Vacina e reformas são apostas para reanimar a economia, mas o Brasil está atrasado nos dois

Quantidade de doses da vacina contra a covid-19 ainda é pequena em relação à necessidade e faltam insumos internacionais para produzir o imunizante e acelerar a vacinação
Adriana Guarda
Publicado em 22/01/2021 às 20:27
vacina Foto: Miguel Falcão


Especialistas apostam na vacina contra a covid-19 e na realização das reformas como alternativa para reanimar a economia nacional em 2021. Se nos dois últimos trimestres do ano passado o País comemorou uma recuperação em V, os economistas acreditam que pode ter sido um voo de galinha e se preocupam como que o primeiro semestre de 2021 reserva. Agora se fala em recuperação em W, com outra queda brusca da economia para depois retomar o crescimento. O problema é global, mas a polarização política em torno da vacina, o atraso na campanha de imunização e o desequilíbrio fiscal do Brasil tornam o cenário ainda mais incerto e preocupante. 

Em dezembro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro assinou Medida Provisória (MP) autorizando um gasto extra de R$ 20 bilhões com a aquisição de vacinas no combate ao novo coronavírus. A questão agora é a dependência de insumos internacionais para fabricar a vacina. A dificuldade expõe o problema crônico do Brasil de baixo investimento em ciência. Hoje, o País conta com 15 centros de desenvolvimento de vacinas contra covid-19 funcionando, mas a maioria dos projetos estão em fase preliminar de testes. 

No País, a campanha de vacinação mal começou na semana passada e o cronograma poderá ser atrasado por falta do insumo IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), que é comprado na China. Na semana que passou, o Ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse que conversou com o embaixador chinês nos Brasil para que não tenha atraso na entrega, mas o Instituto Butantan, que está fabricando a vacina Coronavac, em parceira com a chinesa Sinovac, afirma que houve repactuação nos prazos.

O Butantan tem capacidade para produzir um milhão de vacinas por dia, mas sem os insumos não consegue. A Corovac precisa ser tomada em duas doses, com intervalo máximo de três semanas. Se extrapolar esse período as pessoas precisarão tomar a primeira dose novamente, com prejuízo para a quantidade de vacinas, que já será insuficiente para imunizar até os primeiros grupos prioritários. 

Na avaliação do economista Tiago Monteiro, coordenador do Cedepe Business School e consultor econômico-financeiro, a vacina é primordial no Brasil e no mundo para tentar trazer a confiança do investidor. "A vacinação vai permitir mais trafego de pessoas, mais consumo e menos necessidade de isolamento social. Com isso, pelo menos as engrenagens da economia estarão menos enferrujadas no médio e longo prazos", defende. 

Por outro lado, o economista se preocupa com o uso político da vacina. "Infelizmente o Brasil não tem um modelo eficiente e eficaz de vacina e já estão se formando os palanques (para as eleições presidenciais de 2022) entre Dória (governador de São Paulo) e Bolsonaro. Enquanto isso, a covid-19 vai quebrando recordes de casos no Brasil e no mundo e o risco político, econômico e fiscal vai expulsando os investidores", complementa Monteiro. 

Na sexta-feira (22), a preocupação com o risco fiscal do País, com o aumento dos casos de covid-19 e com a volta do aumento das restrições e fechamento dos negócios fez o Ibovespa fechar com queda de 0,80%, aos 117.380 pontos e o dólar subir 2,17%, cotado a R$ 5,47. O sócio fundador da Multinvest Capital, Osvaldo Moraes, diz que a chegada da vacina é um momento auspicioso, porque sinaliza para a retomada da economia. "A questão é que nenhum país vai conseguir imunizar a população de forma rápida e eficiente. Aí o mercado também começa a precificar quanto tempo a economia vai demorar para se recuperar, em quanto tempo as pessoas serão imunizadas e se a economia vai pegar tração. Tudo isso influencia o humor do investidor. Ou seja, a vacina é uma boa notícia, mas a demora pode frear o ânimo dos investidores", analisa Moraes. 

RECUPERAÇÃO EM W

Economistas acreditam que a forte recuperação da economia, após a reabertura do funcionamento de vários setores no ano passado não deverá continuar neste início de ano. "2021 chegou e, infelizmente, vai frustrar muitas expectativas de retomada de crescimento. Isso é muito preocupante. A retomada forte dos casos de covid-19 em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, fez com que os governos voltassem a tomar medidas mais restritivas, com impacto sobre o setor de serviços, por exemplo, que ainda estava em recuperação. A vacina chega a conta-gotas e como não tem um percentual grande da população imunizada, a covid continua sendo uma grande ameaça", pontua o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultor de empresas, Ecio Costa.

Na avaliação do economia, o Brasil poderá ter uma recuperação em W, com a economia afundando novamente para só depois se recuperar. "Outra preocupação é com a volta dos incentivos fiscais, como o auxílio emergencial, que é importante se a mobilidade da população voltar a ser restringida, mas que por outro lado aumenta o problema fiscal do governo drasticamente. Por isso, o atraso da vacina pode custar caro, porque custa vidas, atrapalha o funcionamento das empresas e gera desemprego. Só com maior agilidade da vacinação será possível uma retomada mais forte da economia", aponta Costa. 

 

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