TEATRO

Teatro Valdemar de Oliveira: Herdeiros não possuem interesse no tombamento do prédio

Diretoria do Teatro de Amadores de Pernambuco, responsável pelo equipamento, argumenta que o processo implica um "ônus burocrático que pode prejudicar as tratativas em curso e retardar a almejada recuperação e reabertura"

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Emannuel Bento

Publicado em 26/09/2023 às 15:44 | Atualizado em 26/09/2023 às 18:20
Teatro Valdemar de Oliveira, no Centro do Recife, totalmente destruído
Teatro Valdemar de Oliveira, no Centro do Recife, totalmente destruído - BRUNO PARMERA/CORTESIA

A diretoria do Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, responsável por gerir o Teatro Valdemar de Oliveira, localizado no Centro do Recife, rompeu o silêncio acerca da situação do espaço em uma nota divulgada nesta terça-feira (26). Uma manifestação contra o abandono do equipamento cultural está marcada na Praça Oswaldo Cruz, na Boa Vista, nesta quarta (27), às 10h.

Entre os vários assuntos tratados no comunicado está o processo de tombamento do teatro, publicado no Diário Oficial do Estado na última sexta-feira (22). O TAP informou que "não tem interesse no tombamento nesse momento de busca de alternativas".

De acordo com a nota, "o processo implica um ônus burocrático que pode prejudicar as tratativas em curso e retardar a almejada recuperação e reabertura do Teatro Valdemar de Oliveira".

Ao JC, o diretor adjunto Carlos Alberto informou que o TAP ainda não foi formalmente chamado para conhecer o teor do processo que foi publicado no Diário Oficial. "Não conheço o pedido originário para me pronunciar. Contudo, sinto que a população de maneira geral enxerga o tombamento como o melhor caminho. Mas, nem sempre é o melhor caminho", disse.

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"Existem alternativas que estão sendo buscadas. O tombamento não é a única saída como alguns imaginam. Esse é um processo dispendioso e muitas vezes, dada a burocracia, deixa a instituição impedida de pôr em prática outras iniciativas por certas limitações."

O ofício de solicitação do tombamento foi entregue à Secult-PE/Fundarpe pelo Grupo João Teimoso e o Movimento Guerrilha Cultural. Oséas Borba, do Grupo João Teimoso, ressaltou em recente reportagem do JC que o tombamento é importante pelos possíveis interesses econômicos no terreno.

"Tem uma construtora que comprou uma casa ao lado. O nosso medo era de que essa construtora quisesse comprar o teatro de derrubá-lo. O pedido de tombo iria proibir isso", diz.

Em nota, o Grupo João Teimoso e o Movimento Guerrilha Cultural informou que "está em defesa do prédio e não dos seus proprietários, que parecem já ter jogado a toalha, inclusive esquecendo toda história grandiosa do seu fundador". "Acreditamos na luta pela democratização da nossa cultura, por mais espaços e pela memória do nosso povo", finaliza a nota.

Inaugurado em 1971 para ser sede do TAP, o Teatro Valdemar de Oliveira é um dos espaços teatrais mais tradicionais da capital pernambucana. Reinaldo de Oliveira, que encabeçou a administração do espaço por décadas, faleceu em 2022.

Na nota, a direção do TAP reforçou que continua, junto com os Associados, na "busca de alternativas que garantam a recuperação desse verdadeiro patrimônio cultural do nosso Estado, alternativas que poderão envolver a participação de instituições públicas ou privadas dispostas manter o propósito fundamental do Teatro Valdemar de Oliveira como espaço artístico e cultural".

Manifestação

Sobre o "Movimento em Defesa do Teatro Valdemar de Oliveira", marcado para a quarta-feira (27), os associados e Diretoria do TAP informaram que "reconhecem e agradecem as incontáveis manifestações de solidariedade e a mobilização da sociedade em defesa do Teatro".

"Consciente da importância histórica do TAP para o teatro pernambucano e brasileiro, a Diretoria reafirma a sua mais completa fidelidade à visão dos fundadores e aos valores e ideais que sempre nortearam a conduta da associação como instituição privada de interesse público, dedicada exclusivamente à valorização da arte, da cultura e do teatro de Pernambuco", finaliza.

Degradação

Teatro Valdemar de Oliveira, no Centro do Recife, totalmente destruído - BRUNO PARMERA/CORTESIA
Teatro Valdemar de Oliveira, no Centro do Recife, totalmente destruído - BRUNO PARMERA/CORTESIA
Teatro Valdemar de Oliveira, no Centro do Recife, totalmente destruído - BRUNO PARMERA/CORTESIA

A nota também aproveita para explicar como o teatro chegou à atual situação. Imagens recentes chocaram a população ao mostrar o espaço com o teto caído, sem poltronas e demais detalhes da estrutura.

"Em meio à triste tragédia da pandemia, o grupo dos amigos e associados não desanimou, organizando espetáculos e eventos virtuais, tentando manter assim o esforço de captação de recursos para a manutenção do Teatro”, diz.

"Contudo, à tragédia sanitária veio somar-se a nossa tragédia social: as invasões, arrombamentos, furtos, depredações tornaram-se constantes e avassaladores. Os inúmeros boletins de ocorrência, as reuniões com autoridades, apelos públicos, instalação de câmeras e sistema de vigilância, nada conseguiu deter esse doloroso e desesperador processo."

"Foram roubadas da fiação elétrica às gambiarras e refletores; dos equipamentos de som ao sistema de refrigeração. Salvos o piano de cauda, graças ao Conservatório Pernambucano de Música, e o acervo histórico e documental que, em grande parte, foi abrigado em local livre das intempéries".

Leia a nota na íntegra:

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