A pandemia do novo coronavírus impactou mais as mulheres no mercado formal de trabalho. Dados do Novo Caged mostram que, de março a setembro, o Brasil perdeu 897,2 mil empregos com carteira assinada. Desse total, 588,5 mil eram mulheres (65,5%). Elas têm presença em setores que foram duramente afetados pela crise da covid-19, como serviços e trabalho doméstico. As mulheres também estão enfrentando mais dificuldade para se recolocar no mercado. Especialistas alertam sobre a necessidade de se preparar para buscar as oportunidades nessa tentativa de retorno.
Em Pernambuco, a mulher também perdeu mais empregos do que os homens, alcançando uma fatia de 63%. Das 28.125 pessoas que perderam seus empregos com carteira assinada entre março e setembro, 17.761 eram mulheres e 10.364 homens. "As mulheres em situação de home office ficaram muito sobrecarregadas com as tarefas profissionais, da casa e da família, e muitas empresas, na hora de demitir, decidiram pelas mulheres", observa a diretora de operações da consultoria LHHna Região Nordeste, Mariângela Schoenacker.
"Uma explicação objetiva que se pode ter para esse fenômeno de maior perda de empregos pelas mulheres durante a pandemia é o fato de que os segmentos que mais desempregam foram aqueles que mais empregam o gênero feminino. Um deles foi o serviço doméstico, que é em quase sua totalidade exercido pela mulher. Nesse segmento, o desempenho do desemprego foi quase o dobro do que o total da economia. Se o desemprego chegou a 14% na iniciativa privada em geral, entre os trabalhadores domésticos a taxa chegou a quase 26%", compara o economista e sócio da PPK Consultoria, João Rogério Alves Filho. Pelos dados do Novo Caged, serviços e comércio foram os setores que mais eliminaram vagas formais no Estado, 19.418 e 10.676, respectivamente.
Outra preocupação com a escalada do desemprego é o fim da vigência da MP 936 no final do ano, que acaba com a possibilidade da suspensão de contratos de trabalho e com a redução de jornada e de salário. A advogada Simony Braga, do escritório Da Fonte Advogados, explica que a legislação não prevê nada parecido à MP 936. "O que se pode é buscar algumas flexibilizações, por meio de negociação coletiva para a redução de jornada e salário, mas merece análise caso a caso, respeitando-se as peculiaridades de cada profissão", avalia.
Para além do fator conjuntural da pandemia, especialistas defendem que o mercado de trabalho precisa ser mais diverso e inclusivo. "Equidade de gênero, diversidade e inclusão precisam ganhar relevância nas organizações. Pesquisas mostram que empresas com 30% de mulheres nos cargos de liderança tiveram um aumento de 15% na rentabilidade. É preciso ter uma cultura de fortalecimento das lideranças, sistema de trabalho mais flexível e equidade salarial, além de as próprias mulheres se trabalharem para se sobressair", defende Mariângela.