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Hambúrguer vira solução de empreendimento durante pandemia de covid-19

Nesta sexta-feira (28), Dia Mundial do Hambúrguer, a reportagem do JC conversou com quem tem feito do prato uma fonte de renda

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Bruna Oliveira

Publicado em 28/05/2021 às 7:00
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Não é de hoje que o hambúrguer caiu no gosto dos brasileiros. Com receitas que prometem proporcionar uma alimentação saborosa, o prato pode ser encontrado de forma fácil em restaurantes e lanchonetes. No entanto, se engana quem resume o hambúrguer apenas a uma boa comida para quem o consome: para alguns, ele pode ser solução diante de uma crise; enquanto para outros, oportunidade de investimento. Nesta sexta-feira (28), Dia Mundial do Hambúrguer, a reportagem do JC conversou com pessoas que têm feito do prato um negócio.

Com dois filhos pequenos para sustentar, Marília Amorim, de 29 anos, se viu sem chão quando ela e a esposa, Paloma Trindade, de 27 anos, perderam o emprego ano passado, durante as crises sanitária e econômica enfrentadas pelo Brasil diante da pandemia da covid-19. "Me senti incapaz, com medo constante do futuro", declarou.

Infelizmente, o medo sentido por Marília, naquela ocasião, é compartilhado por vários milhões de brasileiros atualmente. Dados a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nessa quinta-feira (27), apontam que 14,8 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil, o que representa uma taxa de desemprego de 14,7%. São os números mais altos de desemprego desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2012.

Diante da crise, as duas mulheres optaram, então, por abrir o próprio negócio. Como Paloma gostava de cozinhar e já possuía experiência no ramo alimentício, principalmente em hamburguerias, as duas resolveram investir o dinheiro que receberam ao sair dos empregos em materiais para que pudessem começar a vender hambúrguer.

CORTESIA
Hambúrguer virou solução para Marília após ela perder o emprego durante crise causada pela covid-19 - CORTESIA

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Apesar da vontade de abrir uma loja física, o medo da empresa não dar certo diante da crise fez com que elas adiassem o plano e dessem o pontapé inicial por meio do serviço de delivery. Entretanto, as duas ainda precisavam de um espaço para cozinhar e montar os pratos. Com pouco dinheiro para alugar um lugar, as mulheres, moradoras do bairro de Apipucos, na Zona Norte do Recife, optaram por montar a cozinha da hamburgueria no bairro de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, em um espaço dentro da casa da avó de Marília. Assim surgiu a Delira Burger, que aposta em sanduíches artesanais.

“Como nós não tínhamos clientes, começamos a fazer divulgação boca a boca e por rede social. Aos poucos, começou a dar certo. Passamos a fazer entregas na própria comunidade e em bairros vizinhos”, falou.

Com a venda de hambúrgueres artesanais, o negócio começou a dar certo e servir de fonte de renda para a família. No entanto, ainda durante o período de crise, Marília foi recontratada pela empresa que havia sido demitida e passou a viver do dinheiro que recebia do seu emprego formal e do valor arrecadado na hamburgueria. 

 


Atendendo cerca de 15 pedidos por dia, as microempreendedoras se viram com uma maior estabilidade financeira e resolveram dar um passo à frente: procurar um espaço próximo de sua residência. Dessa forma, em março deste ano, o negócio abriu uma loja física em Apipucos e mudou de endereço.

“É um novo desafio, porque na Zona Norte do Recife a concorrência é muito grande. Não posso dizer que a hamburgueria está numa situação tranquila, até por conta das restrições para conter o avanço da pandemia no Estado, mas estamos conseguindo nos manter”, declarou.

Atualmente, a Delira Burger trabalha com a linha de hambúrgueres tradicional, que conta com sanduíches a partir de R$ 5 e a linha artesanal, que passeia entre iguarias que variam de R$ 9 a R$ 24. No novo endereço, a lanchonete atende cerca de 35 pedidos diariamente.

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Empreendedorismo por necessidade

Para o economista Rafael Ramos, a falta de oportunidade no mercado de trabalho faz com que as pessoas passem a empreender por necessidade. “A economia não consegue lançar empregos suficientes e muitas pessoas, que não conseguem voltar ao mercado de trabalho, optam pelo empreendedorismo, principalmente na área de alimentação, setor que muitos acham que não vão ter tantas complicações”, explicou o especialista.

