Após encerrar seu tempo de trabalho em Minas Gerais, em 2018, Suellen Kessamiguiemon, de 33 anos, se mudou para tentar procurar emprego no Rio de Janeiro, onde mora atualmente com seu marido e cinco filhos, na cidade de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Mas foi pelo Instagram que ela conseguiu iniciar uma nova carreira em algo que ela sempre soube fazer, mas nunca tinha tirado proveito: limpeza. Sem muitos rodeios, ela deixa claro que, diferente do que muitos presumem, ela não passava necessidade e nem era seu último recurso. “Não sou uma guerreira nem é uma história de superação. Foi uma opção minha ser diarista”, conta Suellen enquanto relembra o início do processo, até chegar a pandemia do coronavírus.
Suas primeiras postagens foram uma espécie de divulgação do seu currículo. Já em agosto do mesmo ano, com a “vitrine virtual”, conseguiu a primeira faxina e passou a mostrar o seu dia dia ,inclusive nesses lares, além de dar dicas que hoje se traduzem em posts como “Truques de Limpeza” e “Faça Você Mesmo”. Antes da quarentena começar, ela tinha uma vida bastante corrida, precisando administrar suas quatro faxinas fixas da semana com a criação dos filhos, sempre junto ao marido, e a sua faculdade de Publicidade e Propaganda que está fazendo.
Embora tenha um grande alcance, Suellen não gosta de ser chamada de digital influencer, preferindo o termo “pseudo”, e ainda, se considera uma subcelebridade da internet. “Já tive meus minutos de fama em programas de TV, mas o que eu faço no Instagram é muito natural e eu não gosto que as pessoas criem expectativa em cima disso", esclarece.
A diarista também se define, em sua bio no Instagram, como “A louca do vinagre”. Ela defende o produto porque ele é eficiente, barato e não tóxico. Mas ela tem uma história especial com ele. “Uma vez fui para um faxina e a patroa esqueceu de comprar o produtos. Eu precisava dar um jeito. Lembrei de uma dica na internet com água, vinagre e detergente, e consegui limpar perfeitamente o chão da casa. O cheiro, claro, não ficou maravilhoso", relembra humoradamente.
Entretanto, com o impacto das medidas restritivas por causa da covid-19, essa opção feita por ela - ser diarista - passou a ser incerta e seu dinheiro garantido no mês foi cortado, como o de muitos outros empregados domésticos no País. “As patroas não puderam pagar porque também eram autônomas”, conta. Em março desse ano, Suellen teve um problema de coluna que fez com que ela ficasse sem trabalhar por duas semanas e, quando retornou, a quarenta já estava mais rígida. Somando a dispensa a essa perda de renda, decidiu tirar do papel o projeto de mentoria que ela já idealizava antes de tudo isso acontecer. Ela conta que já teve mais de 200 alunos, entre eles, muitas mulheres que não faziam faxina antes do isolamento social, e a receita tem compensado o que parou de receber como diarista, já que outros gastos foram cortados. “Acredito que não teria dado certo se as pessoas não tivessem tempo para participar, então a quarentena foi um momento que facilitou essa tutoria”, reflete.
Sobre a estigmatização da profissão, a diarista fala que é preciso “quebrar esse ciclo”. “Claro que boa parte trabalha por necessidade, mas há pessoas também que veem ali uma oportunidade de fazer um dinheiro mais fácil.” Essa visão da diarista ser um subemprego, para ela, é uma cultura antiga passada de geração em geração sobre submissão e exploração dessas trabalhadoras.
“É preciso ter respeito e mudar essa noção. E essa mudança precisa acontecer tanto para quem oferece o serviço como para quem contrata, mas ainda mais por parte da diarista. A gente precisa falar o que não está legal, pois como em qualquer outro emprego, você precisa colocar suas condições de trabalho, e é um emprego tão essencial como advogado ou médico”. Ela mesma conta que no começo tinha um preço menor, mas com o tempo, passou a estabelecer um valor base e um horário máximo de 6 horas. “Eu cobro um valor para as pessoas e quem estiver disposto, paga”, explica com muita segurança.
Com sua conta no Instagram, ainda, pode realizar um sonho. Suellen atraiu olhares de figuras famosas, como é o caso da Chef de Cozinha, Paola Carosella, conhecida pelo programa Masterchef Brasil da Band. “Eu sou muito fã dela e sempre perturbava a Paola no Instagram, sempre mandava mensagens e ela não respondia. Mas teve uma vez que durante uma entrevista para UOL ela falou de mim. Fiquei chocada. Ele me seguia e sabia que eu existia!”, conta entusiasmada.
Quando Paola comentou em uma foto dela, Suellen pegou a deixa para tentar contato e explicou que era um sonho dela fazer uma live com a Chef, - o mais próximo que ela poderia chegar de Paola na quarentena. Para surpresa dela, a Chef respondeu e a live, de fato, aconteceu, mais uma vez, no Instagram, batendo quase 8 mil visualizações. “Ela é muito fofa”, garantiu a fã que deu o nome "A live da minha vida" para a transmissão.
Com a ajuda de uma conhecida que tinha alcance na rede social, ela conseguiu crescer seus seguidores. Sem muita fé que ia dar certo, afinal, “ninguém quer ver uma pessoa toda acabada, suja e descabelada fazendo faxina”, como escutou do seu marido, acabou sendo contrariada. Atualmente, a conta (@diario.da.diarista) tem 32,3 mil seguidores, entre eles, o ator Lázaro Ramos.
Diarista Te Conta
Como seu ramo no Instagram é mais difícil para fechar parcerias e ela queria usar essa gama de seguidores ao seu favor, se inspirando em outras contas, ela encontrou uma solução prática e online: criou o projeto Diarista Te Conta. O curso serve para ajudar pessoas a limparem suas casas, com duração de cinco dias, no qual cada dia é reservado para um cômodo. Tudo isso é feito através de um grupo de WhatsApp, após a compra do curso nesse link do sympla.
“É preciso quebrar esse ciclo”
Uma live inesperada