Uma das principais datas em vendas para o comércio de flores, o Dia de Finados não está sendo esperado como antes por quem atua nesse segmento. Entre os comerciantes, a expectativa é de que, por conta das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, as vendas sofram uma retração próxima aos 50%, reforçando os prejuízos que vêm sendo contabilizados ao longo de 2020.
Sem a tradicional movimentação de pessoas indo homenagear nos cemitérios aqueles que já faleceram, do atacado ao varejo, o mercado de flores se vê abatido neste dois de novembro. “Gente vem, todo ano tem. Mas a gente sabe que este é um ano diferente em tudo, inclusive no Finados e na venda de flores. Sem missa, fica complicado vender, porque as pessoas vinham, compravam e iam prestar suas homenagens no cemitério. Sem contar que muita coisa está faltando, como rosas e gerbera”, diz a comerciante Maria José de Moura, de 75 anos.
Só no box em frente ao Cemitério de Santo Amaro, ela já contabiliza 52 anos dedicados ao comércio de flores, mas diz nunca ter presenciado algo como a situação de agora. Nesta sexta-feira (30), Maria Moura finalizou os pedidos ao fornecedor de Gravatá, no Agreste do Estado, sem saber se conseguiria ser totalmente atendida. Além das vendas diretas no box, a comerciante também trabalha com casas funerárias.
“Já vem fraco desde o começo do ano, na verdade. Quando a pandemia estava mais forte, muita gente pensa que talvez a gente estivesse vendendo muita coroa, mais flores, mas a verdade é que na naquela situação, as pessoas eram sepultadas sem nem ter direito a isso. Agora, as vendas estão caindo 50% nessa data que costumava vender melhor”, lamenta.
Para tentar remediar um pouco a crise, o administrador da Santa Maria Floricultura, também em Santo Amaro, Jackson Silva, 24 anos, tem apostado nas encomendas para manter o faturamento. “Pelo WhatsApp, Instagram, Facebook é onde tem saído mais. As pessoas já encomendam, mas ainda assim não faz frente ao que estávamos acostumados em volume de vendas, embora supere as vendas feitas aqui no box”, afirma ele.
Com as vendas mais fracas, os pedidos aos fornecedores minguaram, forçando redução da produção e, agora, trazendo temerosidade quanto a um reajuste dos preços. “As vendas caíram, os pedidos ao fornecedor também, e a produção vai sendo ajustada. Qualquer movimento diferente pode aumentar o preço ou faltar produto. Um pacote de rosas a gente já pensa que pode passar de R$ 20 para R$ 40, e isso complica, porque a gente já está num patamar de comprar 35 ou no máximo 40 pacotes, quando o normal era 60”, explica Jackson Silva.
Produção
Os comerciantes de flores da Região Metropolitana do Recife têm como principais fornecedores os produtores do Agreste do Estado, sobretudo Gravatá. Quando não através de encomendas diretas, as compras são feitas na feira das flores do Ceasa. Pernambuco é o segundo pólo produtivo da floricultura nordestina, atrás apenas do Ceará. Gravatá é considerada a maior produtora de flores tropicais do Norte e Nordeste e, no primeiro semestre deste ano, já se estimava uma queda de 95% nas vendas, impactando diretamente 2 mil pessoas que vivem da produção. Antes da covid-19, cada produtor da cidade vendia entre 5 mil e 8 mil pacotes de flores por mês.
Para o consumidor final, no entanto, os preços permanecem estáveis e, em média, no dia de Finados deste ano, uma coroa de flores sai a partir de R$ 80; buquê de lírios, por R$ 50 e a unidade da rosa, gerbera ou galho de monsenhor, R$ 2.
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