Começam a faltar máscaras descartáveis e álcool em gel nas farmácias do Centro do Recife

Reportagem do JC percorreu oito farmácias do Bairro da Boa Vista e nenhuma tinha máscaras descartáveis para vender. Apenas uma dispunha de álcool gel a R$ 20 a embalagem de 430 g
Edilson Vieira
Publicado em 09/03/2020 às 18:44
Ozivania Alves está sem álcool gel e máscaras descartáveis para vender a mais de uma semana Foto: LEO MOTTA/JC IMAGEM


“Não temos máscaras descartáveis e nem álcool gel. E nem previsão de chegada”. Esta foi a frase mais ouvida pela reportagem do JC depois de percorrer farmácias do Centro do Recife. Os dois artigos mais procurados nesta época de epidemia de coronavírus praticamente desapareceram do comércio.

Malhane dos Santos, gerente de uma farmácia na Rua 7 de Setembro, na Boa Vista, diz que a procura por álcool gel cresceu uns 200% desde o mês passado, quando apareceram os primeiros casos suspeitos da doença no Recife. “Na quinta-feira da semana passada recebemos cerca de 300 unidades de álcool gel de 500 ml cada. No dia seguinte já haviam comprado tudo”, diz Malhane. Ela reconhece que muita gente leva o produto em grande quantidade “possivelmente para fazer estoque ou revender”, admite a gerente.

Em oito farmácias visitadas pela reportagem do JC apenas uma, na Avenida Conde da Boa Vista, tinha o álcool gel para venda por R$ 20 a embalagem de 430 g. Não havia, no entanto, nenhuma máscara descartável à venda. Não tivemos autorização para fazer entrevistas no local.

CORONAVÍRUS

O gerente de outra farmácia, na mesma avenida, Leonardo Paiva, diz que outros produtos como a Vitamina C e o lenço de papel também tiveram aumento na procura. Mas nada é comparado a “correria” pelas máscaras e o álcool gel.

“A grande procura pelo álcool eu ainda entendo, porque é uma questão de higiene, mas a máscara tem um uso muito limitado, só deveria ser usado por quem está doente ou trabalha na área de saúde, mesmo assim o pessoal vem aqui e compra tudo”, afirmou Leonardo. Nesta farmácia, o preço do álcool gel na embalagem de 500 ml, a mais procurada, é de R$ 12. Já o valor das máscaras nem consta mais no sistema de vendas. “Estava variando muito”, diz o gerente.

O preço descontrolado é confirmado por outra gerente de farmácia na Boa Vista, Ozivania Alves. “As distribuidoras não têm mais máscaras para vender e, quando têm, chegam muito caras”, diz Ozivania. Ela relata que uma caixa com 50 máscaras descartáveis custava R$ 9,50 antes da epidemia. Recentemente o preço chegou a R$ 23.

Eldon Machado, gerente de produção de uma fábrica de roupas descartáveis localizada no Bairro do Vasco da Gama, Zona Oeste do Recife, é um dos poucos fabricantes locais de máscaras cirúrgicas, também utilizadas para conter o coronavírus. Desde o início do mês passado ele viu a demanda pelo produto se agigantar. “Dobramos a produção em 100%. Hoje produzimos mais de 1 milhão de máscaras por mês e não damos conta da demanda”.

Eldon diz que chegou a receber pedidos de até 30 milhões de máscaras. Mas, se a produção aumentou, por que não está chegando até as farmácias? “Priorizamos os serviços médicos como hospitais e clínicas. Mas o fato é que agora o mercado virou. Muitas distribuidoras brasileiras de produtos médicos descartáveis importavam material da China. Agora é o Brasil que está vendendo para a China”, diz Eldon, tentando explicar o desabastecimento local.

Para a gerente de fiscalização do Procon-PE, Danyelle Sena, os comerciantes deveriam limitar o número de produtos vendidos para cada cliente. “Segundo o Código de Defesa do Consumidor, a limitação da venda é permitida em caso de calamidade ou emergência. Estamos vivendo algo parecido, o medo da contaminação aumentou a demanda, então, restringir a venda em grande quantidade por consumidor, iria permitir que mais pessoas fossem beneficiadas”, argumenta Danyelle Sena.

A presidente do Procon Recife, Ana Paula Jardim afirmou que o órgão municipal chegou a receber denúncias de profissionais de saúde, como médicos e veterinários, sobre a falta de máscaras descartáveis e o preço abusivo do produto em algumas lojas do Recife. “Não conseguimos comprovar a denúncia porque praticamente não havia o produto a venda, mas solicitamos as notas fiscais emitidas nos últimos três meses para acompanharmos a evolução dos preços”, diz Ana Paula Jardim.

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