Com o fechamento do comércio ou restrição ao funcionamento dos estabelecimentos comerciais em algumas cidades do país devido à pandemia do novo coronavírus, a opção para bares e restaurantes manterem pelo menos parte das operações é a entrega de comida (delivery).
No Distrito Federal, empresários do ramo de bares e restaurantes negociaram com o governo local a permissão para o funcionamento dos estabelecimentos para a entrega de comida em domicílio. Na última quinta-feira (19), o governador do DF, Ibaneis Rocha, determinou o fechamento de estabelecimentos comerciais, de qualquer natureza, inclusive bares, restaurantes e lojas de conveniências, mas manteve as operações de delivery.
“A gente conseguiu colocar no decreto [o funcionamento do delivery de bares e restaurantes] até porque boa parte da população precisa desse serviço”, disse o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar-DF), Jael Antônio da Silva. Segundo ele, houve uma redução das equipes dos restaurantes uma vez que não podem ficar abertos ao público.
Silva informou que a convenção coletiva de trabalho foi antecipada para que empregados do setor entrem de férias, com pagamento parcelado ou 30 dias depois. “É uma garantia para empresário e empregados para tentar mantê-los com emprego e tentando evitar desembolso pelos empresários. A medida será válida mesmo para quem ainda não tem direito a férias”, afirmou.
De acordo com Silva, a estimativa é que o DF reúna cerca de 2,5 mil restaurantes que fazem entrega de comida por meio de aplicativos.
O aplicativo iFood criou a opção de ‘Entrega sem Contato’ que pode ser escolhida no momento de realização do pedido. Para que isso aconteça, os pagamentos deverão ser efetuados online, pelo app. Na sequência, o entregador responsável pela rota será avisado e terá acesso às orientações enviadas pelo cliente para que possa concluir a entrega sem interação. O chat entre entregadores e consumidores, já disponível anteriormente, pode ser utilizado ainda como ferramenta para combinar detalhes das entregas, passando a permitir o envio de fotos para facilitar a comunicação.
Pelo Uber Eats, nas instruções de entrega, o consumidor pode colocar a observação de que quer que a comida fique na porta ou na portaria, por exemplo. No caso da Rappi e da 99Food, é possível fazer a observação pelo chat.
Com pagamento feito pelo aplicativo e com essa observação, não será necessário manusear a máquina de pagamento e ter contato com o entregador.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) orienta os estabelecimentos comerciais a oferecer o pagamento on line sempre que possível. Caso o pagamento seja em dinheiro, o troco deve ser colocado dentro de um saquinho. E as maquininhas podem ser envelopadas com filme plástico a cada uso. No site da Abrasel, há um guia com informações sobre os cuidados para os restaurantes e entregadores.
A iFood informou que criou um fundo solidário no valor de R$ 1 milhão para pagar entregadores que comprovem estar com Covid-19. O entregador receberá do fundo um valor baseado na média dos seus repasses nos últimos 30 dias, proporcional aos 14 dias de quarentena. A 99Food passou a fornecer kits de prevenção (máscaras e álcool em gel) e orientações para entregas sem contato e também criou um fundo de suporte de US$ 10 milhões. A Uber Eats adotou medida semelhante, oferecendo auxílio de 14 dias para entregadores diagnosticados com Covid-19.
Apesar de a prefeitura da capital paulista ter mantido a autorização para funcionamento de restaurantes e lanchonetes neste fim de semana, o movimento nos estabelecimentos da região central caiu visivelmente. Para manterem as portas abertas, os estabelecimentos tinham que atender novas exigências, como disponibilizar álcool em gel para higienização dos clientes e garantir um espaço de ao menos um metro entre as mesas.
Localizado no centro de São Paulo, o restaurante de inspiração vietnamita Bia Hoi seguiu as determinações da prefeitura. Porém, segundo a proprietária, Dani Borges, o movimento presencial caiu 95% na última semana. As entregas, que equivalem a cerca de 20% do fluxo, também diminuíram para a metade de antes da epidemia.
“Essa semana eu já estou com a equipe reduzida a um terço. Os empregados estão tirando folgas e banco de horas. E, agora, eu estou estudando, com o contador e com o setor de pessoal, que medidas a gente pode adotar a partir da semana que vem”, disse Dani, na última sexta-feira (20), sobre as incertezas quanto ao futuro do empreendimento.
Neste sábado (21), o governo de São Paulo decretou quarentena para todos os serviços não essenciais no estado a partir da próxima terça-feira (24) por causa do coronavírus. A medida terá validade de 15 dias e poderá ser prorrogada.
Para tentar contornar a crise, o restaurante está apostando na venda de créditos antecipados. O cliente paga um preço agora e tem direito a consumir um valor mais generoso ao retirar a refeição em maio ou junho, quando a proprietária espera que a situação tenha voltado ao normal. A ideia é baseada em uma experiência semelhante promovida por um aplicativo em São Francisco, nos Estados Unidos, para dar apoio a empreendimentos em dificuldades. “Nós temos uma clientela bem fiel. A gente colocou essa campanha no final da tarde de quinta-feira e temos recebido bastante contatos desde então”, diz.
A situação é um pouco melhor na rede de franquias Mr. Fit. Segundo a proprietária, Camila Miglhorini, os pedidos de entrega, que representam 50% no faturamento das 134 lojas espalhadas pelo país ficou estável na primeira semana de restrições ao comércio e serviços. “A gente acredita que nós próximos dias vai ter um aumento, porque as pessoas vão estar trabalhando de casa, elas não vão ter tempo de ficar cozinhando”, estima sobre o crescimento que, acredita, pode chegar a 40%.
Com o objetivo de atrair clientes, Camila explica que a franquia tem investido em ações para que os consumidores se sintam seguros, como a entrega sem contato físico, disponível em alguns aplicativos. “O cliente vai pagar online e o entregador vai combinar o local para deixar”, diz sobre o funcionamento do serviço.
Além disso, há um trabalho para divulgar as medidas que a rede está tomando para garantir a segurança dos pedidos em tempos de pandemia. “A gente está trabalhando muito isso nas mídias para mostrar para o cliente que a gente está cuidando da comida dele, que ele não vai ser infectado”, enfatiza.
Na capital fluminense, o governo estadual transformou em determinação a recomendação de atender com apenas 30% da capacidade de mesas, em um decreto publicado na noite de quinta-feira. A restrição vale para bares, restaurantes e lanchonetes. O decreto permite que os serviços de delivery e os pedidos de comida para viagem funcionem normalmente.
O presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes do Município do Rio de Janeiro, Fernando Blower, conta que muitos empresários decidiram fechar totalmente os estabelecimentos, por avaliarem que o funcionamento nesses termos não paga os custos de operação.
"O delivery não é a solução do problema, é um paliativo. As únicas empresas que conseguem se manter são aquelas que já nasceram exclusivamente para delivery", afirma Blower, que pede apoio governamental aos empresários e trabalhadores do setor para evitar falências e fechamento de postos de trabalho.