histórias de gente e de coisas vistas no caminho, tudo se acumula na espessura de um novo trabalho."
SERVIÇO
"Vinte Palavras Girando ao Redor do Sol", de Luiz Hermano, com curadoria de Walter Arcela
Onde: Galeria Amparo 60 - No 3o andar da Donna Santa (Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 187, Boa Viagem, Recife)
Quando: nesta quinta-feira (10), às 19h
Visitação: De 11 de agosto a 30 de setembro, de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábados das 10h às 15h, com agendamento prévio