Consumidores de todo país, desde grande porte até clientes residenciais, devem arcar com maior parte dos custos da crise do novo coronavírus no setor elétrico. O impacto na tarifa vai depender de vários fatores, mas números iniciais, calculados pela associação dos grandes consumidores de energia (Abrace) e endossado por mais de 50 outras entidades, apontam uma alta de 20% nas contas de luz, a ser diluída ao longo de alguns anos.
A inadimplência tem atingido índices entre 10% e 12%, chegando a 20% em algumas localidades. Sem receber pagamentos, as empresas de energia não conseguem honrar suas despesas com transmissoras, geradores e até mesmo com o governo, que recebe encargos e impostos.
O governo ainda está finalizando a forma como será feito o socorro ao setor elétrico, depois de integrantes do próprio Executivo e da Agência Nacional de Energia Elétrica rechaçarem incluir todo o custo do empréstimo bilionário, chamado de Conta-Covid, na tarifa.
O empréstimo é negociado com intenção de ajudar o setor elétrico a enfrentar os efeitos da pandemia. Segundo a secretária executiva do Ministério de Minas e Energia, Marisete Pereira, o financiamento, cujos valores são estimados em R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões, poderá diluir, em até cinco anos, o peso de itens que vão onerar as tarifas de energia dos consumidores.
"Só vamos fazer o empréstimo após uma avaliação que considere se essa opção, para o consumidor, é melhor do que um reajuste de duas casas decimais", afirmou, em entrevista.
A conta de luz é composta por diversos itens, como geração, transmissão, distribuição, encargos e tributos. Desses, três devem contribuir com um aumento de 7% nos próximos meses. "Isso tem nos preocupado muito. Quase 60% da população foi afetada pela crise. Não há a menor condição ou ambiente para fazer isso "
Um dos componentes que vão aumentar é a tarifa de Itaipu, que é cotada em dólar. No ano passado, ela foi precificada considerando uma cotação média de R$ 3,94, e agora, o dólar subiu a R$ 5,24. "Só isso já aumenta a conta em 2% ou 3%", alertou a secretária executiva.
Marisete lembra também que as tarifas das transmissoras serão reajustadas a partir de julho. Além disso, as contas de luz vão ter de incluir a parcela para bancar subsídios e descontos tarifários, estimados em R$ 22 bilhões neste ano.
Como a pandemia afeta diretamente a renda dos trabalhadores, seja por redução de salários, seja por demissões, a ideia do governo é intermediar um empréstimo com um consórcio de bancos públicos e privados para que os recursos sejam pagos para as distribuidoras, evitando um reajuste neste ano.