Neste sábado (24), Dia Internacional do Jovem Trabalhador, há pouco a se comemorar. Isso porque os jovens formam um dos grupos mais afetados pelo desemprego no Brasil desde que a pandemia de covid-19 aportou no país. Dos quase 14 milhões de desempregados no último trimestre de 2020, aproximadamente 70% eram pessoas com idades entre 14 e 24 anos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), realizada pelo IBGE. Para tentar mudar essa realidade, algumas instituições da sociedade civil têm oferecido cursos profissionalizantes e feito da suas portas a entrada desses jovens no mercado de trabalho.
Engrossando as estatísticas nada agradáveis, Eduardo Lima, de 23 anos, nunca teve a carteira de trabalho assinada e atualmente trabalha ajudando o pai em um pequeno comércio no bairro de Timbi, em Camaragibe, no Grande Recife. “Essa pandemia acaba atrasando um pouco a expectativa que a gente tem. Primeiro, tem que esperar a doença passar para tentar fazer uma faculdade. Mas, em um primeiro momento, estou pensando em arrumar um emprego. O resto eu acho que é consequência”, diz.
Segundo Júlio Pascoal, especialista em empregabilidade e aprendizagem e professor de pós-graduação da Unit-PE, há alguns pontos que fazem com que o jovem tenha uma maior dificuldade para entrar no mercado de trabalho e se manter nele. “Historicamente, o desemprego é bem maior nessa faixa etária em comparação às outras. Um ponto que leva a isso é a dificuldade de estar na faculdade ou não completar o ensino médio, que resulta em uma qualificação mais baixa e torna o ingresso no mercado de trabalho mais difícil”, explica o especialista, frisando que muitas pessoas têm deixado a educação de lado para poder ingressar no mercado de trabalho e ajudar com as finanças de casa.
As dificuldades para entrar no mercado, além dos índices de desemprego aliados à crise econômica que se instalou no Brasil, somados à pandemia, fazem com que jovens como Vitória Souza, 24, se sintam desanimados. Apesar de estar na faculdade, a jovem acredita que, diante do atual cenário, isso pode não fazer diferença. “Está difícil para todos nós, até para quem já tem faculdade”, desabafa, “os estudos são importantes sim, mas neste momento, vendo o mercado de trabalho, acredito que não está fazendo diferença”, diz ela, ressaltando que entende a necessidade da profissionalização.
O sentimento de Vitória é reflexo de uma dura realidade que mostra que a falta de qualificação não é o único empecilho para que pessoas mais jovens consigam entrar e se manter no mercado. “O jovem chega, obviamente, com pouca experiência, e, por isso, nas situações de crise, com a que enfrentamos, eles são os primeiros a sofrerem com os desligamentos”, conta Júlio Pascoal.
Apesar de o caminho para chegar ao mundo do trabalho ser difícil, o professor afirma que a sociedade e os governos também podem ser uma peça fundamental para que esses jovens encontrem novas oportunidades. Para ele, é preciso promover “mais desoneração” para a oportunidade do primeiro emprego e afirma que “as empresas precisam construir a mentalidade de mentoria” para instrução dos jovens que estão ingressando no mercado de trabalho. Nesse sentido, diz Júlio, “as organizações da sociedade civil também podem se articular para fazer esse movimento de atuação”, diante do desemprego entre jovens.
Uma organização que já segue o conselho do especialista há alguns anos é o Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM). A entidade oferece novas oportunidades para os jovens estudantes ou egressos da rede pública de ensino aprimorarem a qualificação profissional e impulsionarem a carreira. “Sempre estamos oferecendo formações de curta ou média duração visando o mercado de trabalho. Agora, por causa da pandemia, todos os cursos são a distância”, conta Virgínia Campos, especialista em empregabilidade do IJCPM.
Desde sua fundação, o IJCPM, cuja atuação hoje está em quatro cidades (Recife, Fortaleza, Aracaju e Salvador), já apoiou a inserção de 7,6 mil jovens no mercado de trabalho. “Nós temos alguns parceiros, como lojistas, que nos ajudam nisso. Funciona da seguinte forma: os jovens ficam em nosso banco de dados e são indicados para uma vaga de emprego quando nós recebemos uma solicitação dos nossos parceiros”, explica Virgínia.
Uma das pessoas contempladas pelas ações do instituto foi Rafael Silva. Ele fez o curso de Desenvolvimento de Games entre 2018 e 2019 no IJCPM Recife. Ainda durante o curso, fundou a Mangrove, uma startup de jogos com foco no impacto social, junto com outros colegas que também receberam o apoio da organização. O grupo ganhou prêmios e conquistou uma vaga nos programas de incubação do Porto Digital. Hoje eles são uma empresa que presta serviço para clientes como SESC, GameArt, Artemísia, A Banca, Procomum e outros.
“Nossa startup começou graças ao curso de programação que eu e meus colegas fizemos no IJCPM. Foi lá que pudemos aperfeiçoar o que sempre gostamos de fazer, que era mexer com jogos. Esse tipo de curso sempre foi algo distante e o Instituto nos possibilitou poder chegar a ele”, resume Rafael, explicando que eles só conseguiram incubar o projeto no Porto Digital devido a uma parceria do IJCPM.