Com recuo de 11,7 pontos, Confiança do Comércio registra maior queda desde 2010

Pandemia do coronavírus é apontado como principal fator para a queda do índice de confiança do empresário do comércio
Marília Banholzer
Publicado em 25/03/2020 às 17:01
Estado prepara protocolo para flexibilização das atividades econômicas Foto: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM


O empresário brasileiro do comércio está menos otimista. O Índice de Confiança do Comércio (ICOM), da Fundação Getúlio Vargas, caiu 11,7 pontos em março, passando de 99,8 para 88,1. Esta foi a maior queda em toda a série iniciada em abril de 2010. Antes desse resultado, o pior índice registrado foi em fevereiro de 2015, quando a queda foi de 6,6 pontos. 

Em Pernambuco a queda foi menor, segundo levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio). A redução local foi de 2,2 pontos, saindo de 126,1 para 123,9, o que mostra uma variação mensal negativa de -1,8%. Este foi o primeiro recuo da confiança após sete altas consecutivas.

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De acordo com o coordenador da Sondagem do Comércio da FGV IBRE, Rodolpho Tobler, a pandemia do coronavírus é o principal motivo para deixar o empresário pessimista em todos os seis segmentos do setor. Além disto, a alta do dólar e a crise do petróleo, com as disputas entre Arábia Saudita e Rússia, também influenciaram os resultado do levantamento que foi realizado entre os dias 2 e 20 deste mês.

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM - Em Pernambuco com comércio foi fechado como forma de combate à disseminação do coronavírus

"A queda da confiança do comércio em março é um primeiro sinal do impacto da pandemia de coronavírus no setor. A forte queda foi decorrente da revisão de expectativas por parte dos empresários, que se mostram preocupados com o rumo dos negócios nos próximos meses", avalia Tobler.

Por outro lado, alguns segmentos, como hiper e supermercados e artigos farmacêuticos, mostram bons resultados, mesmo que tímidos. "O comércio de produtos de primeira necessidade não deve sofrer tanto com neste momento de pandemia, pelo contrário, já que muitas pessoas estão correndo para fazer estoques de alimentos e medicamentos", diz Tobler.

Expectativa é de novas retrações

A perspectiva para o setor em geral, no entanto, é de que no curto prazo haja uma redução ainda maior no ritmo de vendas já que não se sabe quanto tempo vão durar os impactos da pandemia. O fechamento do comércio em alguns Estado, como acontece em Pernambuco, é apontado como um dos principais fatores para a essa queda.

De acordo com o economista da Fecomércio, Rafael Ramos, os próximos meses devem mostrar retrações ainda maiores na confiança do setor no Estado. Segundo a federação, é esperado uma confiança ainda acima de 100 pontos, refletindo as políticas anunciadas recentemente, mas com números em tendência de queda, podendo atingir a zona de avaliação negativa em maio de 2020.

"A realidade de cada empreendedor é que vai determinar como o setor vai se comportar daqui para frente, de quanto eles conseguem se manter num período praticamente sem demanda. Já se trabalha com a recessão a recessão do PIB nacional e também deve ser refletir nos PIBs estaduais. Esse ano de 2020 deve ficar marcado por esse choque de oferta significativo", avalia Ramos.

O coordenador da FGV IBRE pontuou ainda que a confiança vinha crescendo desde o segundo semestre de 2019, quando houve uma maior injeção de dinheiro na economia, o que acabou sendo revertido para o consumo. Para este momento de pandemia, com isolamento da população e fechamento de lojas, uma saída tem sido apostar em delivery ou no e-commerce. "Os empresários estão tendo que buscar alternativas, mas se a crise do coronavírus afetar a renda do trabalhador, ele dará preferência em consumir bens de primeira necessidade, independente das estratégias criadas pelos outros segmentos do comércio", analisa Rodolpho Tobler.

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM - Empresários estão buscando alternativas para driblar a queda no comércio

A pesquisa da FGV mostra ainda que a forte redução do mês foi influenciada tanto pela deterioração das expectativas em relação as vendas e como a tendência dos negócios nos próximos meses em todos os segmentos. A retração mais forte aconteceu no comércio de veículos e móveis e eletrodomésticos.

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