Com lojas fechadas, comerciantes transformam celular em ferramenta de venda

Empreendedores estão aderindo às videochamadas para apresentar seus produtos e vendê-los
Marcelo Aprígio
Publicado em 06/05/2020 às 18:47
O Aplicativo Anatel Consumidor foi lançado nesta quinta-feira (23) Foto: Foto: Pixabay


Com lojas fechadas como medida de prevenção ao novo coronavírus (covid-19), comerciantes passaram a apostar no e-commerce e usam o próprio celular para chegar aos clientes e aumentar as vendas. A ideia é simples e funcional: os lojistas estão aderindo às videochamadas para apresentar seus produtos e vendê-los.

» Com coronavírus, comércio pela internet ganha ao menos 4 milhões de novos clientes

É o caso do microempresário Carlos Guedes, 59 anos. Dono de uma pequena loja de colchões no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife, ele tem usado o recurso para conversar com consumidores e demonstrar os benefícios dos produtos que comercializa. “A gente marca um horário e saio caminhando pela loja para apresentar os colchões”, diz ele, lembrando que, inicialmente, sua ideia era apenas publicar fotos nas redes sociais.

A pandemia impulsionou a artesã Celênia Souza, 60, a chegar ao mundo virtual para vender seus serviços. No ramo há mais de 40 anos, ela usa as chamadas de vídeo do WhatsApp para mostrar aos clientes os vasos feitos com materiais recicláveis e arranjos de flores que confecciona. Além disso, a profissional expandiu seus negócios e passou a costurar máscaras caseiras para proteção contra a covid-19. “Com esse problema todo que estamos enfrentando, muita gente tem procurado as máscaras, e eu uso o WhatsApp para mostrar os modelos que tenho”, afirma ela.

O uso do celular também foi abraçado pelas lojas de roupas, prateleiras de blusas, vestidos e calças são expostas para os clientes que escolhem modelos, cores e tamanhos conversando com os vendedores e tirando as dúvidas virtualmente. Criado por três mulheres, o Brechó da Torre tem usado não apenas o WhatsApp, mas também o Instagram para mostrar as peças que vende. "Nós temos entrado em contato com as nossas clientes diariamente enviando fotos e vídeos das roupas e tirando dúvidas na hora", conta Amanda Nunes, 31, uma das proprietárias do estabelecimento, ao lado das amigas Bruna Leal e Amanda Nunes.

4 milhões de novos clientes virtuais

Estes empreendedores seguem uma tendência vista em todo o Brasil, onde o comércio eletrônico se tornou alternativa para muita gente durante a pandemia, e ao menos 4 milhões de novos clientes chegaram ao e-commerce, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm). Os dados da instituição mostram ainda que, impedidos de sair às ruas, os consumidores compraram 30% mais na internet em abril na comparação com março.

A entidade estima que 80 mil novas lojas online tenham sido lançadas desde março, enquanto o número de clientes com ao menos uma compra pela internet cresceu em quase 1 milhão. Com isso, a receita do setor cresceu em torno de 42% durante o surto da doença, na comparação com o mesmo período do ano passado, no intervalo de 17 de março a 14 de abril.A tendência fortalece as plataformas de gigantes do comércio online, mas acentua a crise enfrentada pelo varejo físico.

Até os mais resistentes às novas tecnologias estão se adaptando a este novo tempo. Segundo a Ebit Nielsen, empresa que faz mensuração e análise de dados, 31% dos consumidores do e-commerce brasileiro fizeram sua primeira compra durante a quarentena. Para o presidente da Abcomm, Maurício Salvador, o setor vai sair da crise com mais pessoas comprando pela internet. “Muitas passaram a fazer isso pela primeira vez devido ao isolamento e perderam o medo”, aponta ele, segundo quem, parte considerável do impulso vem de pequenos empreendedores que nunca pensaram em vender na rede.

De olho nisso e conhecendo a inviabilidade de se criar uma plataforma em tão pouco tempo, as grandes varejistas, cujo faturamento hoje depende 100% do online, apostaram nos chamados marketplaces. Neles, pequenos lojistas podem vender sem ter que investir em frete e infraestrutura. A Magazine Luiza, que está com mais mil lojas fechadas, cobra uma comissão por venda. Desde que anunciou o programa Parceiro Magalu, em 31 de março, 16 mil empresas entraram. A B2W, controlada pelas Americanas, fez o mesmo, seguindo o objetivo de receber comissão do pequeno para ganhar mais capilaridade no longo prazo.

Segundo César Rissete, gerente de competitividade do Sebrae Nacional, o plano é “acelerar” 100 mil empresas com parcerias similares. Segundo ele, em 2018, só 27% das pequenas tinham página na internet, e as vendas on-line, eram mais raras. “Agora a tendência veio para ficar”, crava ele.

A ViaVarejo - dona das Casas Bahia, Extra.com e Ponto Frio -, depois de uma operação positiva na Black Friday, tenta ganhar mais relevância digital e colocou cerca de 20 mil vendedores, impedidos de ir às lojas, para vender no WhatsApp. Segundo a empresa, a abordagem é realizada por telefone ou por intermédio da rede social, dado que todas as lojas já possuem suas páginas no Facebook, utilizando o formato ClickToWhatsApp.

A Samsung também reforçou sua atuação na área digital em parceria com grandes redes de varejo. A empresa criou uma página chamada “Conecte-se à sua casa” e, para elevar as vendas, desenvolveu uma série de ações promocionais, com descontos de até R$ 2 mil na compra de itens como televisores, geladeira, lava e seca e ar-condicionado. Ao escolher os produtos, o cliente é direcionado para o e-commerce de uma das redes varejistas que participam da ação com a companhia.

Na rede Riachuelo, com as lojas fechadas, o comércio eletrônico se tornou o principal canal de vendas. Os pedidos pela rede triplicaram com a pandemia, segundo o diretor de Marketing da empresa, Elio Silva. Entre março e abril, o aplicativo da rede já foi baixado mais de 730 mil vezes.”Na quarentena, triplicamos as vendas”, afirma ela, frisando que, além disso, a varejista está com outras soluções, como venda por WhatsApp e drive-thru em algumas lojas, especialmente para o próximo domingo (10).

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