O preço dos alimentos se tornou uma queixa geral dos consumidores. "Está tudo muito caro", diz o comerciante Ricardo Alves, se referindo aos alimentos e especialmente a carne de boi e o frango. "O farnel da carne de charque que eu comprava por R$ 90 com cinco quilos. Agora, está por R$ 160", comenta Ricardo que estava nesta quinta-feira (27) fazendo compras no Mercado de São José, área central do Recife. Ao ser questionado por que os preços subiram, Ricardo respondeu: não sei. O motivo da carestia é mais complexo e não depende só do que está ocorrendo aqui no Brasil. Depois que alguns países passaram a ter uma pandemia controlada - como ocorreu em alguns países da Europa - começaram a comprar mais commoditties, como açúcar, soja e milho. E o reflexo disso chegou na sua mesa.
>> Forte alta nos preços dos alimentos levará ao aumento da fome no mundo, alerta FMI
Essa maior procura por commoditties no mercado internacional fez "aumentar muito o preço da soja e do milho, que são produtos exportáveis e formam a base da ração de animais, como boi, porco e aves", como explica a gerente de Planejamento e Gestão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Pernambuco, Fernanda Estelita. E continua: "também ocorreu a valorização do dólar, principalmente no segundo semestre do ano passado. Isso fez com que os produtores preferissem exportar porque ganhariam mais".
A carne bovina registrou um aumento médio de 8,79% do seu preço, enquanto as aves e ovos registraram uma alta de 7,69% no Grande Recife no acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, segundo informações do IBGE. No mesmo período, a inflação - que é uma média da alta do custo de vida - ficou em 3,89% pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Ou seja, as duas principais proteínas do brasileiro subiram muito mais do que a inflação oficial.
A alta desses grãos também impactam o preço de leite e seus derivados, como queijo, manteiga, iogurte etc. Fernanda argumenta que todas as commoditties de modo geral aumentaram de preço e que este isso também chegou ao arroz e o feijão. "A população sofre por causa da prioridade à exportação", argumenta Fernanda. O Brasil é um dos maiores produtores de soja do mundo e o aumento das exportações, desde o ano passado, fez um dos vilões da inflação nacional ser o óleo deste grão.
Vendedor de carne no Mercado de São José, o vendedor Vinícius Barbosa da Silva diz que esta foi a maior crise que vivenciou por ali, onde trabalha há 15 anos. "Do ano passado pra cá, houve uma redução de 30% das vendas. O povo não come mais carne todo dia. E os comerciantes que vendiam almoço também estão comprando menos. É um conjunto de coisas que fez a carne aumentar, incluindo o aumento das exportações", comenta. Nesta quinta-feira, um quilo de carne de primeira, como coxão mole e patinho, estava sendo vendida por R$ 35 o quilo; a carne de segunda como peito e acém estava por R$ 25 e o largato, que também é de primeira, por R$ 35,00 no Mercado de São José. Há um ano, esses produtos eram comprados, em média, pela metade do preço, segundo alguns consumidores que estavam no local. "Um quilo de filé de peito de frango era comprado ente R$ 10 e R$ 11 no ano passado. Agora, é vendido até por R$ 14", comenta a psicóloga Cristiana Araújo.
"É melhor comprar camarão do que carne", comenta o comerciante Ricardo Alves. Nesta quinta, o preço do quilo do camarão natural estava a venda por R$ 20 e o torrado por R$ 45 no Mercado de São José."A carestia não ficou só na carne. Também está caro o feijão, o óleo e a farinha", conta. Os dois primeiros têm o impacto do aumento dos preços das commoditties, como já foi citado acima.
"Outros produtos ficaram mais caros, porque tiveram problemas localizados de safra ou entressafra, como excesso de chuvas ou estiagem, entre outras", resumiu Fernanda. Alguns produtos que também registraram altas na sua comercialização, no Grande Recife, acumulada nos quatro primeiros meses deste ano foram: cebola (50,46%), melancia (37,71%), mandioca (22,21%) e melão (17,45%) . A mandioca é a matéria-prima para a farinha, muito consumida pelos pernambucanos.
Fernanda aconselha o consumidor a deixar de comprar o que está mais caro e consumir mais o que apresenta o preço mais baixo. "É melhor comprar de forma mais intensa os produtos que estão com os valores mais acessíveis", comenta. Esta também é uma forma de pressionar os preços a baixarem. Ela cita como exemplo alguns produtos que tiveram redução do seu preço de comercialização, como a uva (-17,95%), cenoura (-12,06%), tomate (-2,51%) e maçã (-10,85%). Os números são referentes ao acumulado nos quatro primeiros meses deste ano. "O cidadão deve ficar atento, porque os produtos que estão mais em conta podem compensar aqueles que estão mais caros", conclui.
<iframe width="640" height="360" allow="autoplay; fullscreen" src="https://player.mais.uol.com.br/?mediaId=16929185&type=video" allowfullscreen frameborder="0"></iframe>