Depois do tombo na economia em 2020, provocado pelo coronavírus, a pergunta que se faz agora é "o que esperar de 2021?" Até que ponto, os efeitos da doença que assolou o globo, ainda terão impacto sobre o ano que começa? Há quem diga que este exercício será uma espécie de 2020.2, uma continuidade de um ano que não terminou. Para responder a essas perguntas, a Ceplan Consultoria Econômica apresentou nesta quarta-feira (3) a Análise Ceplan, com o tema "O que esperar de 2021?". Realizado em parceria com o Movimento Econômico e patrocinado pelo Banco do Nordeste, Fiepe e Surfix, o evento aconteceu parte presencialmente e parte virtualmente.
Os painéis foram apresentados pelos sócios-diretores da Ceplan, Tania Bacelar, Jorge Jatobá e Paulo Guimarães, além do economista-chefe do Banco do Nordeste, Luiz Esteves, e do gerente de relações institucionais da Fiepe, Maurício Laranjeiras. O presidente da Fiepe e anfitrião do evento físico, Ricardo Essinger, fez a apresentação de boas-vindas e a jornalista Patrícia Raposo comandou a mediação do evento.
Na análise do economista Jorge Jatobá, que ficou responsável pela apresentação do cenário nacional, o desempenho do setor de serviços vai determinar o que acontecerá com a economia em 2021. "Os serviços têm um peso de 70% no PIB brasileiro e foi o setor mais atingido pela redução da mobilidade da população por conta da pandemia. Isso porque a maior parte dos serviços são presenciais. O que acontecer com ele vai determinar o que acontecerá com a economia brasileira", destaca.
Jatobá alerta que alguns fatores em curso podem impactar negativamente o setor de serviços, como a segunda onda do coronavírus, a vacinação tardia e incerta por conta do fornecimento de insumos e as decisões políticas na continuação no combate à pandemia. "A segunda onda da covid-19 e a demora na vacinação podem afetar a atividade econômica porque os Estados e municípios devem optar por novos movimentos de lockdown. Também estamos falando de um ano pré-eleitoral, com a cena de sucessão de Bolsonaro sendo colocada no tabuleiro. E isso terá um peso porque economia e política andam de mãos dadas", observa.
O economista lembra que a pandemia da covid-19 atingiu a economia brasileira fragilizada e com alto índice de endividamento. Essas duas vulnerabilidades foram agravadas pela crise sanitária. "O que vai acontecer em 2021 vai depender do avanço da pandemia, do progresso da vacinação e das políticas anticíclicas para enfrentar os efeitos da pandemia. Órgãos como OCDE, Cepal, FMI e Banco Mundial projetam um crescimento para o PIB brasileiro entre 2,6% e 3,6%. Já o Banco Central é mais otimista e aposta em 3,8%, enquanto nós da Ceplan imaginamos um cenário pessimista em 2% e um otimista em 4%. Mas essa taxa ainda depende de muitas condicionalidades", pondera Jatobá. Até novembro, a expectativa de queda do PIb do Brasil era de 4,2%.
Paulo Guimarães, que atualmente em Portugal para estudar, trouxe uma análise do ambiente internacional. Na avaliação dele, 2021 será um ano de transição e que a retomada mais firme deverá acontecer em 2022. No painel ele mostra que em 2020 houve uma queda expressiva na economia mundial, sem precedentes, na casa dos 4%. As poucas exceções são os países asiáticos capitaneadas pela China. O economista destaca que a previsão é de crescimento para 2021 e 2022, mas alerta que o mundo parte de taxas negativas. "Dessa forma, é como se a gente chegasse no final de 2021, retornando a 2019, caso seja confirmada a perspectiva de crescimento de 4%. Em 2020, sim, também espera-se um crescimento entre 3% e 4%", observa.
A crise sanitária impactou fortemente o volume de comércio de mercadorias, derrubando as importações e exportações a taxas de dois dígitos e travando a economia. "Há uma retomada esperada em 2021, mas com taxas ainda moderadas. A indústria automotiva na Europa, por exemplo, teve queda de 25% e em Portugal chegou a ter ainda maior (35%). Esta é uma indústria que tem cadeia produtiva extensa e e emprega bastante", afirma.
Outra tendência mundial é que a recuperação da economia seja heterogênea, com taxas de crescimentos mais elevadas na Ásia, puxadas pela China e pela Índia, enquanto nas demais regiões as perspectivas são mais modestas. Essa arrancada da China poderá abreviar o prazo esperado para o país ocupar o lugar de primeira economia do mundo, deixando os Estados Unidos para trás. Guimarães cita uma pesquisa do Reino Unido, mostrando que essa mudança era prevista só para 2033, mas que poderá ocorrer em 2028. "Essa é uma variável geopolítica importante", analisa.
Enquanto o Brasil ainda decide sobre o auxílio emergencial e outras medidas para minimizar os impactos da pandemia, o mundo se esforça para manter as chamadas políticas anticíclicas com recursos trilionários. "Essas políticas terão que dialogar com as medidas sanitárias e com a vacinação para dar resultado e voltar a estimular o consumo e os investimentos. Do jeito que está, o que se vê é um baixo apetite a risco e investimentos. As empresas e as famílias ainda tomam decisões mais conservadoras. Em relação à vacina, a restrição na disponibilidade pode empurrar a retomada econômica mais para frente", acredita Guimarães.