Saúde & Bem-estar

Por que parar para se ouvir pode te levar mais longe na vida

Quando cultivamos um espaço seguro dentro de nós, podemos florescer de maneira mais genuína e oferecer o nosso melhor ao mundo

Cadastrado por

Thiago Freire

Publicado em 22/08/2024 às 8:42
Imagem de jovem feliz e com sensação de liberdade - Freepik

A busca pela reconexão consigo mesmo é cada vez mais urgente em um mundo que nos arrasta em uma rotina frenética e superlotada de estímulos digitais.

A necessidade de estar sempre disponível, corresponder às expectativas sociais e alcançar metas incessantes pode nos afastar de nossa essência, levando à perda de sentido e ao esgotamento.

Nesse cenário, encontrar um caminho de volta ao nosso "eu primordial" torna-se essencial para preservar nossa saúde mental, física e emocional.

A atriz Isabel Teixeira, por exemplo, encontrou na solitude criativa o seu refúgio pessoal e uma forma de reabastecer sua energia interna.

Mas como podemos fazer o mesmo em nossas vidas cotidianas? Vamos explorar como a reconexão interna pode ser um poderoso antídoto contra a desconexão e o cansaço da vida moderna.

O quarto primordial

Durante as férias de julho de 1989, a então adolescente Isabel Teixeira passou um mês inteiro sem sair de casa. O que poderia parecer um cenário monótono tornou-se uma experiência transformadora para a atriz, que construiu o que ela chama de "quarto primordial": um espaço seguro e confortável dentro de si mesma, onde ela pode se recolher e se fortalecer.

'A casa é o lugar onde nos acolhemos. Isso dá muita força de modo a ir para o mundo", reflete Isabel. Esse espaço interno continua sendo uma fonte de equilíbrio para a atriz, que regularmente faz retiros em casa para reenergizar sua criatividade e se reconectar com sua essência.

A experiência de Isabel destaca a importância de regressar a esse espaço interior sempre que perdemos o rumo de nós mesmos.

Em meio à pressa cotidiana e à constante pressão de corresponder às expectativas externas, o fio que nos leva de volta a quem realmente somos tende a se romper. Mas como podemos restaurar essa conexão? A resposta está em adotar práticas que favoreçam o autoconhecimento e a autoconsciência.

A natureza é a guardiã do caminho para a reconexão (Imagem: GoodStudio | Shutterstock)

O impacto da tecnologia

Vivemos em um mundo onde a tecnologia se torna tanto uma aliada quanto uma inimiga da nossa saúde mental. Para a jornalista Daniela Arrais, sócia da plataforma Contente, o esgotamento causado pela tentativa de dar conta de tudo e o medo constante do futuro são gatilhos que nos afastam de nós mesmos.

"Precisamos nos conectar com o que dói, inclusive para entender como é que eu cuido de mim e, depois, do outro e do mundo", observa Daniela.

Uma forma eficaz de retomar essa conexão é realizar um detox digital, impondo limites no uso do celular e das redes sociais.

Praticar a desconexão em momentos específicos, como ao acordar, antes de dormir ou durante reuniões importantes, pode ajudar a sintonizar-se novamente com seus próprios pensamentos e emoções.

Manter a conexão interna em um mundo hiperconectado

Mesmo no ambiente digital, é possível manter a conexão consigo. Daniela sugere usar a internet como uma ferramenta para se observar emocionalmente. Quando sentimos inveja ao ver a conquista de alguém, por exemplo, essa reação pode sinalizar uma necessidade interna não atendida.

Com essa percepção, é mais fácil tomar decisões conscientes e evitar que a vida se torne uma competição constante. Além disso, a prática de registrar pequenos momentos positivos do dia, como em um diário de gratidão, pode fortalecer o olhar para dentro e alimentar o autorreconhecimento.

A prática de meditação ajuda a juntar os nossos pedaços internos (Imagem: Drawlab19 | Shutterstock)

O retorno à natureza

A desconexão entre corpo e mente, um fenômeno exacerbado pelo racionalismo moderno, levou o ser humano a se distanciar de seu próprio mundo interno.

Segundo a psicóloga e terapeuta ayurvédica Mônica Machado, a ruptura com a natureza e o foco excessivo na tecnologia têm nos afastado dos ciclos naturais que antes guiavam nossas vidas.

“Deixamos de priorizar a conexão com o universo e aceitamos a ruptura com a natureza”, ela explica.

A reconexão com a natureza, seja por meio de caminhadas ao ar livre ou simplesmente observando os ritmos naturais, é fundamental para relembrarmos nossa própria humanidade.

O filósofo indígena Gersem Baniwa reforça essa ideia, destacando que o ser humano precisa resgatar o sentimento de pertencimento à Terra, reconhecendo nossas limitações e a importância de cuidar do planeta como nossa única casa.

Pausa e auto-observação: o ciclo natural da vida

Elisama Santos, comunicadora e especialista em saúde mental, compara o ciclo de vida das árvores ao nosso próprio ciclo de crescimento e recolhimento.

"Querer estar o tempo inteiro só nas flores, esplendorosos, é muito cruel conosco porque nós somos natureza e temos ciclos como todos os seres", comenta.

O desafio, segundo ela, é integrar momentos de expansão e introspecção de maneira consciente, respeitando nossos ritmos naturais.

Para isso, práticas de pausa e auto-observação são essenciais. Como exemplifica Elisama, é preciso desacelerar intencionalmente para perceber em que velocidade estamos conduzindo nossa vida e avaliar se esse ritmo é realmente sustentável.

"Quando nos damos o devido valor e atenção, a gente consegue se oferecer de forma genuína", conclui.

A importância de pertencer e se valorizar

A reconexão consigo não implica necessariamente em isolamento. Pelo contrário, ao fortalecer nosso vínculo interno, podemos agir com mais empatia e compaixão em nossas relações.

Rita Araújo, terapeuta energética, enfatiza que voltar-se para si mesmo requer o desapego de padrões internos que ecoam as pressões externas.

Esse processo de autodescoberta nos dá a força necessária para nos reerguer e seguir adiante com mais autenticidade e propósito.

Reconectar-se é resgatar a essência

A reconexão com nosso eu interior não se trata apenas de buscar momentos de paz e introspecção, mas de reencontrar a essência que nos guia em direção ao futuro.

Nas palavras do advogado e antropólogo indígena Almires Machado, "é através da ancestralidade que nos reconectamos com nossos símbolos, nossa identidade e valores fundamentais".

Esse retorno às raízes fortalece tanto a nós quanto a nossa capacidade de contribuir para um mundo mais equilibrado.

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