Apesar de ter melhorado nos últimos dias, o câmbio continuará volátil, disse, nesta quinta-feira (28), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Em transmissão ao vivo promovida pelo banco BTG Pactual, ele declarou que a redução do déficit externo deve contribuir para a retomada do dólar e que a política monetária não está esgotada, o que abre caminho para uma nova redução da taxa Selic (juros básicos da economia).
O dólar comercial, que, nesta quinta, fechou vendido a R$ 5,386, estava em R$ 5,76 há dez dias. Segundo Campos Neto, o BC estava preparado para intervir de forma mais agressiva no câmbio, mas recuou depois da melhora nas cotações.
“O câmbio é flutuante, mas também entendemos que, em alguns momentos, estava muito descolado do risco. Nós fizemos intervenções maiores. Até estávamos preparados em algum momento para fazer uma intervenção maior. Acabou que o câmbio voltou recentemente um pouco”, comentou.
Campos Neto destacou que a redução significativa do déficit nas contas externas, provocada pela diminuição das importações e de gastos de turistas brasileiros no exterior, contribuiu para a melhora da cotação do dólar. O presidente do BC, no entanto, disse que o câmbio “continuará uma variável volátil”.
“O déficit em conta-corrente, que era de US$ 50 bilhões, a gente está vendo um número mais perto de zero. Tem uma parte de fluxo de investimento direto que vai ter um impacto pelo tema do coronavírus, mas isso a gente acha que normaliza. Mesmo que caia um pouco [o investimento de empresas estrangeiras], ele é um pouco contrabalanceado pelo resto”, disse. Em abril, as contas externas fecharam com resultado positivo pelo segundo mês seguido.
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Apesar da volatilidade do câmbio, Campos Neto disse que, as tensões que provocaram turbulências no mercado financeiro estão diminuindo. “Na parte institucional, o mercado também enxerga que, apesar de todo o ruído, o governo está achando uma forma de trabalhar”, declarou.
Sobre os juros, o presidente do BC destacou que o órgão continuará a trabalhar com um “regime de separação de metas”, em que o Comitê de Política Monetária (Copom) analisa unicamente o comportamento da inflação, não o câmbio, para definir a taxa Selic. Campos Neto acrescentou que a “política monetária não está esgotada”, indicando que ainda existe espaço para o Copom reduzir os juros básicos.
Atualmente, a Selic está em 3% ao ano, no menor nível da história. Na ata da última reunião do Copom, o BC informou que pode reduzir a taxa em até 0,75 ponto percentual no próximo encontro, em junho. O órgão, no entanto, está esperando uma definição sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus sobre a economia e a redução das incertezas para definir os próximos passos.
Com o agravamento da recessão, existe pouco espaço para que a alta do dólar seja repassada para os preços. Dessa forma, o BC poderia reduzir um pouco mais a Selic sem se preocupar com os efeitos da queda dos juros sobre a moeda norte-americana.