Em 2020, ano que teve início a pandemia da covid-19, o Brasil registrou maior incidência de pessoas que decidiram empreender. Segundo o Portal do Empreendedor, do governo federal, em março, o País contava com 9.818.993 microempreendedores registrados (MEI’s). Já em dezembro do mesmo ano, os dados apontavam 11.316.853 de MEI’s registrados, apresentando, assim, um crescimento de 13,23%.

De acordo com Rafael, quem deseja investir no ramo alimentício deve levar em conta que o negócio implica questões, como licenças de saúde, para operar de maneira legal e seguro, além de exigir outros custos para que o negócio seja formalizado. Segundo ele, também é indicado fazer um estudo antes de abrir qualquer negócio.

“O primeiro passo é estudar antes de abrir, participar de palestras sobre o assunto, buscar orientações para estar preparado para lidar com o empreendimento. Muitas empresas e microempresas fecham em até dois anos por falta de estudo”, disse.

Para quem pretende abrir um negócio durante a pandemia, ele explica que, a depender da área, o risco do empreendimento dar errado pode ser minimizado, como o caso das hamburguerias, que mesmo durante os períodos que são decretadas medidas restritivas, podem trabalhar com serviço de delivery.

“Um negócio onde não é necessário que o cliente vá ao estabelecimento e oferece cardápio e serviço de forma on-line, além de pagamento de forma segura, provavelmente não vai sofrer muito com os impactos da pandemia”, falou Rafael Ramos.

O economista também deu outras dicas de como pessoas interessadas em empreender devem agir para ter sucesso em seu investimento, que podem ser conferidas no fim desta matéria.

Hambúrguer como realização de sonho

Administrador de um hospital, casado, com dois filhos e apaixonado por hambúrguer, esse é Lucas Oliveira, de 36 anos, que viu na pandemia a oportunidade de realizar um sonho antigo: abrir uma hamburgueria com sanduíches artesanais.

A Rock My Burger, na verdade, já existia antes da crise sanitária, mas só participava de alguns eventos em Pernambuco, fato que mudou em maio de 2020, quando Lucas encontrou um espaço, localizado no bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife, pequeno e disponível - como ele desejava - para abrir o seu empreendimento.

“O local passou por uma reforma e abriu em setembro, aproveitando a pandemia para investir no delivery. Foi em um período em que o Estado passava por uma quarentena mais rígida, então as pessoas não estavam podendo comparecer aos estabelecimento”, contou à reportagem do JC.

 

Dessa forma, a hamburgueria abriu voltada para funcionar em serviço de delivery e retirada no balcão. Para Lucas, não era necessário ter uma grande estrutura para que o negócio desse certo, mas oferecer um serviço bom, bonito e saboroso.

Se para a maioria dos estabelecimentos locais as medidas restritivas são vistas como problema, para o administrador é sinônimo de oportunidade e crescimento. Isso porque, de acordo com ele, quando um decreto ordena que o fechamento das atividades, a busca por delivery aumenta e, consequentemente, seu negócio ganha mais força. "Quando os restaurantes, bares e lanchonetes estão impedidos de abrir, as vendas aumentam em torno de 30%", contou.

Com um cardápio que faz jus ao nome do estabelecimento, a hamburgueria conta com sanduíches com opções como o “Orange Rock”, o famoso hambúrguer com cheddar, “Pop Rock”, tradicional X-Burger e outros. Os preços variam entre R$ 15 e R$ 35.

 

 

Para Lucas, o valor que ele tem conseguido arrecadar na Rock My Burger tem servido para complemento da sua renda, já que ele consegue se manter e pagar as contas com a remuneração salarial de seu trabalho fixo. Atualmente, ele busca reinvestir o dinheiro na própria hamburgueria e tem planos para que, em quatro anos, tenha quatro estabelecimentos abertos da Rock My Burger no Grande Recife.

Dicas do economista para quem deseja empreender

Rafael Ramos aconselha que, a princípio, a pessoa que quer empreender analise se a ideia está nascendo por uma questão de sonho ou necessidade. Além disso, é necessário entender se o desejo se trata de um sonho, já que, segundo ele, o negócio tem uma taxa de sucesso baixa quando o empreendedor não entende, desconhece ou não gosta da área. Confira outras dicas do especialista:

  • Goste da área;
  • Estude como está o mercado;
  • Estabeleça quais serão os canais de venda (presencial, híbrido ou digital);
  • Procure orientação em alguma instituição de referência;
  • Calcule quanto será investido;
  • Entenda que você pode demorar até cerca de quatro meses para ter lucro;
  • Procure se formalizar;
  • Verifique o regime tributário.

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