O grupo teatral pernambucano Magiluth, prestigiado nacionalmente nas artes cênicas, teve de cancelar apresentações do espetáculo "Apenas o Fim do Mundo" no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), no Centro do Recife. De acordo com o grupo, parte do equipamento utilizado foi furtado neste final de semana.
O espaço é gerenciado pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura/Fundação de Cultura.
A peça está em cartaz desde 3 de agosto, com sessões das quintas aos domingos. Esse seria o último final de semana de apresentações. O Magiluth se apresentou na quinta (31) e sexta-feira (1º). No sábado (2), no entanto, os artistas perceberam que foram furtados instrumentos musicais, figurinos, cabeamento de luz e som, dentre outros materiais do espetáculo. Outros elementos usados em cena também foram quebrados, segundo o grupo.
"Um equipamento público, um prédio histórico, foi invadido e nós como artistas ocupantes do espaço neste dia fatídico, sofremos este furto, que está sendo um verdadeiro baque financeiro e emocional", diz uma nota do Magiluth, em nota nas redes sociais.
"Foi um prejuízo grande. Ainda não fizemos o cálculo, mas acreditamos que tenha sido algo em torno de R$ 30 mil”, disse ator Giordano Castro ao JC. Ele integra o grupo junto a Lucas Torres, Bruno Parmera, Pedro Wagner, Mário Sergio Cabral e Erivaldo Oliveira.
"Tivemos de cancelar as sessões. Conseguimos remanejá-las com o público para um outro dia. Estamos nessa correria para ver quando é que a gente começa a repor o nosso material. Se formos parar por conta disso, vamos parar de ter dinheiro em caixa. O que pedimos agora é ajuda para que todo mundo divulgue a agenda", continua. O grupo acredita que a temporada extra será realizada de 12 a 17 de setembro.
Instalado em um antigo casarão do século 19, o Mamam possui sete salas de exposição, biblioteca especializada em arte moderna e contemporânea, reserva técnica, sala de atividades educativas, sala de administração e auditório. Todo esse conteúdo também poderia acabar sendo de possíveis invasores.
"Toda a equipe do MAMAM tem nos dado todo o apoio, como foi em todo o tempo, desde quando a gente estreou esse trabalho aqui, até para abrir as portas para essas temporadas. Não temos o que dizer da equipe, nem gostaríamos que algum deles fosse punido. O problema é a insegurança e esse 'estado' da Prefeitura, pois o Magiluth foi furtado, mas o MAMAM foi invadido", disse Giordano.
O artista aproveitou para comentar sobre o estado de outros equipamentos públicos gerenciados pelo poder público. Ele cita que o monólogo "Quaresma", do coletivo OPTE (Operários de Teatro), dirigido por Alexsandro Souto Maior, teve de ter a temporada cancelada no último final de semana por problemas estruturais do Teatro Apolo, no Bairro do Recife.
"No Barreto Júnior, no começo do ano, teve espetáculo cancelado porque a parte técnica entrou em curto circuito. O Arraial, na Aurora, está fechado há anos. O Hermilo está fechado para obra. Até mesmo o Santa Isabel, que é uma casa modelo, tem sido terrível para shows. A gente fica festejando a reabertura do Teatro do Parque, que demorou 10 anos em reforma, mas o resto está à míngua." "Apenas o Fim do Mundo" é um texto do francês Jean-Luc Lagarce, acompanhando um personagem chamado Louis que retorna à sua família para anunciar uma doença terminal (a AIDS). O autor escreveu a peça em 1990, quando considerava a sua própria morte.
A montagem do Magiluth tem uma estrutura de tempo não linear, com direção de Giovana Soar, que também é a tradutora do texto, e Luiz Fernando Marques (Lubi), do Grupo XIX de Teatro. O grupo montou essa peça quando estava completando 15 anos, em um momento de rever a própria trajetória.
A peça estreou em 2019, no Sesc Avenida Paulista, em São Paulo, conquistando público e crítica, com indicações a prêmios como Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCA), Shell e Aplauso Brasil.
No Recife, o projeto estreou com temporada de sucesso no MAMAM e, quando chegou o momento de ampliar a circulação nacional, veio a pandemia. "Retomar esse espetáculo era quase como uma dívida em prol do nosso trabalho. É como devolver o fôlego que deveria ter. Sempre tivemos muita vontade de retomá-lo, por ser um trabalho que não necessita de uma espacialidade específica", disse Giordano Castro, ao JC, em agosto deste ano.
Com relação ao roubo registrado no sábado (2), no MAMAM, a Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife informaram em nota que "lamentam profundamente o ocorrido, estão adotando todas as providências cabíveis, junto às autoridades policiais, para apurar responsabilidades".
"Além de recorrer às imagens de câmeras de segurança instaladas nas redondezas, já solicitamos inventário à Guarda Municipal e ao Grupo, no tocante aos bens, permitindo a reparação dos prejuízos", finaliza.
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