Como será o o futuro dos escritório após a pandemia de coronavirus

O JC ouviu especialistas e empresas para entender as mudanças na volta ao mundo do trabalho
Marcelo Aprígio
Publicado em 19/06/2020 às 17:05
MV prepara tecnologia para funcionário participar de reuniões sem sair da mesa de trabalho Foto: DIVULGAÇÃO


No meio de tantas incertezas geradas pelo novo coronavírus, uma convicção é que o cotidiano no mundo do trabalho também viverá um “novo normal”. Escritórios mais seguros do ponto de vista sanitário e forte expansão do home office estão entre as tendências que devem se fortalecer no pós-pandemia. Associada a isso, a mudança nos layouts dos escritórios deve contribuir para a transformação da vida corporativa como a conhecemos.

Para Luiza Nolasco, gerente de novos negócios da WGSN, multinacional especializada em previsão de tendências, as mesas de trabalho repletas de itens de decoração, como porta-retratos e calendários, estão com os dias contados nos escritórios. No pós-pandemia, não haverá espaço para objetos amontoados, visando dificultar a contaminação pelo vírus. Os mobiliários, muitas vezes separados por barreiras, terão espaço apenas para o computador, na maioria das vezes laptops. “Com o novo normal, o minimalismo também chega com força nos escritórios”, diz Nolasco.

Ainda segundo ela, na volta às atividades, os objetos pessoais e até material de escritório deverão ficar guardados em armários. Além disso, as salas de reuniões serão menores, mais ventiladas e mais tecnológicas. “O futuro dos ambientes corporativos passa, não só pela reorganização do layout dos espaços, mas pela implementação maciça da tecnologia”, pontua Luiza.

De olho nisso, a MV, empresa especialista em desenvolvimento de sistemas, já se prepara para o retorno às atividades nos ambientes físicos da companhia. “Estamos equipando as estações de trabalho com tecnologia para permitir que nossos colaboradores não precisem de uma sala específica para se reunir”, diz Luciana Leão, diretora de gente e gestão da MV. Ela conta também que a empresa tem se preocupado em reduzir o adensamento dos escritórios, garantindo distanciamento e maior rotatividade dos funcionários.

Na visão de Adriana Porto, sócia da PortoNeves Arquitetura, esta será a realidade dos espaço corporativos. “No mundo pós-coronavírus, a tendência é garantir a segurança dos funcionários, com escalonamento e revezamento dos trabalhadores”, pontua.

Adriana acredita ainda que o escritório do futuro será mais humanizado, mais aconchegante, mais agradável e apenas servirá de apoio para demandas específicas de treinamento, dinâmicas presenciais, recepção de clientes e parceiros. “As empresas vão passar valorizar ambientes mais rotativos e mais comunitários”, diz Porto.

Mas isso não necessariamente vai significar a exigência de construção de espaços mais amplos, já que, ao mesmo tempo, vai aumentar o número de pessoas que trabalharão de casa.

No Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), o planejamento para a volta aos espaços físicos leva em consideração as novas dinâmicas impostas pela pandemia. “Já estamos planejando nosso retorno que, em função do home office, contemplará o compartilhamento de estações de trabalho, além de mais salas de reunião com equipamentos para videoconferência”, conta Karla Godoy, COO do Cesar.

“Experimentamos uma nova forma de trabalhar que está dando certo e vamos continuar com o desenvolvimento dessa cultura”, completa ela, afirmando que com a adesão ao teletrabalho o Centro pôde continuar contratando, apesar da crise.

Segundo o arquiteto Lucas Dal Piso, do escritório Dal Piso Arquitetura e Interiores, não é apenas o Cesar que tem pensado nisso. Ele conta que está fazendo um projeto, neste momento, em que vai reduzir de 150 para 75 o número de mesas em um escritório. “A empresa quer que, além do espaçamento, coloquemos divisórias para separar as mesas e, assim, proteger os funcionários”, diz ele, explicando que tem projetado as mesas com divisórias retráteis. “Certamente, isso será muito utilizado, porque fica totalmente aberto, e, no momento que você precisa, você fecha”, descreve.

Dal Piso diz ainda que, em seus projetos, tem apostado também na tecnologia touchless, ou seja, sem toque físico. Desde a porta de chegada até os banheiros, a ideia é criar sistemas de acionamento automático que evitem que os trabalhadores toquem nas peças. “Temos recebido muitos pedidos para pensar em soluções como leitura de QR Code no controle de acesso dos funcionários”, afirma.

Segundo Dal Piso, cada vez mais, serão prioridade dispositivos como telões para videoconferências ou elevadores, entre outros, acionados apenas por comandos vocais ou pelo celular. Torneiras com sensores devem se tornar ainda mais comuns nos banheiros compartilhados. “Também há o acionamento por sensores de iluminação das salas para evitar o contato com os interruptores”, lembra o arquiteto.

Escritório em casa

As mudanças impostas ao mundo corporativo também se refletem na casa das pessoas. Com mais rotatividade entre colaboradores e maior adesão ao home office, as pessoas vão continuar trabalhando sem sair de suas residências. Por isso, o ambiente de casa deve ser adequado. “É importante ter cadeiras mais confortáveis e teclados ergonômicos”, explica Dal Piso.

Ele lembra que, na hora de montar seu próprio escritório em casa, é essencial se atentar a alguns detalhes, como acesso à iluminação natural, ponto elétrico e mobiliário confortável. “O segredo é encontrar uma boa localização e se adaptar”, explica Lucas Dal Piso, segundo quem os projetos arquitetônicos vão aliar cada vez mais as necessidades residenciais e comerciais. “Nos últimos anos, os projetos residenciais que previam escritórios vinham em queda, mas agora tenho certeza que vai haver uma reviravolta.”

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