A possibilidade de uma nova greve dos caminhoneiros deixou o Brasil e o mercado ainda mais em alerta. No entanto, apesar da realização de assembleias para definir se haverá a paralisação, líderes da greve de maio de 2018, Aldacir Cadore e Ivair Schmidt afirmaram à Revista Veja que tem "zero possibilidade" de acontecer novamente. Segundo eles, a manifestação é marcada por um grupo com menor influência sobre os transportadores.
Já o comandante da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Walace Landim, o Chorão, disse que avalia a adesão. “Estou no Porto de Santos (SP) até sexta-feira, 15, para ver como será a adesão. Estou conversando com muitos caminhoneiros e vemos que a categoria está na UTI. Leis, como a do piso mínimo do frete, não estão sendo cumpridas”, explicou ao Radar Econômico.
A articulação para nova greve parte de Roberto Stringasi, da Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB). Seus apoiadores têm enviado mensagens para milhares de caminhoneiros afirmando que a paralisação será maior que a de 2018. Entretanto, a associação de Stringasi não possui influência sobre toda a classe, segundo um dos líderes.
Nessa quarta-feira (13), cerca de 50 lideranças dos caminhoneiros fizeram uma reunião online para discutir a pauta que vai desde manifestações contra o projeto BR do Mar (que incentiva a navegação pela costa brasileira) ao piso mínimo do frete e reclamações contra a política de preços de combustíveis. Nela, foi marcada uma nova assembleia, ainda sem data definida, para tentar angariar apoio e definir as pautas de uma nova greve nacional que vem sendo articulada pela categoria para o dia 1º de fevereiro.
O Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) manteve a convocação para a greve em 1º de fevereiro. O presidente da entidade, Plínio Dias, afirmou que a definição da pauta é importante para colocar na mesa e ser chamado para diálogo com os órgãos responsáveis. "Até agora não fomos recebidos pelo governo, por isso a paralisação", explicou ele aos demais motoristas.
"O que você está achando, meu irmão? O senhor tem condições de rodar com seu caminhão nesse País, com combustível caro, insumo caro, tudo aumenta, tudo sobre e o frete está uma desgraceira. Pessoal, 250 litros de diesel está quase R$ 1 mil. Não tem mais cabimento. De Curitiba para São Paulo sobra R$ 150 no final da viagem e está com o tanque seco, não sobra nada. Quem acha que a situação está ruim, pare dia 1º", convocou Dias num grupo de WhatsApp. "Tem pessoas aí que ficam atrás de lideranças que se dizem de caminhoneiros alegando que não precisa parar. Isso é uma afronta. Às vezes essas pessoas não tem problemas, não tem caminhão, não estão nem aí para a categoria que representam. Mas garanto que já estão aparecendo muitas pessoas para o dia 1º."
As últimas tentativas de greve da categoria não vingaram por rachas entre as diversas entidades representativas no País. O governo federal aposta justamente nessa divisão para tentar desmobilizar a greve.
Na Região Sul, caminhoneiros prometem em grupos de WhatsApp bloquear cidades e fábricas de alimentos, o que pode afetar o abastecimento de supermercados.
O interlocutor da categoria no governo tem sido o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. O ministério questiona a representatividade da Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB), que mais cedo previu que a greve poderia ser maior que a realizada em 2018. "O Ministério da Infraestrutura (MInfra) esclarece que a Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB) não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor do transporte rodoviário de cargas autônomo e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes", disse a pasta por meio de nota.
O ministério destacou a necessidade de entender o "caráter difuso e fragmentado de representatividade do setor". "Nenhuma associação isolada pode reivindicar para si falar em nome do transportador rodoviário de cargas autônomo, e incorrer neste tipo de conclusão compromete qualquer divulgação fidedigna dos fatos referentes à categoria", acrescenta.
O Ministério da Infraestrutura informou ainda, por meio de sua assessoria de comunicação, que há uma agenda permanente de diálogo com as principais entidades representativas da categoria por meio do Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), além de reuniões constantes com lideranças da categorias. "O restabelecimento do fórum, desde 2019, tem sido o principal canal interativo entre governo e setor e qualquer associação representativa que deseje contribuir para a formulação da política pública pode requerer a sua participação para discutir eventuais temas de interesse da categoria."
Greve de 2018
- Crise dos caminhoneiros expõe dependência de único meio de transporte
- Veja os impactos após oito dias de paralisação dos caminhoneiros
- Governo teme que movimento dos caminhoneiros siga caminho de 2013
- Temer, Maia e Eunício pedem que caminhoneiros retornem ao trabalho
- Greve de caminhoneiros expõe fragilidade de Temer e atordoa candidatos
- 87% dos brasileiros apoiam greve dos caminhoneiros, diz Datafolha
- Vale do São Francisco estima perda de R$ 570 milhões em prejuízos com a paralisação dos caminhoneiros