De saída do Consulado Geral dos Estados Unidos no Recife, o cônsul John Barrett segue para Lima, no Peru, onde vai tratar de assuntos econômicos envolvendo os dois países. Antes de se despedir de Pernambuco, ele deixa um alerta para as empresas locais sobre a disputa da tecnologia celular do 5G com a China. "O Porto Digital possui empresas com ideias inovadoras, que trabalham duro e precisam ter suas informações protegidas", disse.
Esta semana, o governo americano deu um prazo para que a China feche seu consulado instalado na cidade de Houston, no Texas, até hoje, sob a alegação de que a representação diplomática serviria de base de espionagem. "Não temos interesse comercial nessa disputa, até porque os três competidores da tecnologia 5G são Ericsson, Nokia e Huawei. Nenhuma empresa americana detém essa tecnologia."
Recentemente o Reino Unido decidiu que vai banir a empresa chinesa de atuar em solo britânico, seguindo países como Nova Zelândia e Japão. "São países como o Brasil. Isso tem a ver com proteção de informação. A lei chinesa obriga empresas a repassar qualquer tipo de informação solicitada pela autoridade de inteligência do país. Por isso, não se trata de batalha comercial, mas de proteção à criatividade, ao empreendedorismo e à proteção de dados", defendeu.
Nos três anos em que passou à frente da missão diplomática em Pernambuco, o diplomata lembra das parcerias que celebrou com diversas entidades locais e se orgulha de ter liderado ações sociais que chegaram até as pessoas mais carentes da região.
"Focamos na área de educação, inovação e tecnologia. Dentre os programas, o meu preferido foi em parceria com a Secretaria de Educação de Pernambuco, que já tem sete anos e a cada período convidamos meninas e professoras da rede pública para participar de aulas de ciência e laboratório", diz Barrett, destacando que sempre vai para a formatura das alunas ao final do curso que trabalha robótica, técnicas agrícolas e outros temas. "Esse programa abre um mundo totalmente novo para elas."
A má notícia da saída de Barrett do Consulado americano, no entanto, é a falta de previsão para a retomada da emissão de vistos a brasileiros que querem visitar os EUA. Desde o início do isolamento social, a entidade suspendeu os vistos e não há, por enquanto, data para a volta do serviço. A suspensão vai reduzir bastante a média de 60 mil vistos emitidos todos os anos, a grande maioria para turistas.
"Estamos respeitando os regramentos do coronavírus. Estamos todos trabalhando em casa, no home office. Não temos uma data ainda para a volta do serviço, mas estamos ansiosos para retomá-lo." Segundo Barrett, o Consulado está em contato com especialistas e com as autoridades locais para decidir o momento certo do retorno. "Não queremos pessoas se aglomerando. Quando tivermos mais confiança na saúde, vamos reabrir. Há muitos rumores (sobre a volta), por isso é sempre bom ir no site oficial, no Instagram do Consulado, para ter a informação mais atualizada e oficial", diz.
O governo americano fechou a entrada para qualquer estrangeiro que passou pelo Brasil nos últimos 14 dias. "O Brasil e os EUA são os países mais impactados pela covid-19. É razoável que os países façam o que é melhor para o seu povo e para a comunidade internacional. Vários países também têm restrições", salienta. "O governo americano vai reabrir no momento certo, quando tiver confiança na questão da saúde."
Apesar de o presidente americano Donald Trump sempre lembrar do Brasil como um exemplo negativo no combate ao coronavírus, John Barrett destaca que o seu governo assumiu um compromisso de investir US$ 15 milhões em ações de enfrentamento à doença na região Nordeste.
Enquanto a orientação para os cidadãos americanos é a de deixarem o Brasil, a Agência de Desenvolvimento dos EUA e o Centro de Controle de Doenças do Departamento de Estado já iniciaram alguns projetos locais.
Em Pernambuco estão sendo distribuídos, junto à população carente, kits de higiene, em parceria com a ONG Adra, e a intenção é ampliar as doações com kits de cesta básica e de equipamentos de proteção individual. Os conjuntos de higiene já englobam um investimento de US$ 450 mil para todo o Nordeste. No Maranhão, a diplomacia americana está bancando a construção de um hospital de campanha no município de Macabal. "O setor privado também ampliou o compromisso e investe US$ 40 milhões em ações de combate ao coronavírus. São empresas como a Coca-Cola, Amazon, Alcoa..", diz. "Estamos orgulhosos de colaborar com os brasileiros e ajudar milhares de pessoas, em Pernambuco inclusive".
Estabelecido em 1815, o Consulado Americano do Recife é o posto diplomático dos EUA mais antigo no Brasil. Antes da pandemia, a representação também mantinha parcerias de apoio à comunidade local. Na área social, além do programa educacional voltado para as alunas das escolas públicas do Estado, o Consulado também mantém um programa chamado "Empodera", financiado em conjunto com a Unicef, para estimular o ensino do inglês entre alunos e professores em parceria com a escola Aba Global Education, que também mantém um escritório local que intermedeia ações para os interessados estudarem nos EUA.
Ainda na área social, o consulado tem uma parceria com o Instituto Maria da Penha, em apoio ao direito das mulheres. "São valores que compartilhamos com o povo brasileiro. São oportunidades de trocar ideias, sempre estamos aprendendo com os brasileiro e pernambucanos que têm uma experiência similar ao que temos nos EUA", diz Barrett.
Na área comercial, o consulado mantém o US Business Forum com 45 empresas americanas instaladas no Nordeste, grupo que se reúne quatro vezes ao ano no intuito de facilitar o comércio com o Brasil.