5G: não basta o leilão. Quando os brasileiros terão acesso à tecnologia?

Com atraso, governo brasileiro definiu a data para leilão das frequências de telecomunicações de quinta geração que irão operar no Brasil. Operadoras terão que correr para que o serviço esteja em todas as capitais até julho de 2022
Edilson Vieira
Publicado em 26/09/2021 às 8:00
INFRAESTRUTURA Brasil tem hoje cerca de 120 mil antenas dedicadas ao 4G, mas vai precisar quadruplicar número de antenas nas cidades Foto: BETO DLC/JC IMAGEM


No próximo dia 4 de novembro, o Brasil dará um importante passo para a implantação da tecnologia 5G. Nesta data, a diretoria da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) fará o leilão das faixas a serem exploradas pelas operadoras para a oferta do 5G aos consumidores. O leilão era esperado desde 2019. Com atraso, o País vai ingressar na era da internet móvel de quinta geração. No mundo, pelo menos 65 países já operam a 5G comercialmente, segundo a Viavi Solutions, empresa que atua no fornecimento de redes e serviços de telecomunicações, num estudo divulgado em junho deste ano.

Com alta velocidade e baixa latência (tempo de resposta entre o envio e recebimento de dados),o 5G irá refletir em maior produtividade e avanços significativos nas áreas de saúde (através da telemedicina), mobilidade (veículos conectados), lazer e educação, só para citar algumas áreas a serem impactadas. Resolvido a questão do leilão, a tecnologia agora dependerá da superação de novos desafios até que funcione plenamente no País. São questões ligadas a grandes investimentos, pendencias tecnológicas, burocráticas e de infraestrutura. A escassez das antenas é uma delas.

ANTENAS

A nova tecnologia usa faixas de alta frequência (700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz) que permitem velocidades até 10 vezes mais rápida se comparada a 4G, mas com alcance menor, exigindo mais antenas para cobrir uma mesma área. O Brasil tem hoje cerca de 120 mil antenas dedicadas ao 4G. Será necessário pelo menos quadruplicar esse número para funcionamento do 5G.

Daniel Gomes, vice-presidente da Um Telecom, empresa pernambucana com atuação nacional em soluções digitais, estima que será necessário algo entre 300 mil e 1 milhão de antenas nos próximos 10 anos. "A estrutura atual das antenas 4G podem ser aproveitadas, em parte, para uso no 5G. A torre, ou  o telhado do prédio, e a ligação em fibra ótica, se houver. Mas os equipamentos em si e os servidores de processamento e armazenamento de dados não são aproveitados, tem que ser substituídos pelos que operam em 5G puro, uma opção que o Brasil fez para que não houvesse mais atraso na adoção da tecnologia". Ainda em relação a infraestrutura necessária, a velocidade do 5G é tão alta que a comunicação entre a torre e o processamento da operadora não conseguirá ser feito via rádio. Todas as torres precisarão estar 100% conectadas via fibra ótica, afirmou.

Segundo ainda Daniel Gomes, que também é embaixador da pauta 5G do LIDE Pernambuco, outro desafio para implantação da quinta geração, é a liberação de uso de determinada faixa de frequência. "Mesmo com o leilão, todas as faixas de frequência não poderão ser utilizadas imediatamente porque algumas estão ocupadas, em alguns locais, por sinais de antena parabólica. Existe um custo para limpeza do  espectro, é preciso trocar as frequências, e esse custo está embutido no valor do leilão. Isso também exige todo um cronograma. São 390 dias que a operadora tem para limpar o espectro, a partir da autorização. Até lá, o sinal 5G será ofertado de forma parcial", explicou o executivo.

INVESTIMENTOS

Segundo informação divulgada pela Folha de São Paulo, as licenças custam R$ 45,7 bilhões, com compromissos atrelados de investimentos de cerca de R$ 37 bilhões, podendo esse valor ser abatido das licenças. O alto investimento deve levar as empresas vencedoras do leilão a priorizar os locais onde irão atuar, diz Daniel Gomes. "Os critérios das operadoras para definir quais cidades irão receber os investimentos serão a obrigatoriedade e a rentabilidade", explicou Daniel, salientando que outro desafio será tornar o 5G viável economicamente. "Os investimentos em telecom são bilionários e o tíquete médio da comunicação hoje no Brasil é muito baixo, um dos mais baixos do mundo, o que reduz a taxa de retorno para as empresas. O consumidor viu ao longo do tempo a conta de telefone e da internet ficarem menor e será difícil cobrar mais pelo 5G porque o consumidor pode não estar disposto a pagar mais", diz Gomes. 

O executivo observa ainda que existe uma pressa muito grande para que o 5G funcione no Brasil, incialmente nas capitais e em cidades acima de  500 mil habitantes, por conta do cenário político. "O governo resolveu correr com o leilão para que o 5G esteja disponível nas capitais até julho do ano que vem, o que será um ganho político para o governo, mas o primeiro prazo do leilão era em até 12 meses após o termo de autorização. Como a definição do leilão demorou muito, um ano de prazo seria após as eleições. Eu imagino que será uma corrida entre as operadoras para atender esse prazo", afirmou.

'ECOSSISTEMA"

Carlos Lauria, diretor de Relações Governamentais e Assuntos Regulatórios da Huawei, gigante chinesa do setor de telecomunicações, elogiou o fato de o edital do leilão não ser arrecadatório, porque o investimento das empresas será usado de volta no setor. Ele concorda que ainda há muito trabalho pela frente em relação à infraestrutura necessária. "O País avançou com o decreto que regulamenta a Lei Geral da Antenas", afirmou. O decreto 10.480, de setembro de 2020, facilitou o processo de instalação de antenas de pequeno porte dispensando o licenciamento pelos municípios, mas nem tudo depende do Governo Federal, lembrou Lauria. "Uma grande parte depende dos governos municipais, e isso tem sido o maior problema. São 5.570 municípios, cada um com sua legislação de uso do solo. Alguns nem tem legislação ou tem leis antigas. A grande questão é conscientizar os municípios para que o licenciamento seja feito de forma ágil", diz Lauria.

Carlos Lauria diz que o 5G é um "ecossistema" complexo que depende da atuação em várias frentes. "O 5G é muito rápido [em conexão], mas você precisa escoar esses dados através de redes, entroncamentos, interconexão, ter dispositivos como smartphones adequados, você precisa disso tudo. A implantação da rede é algo que as operadoras resolvem com uma certa facilidade; os fornecedores, como a Huawei, estão preparados para fornecer os equipamentos, mas para operar a rede é preciso que a banda de 3,5 GHz esteja limpa, por conta das tvs à satélite". O executivo da Huawei concorda que a questão da limpeza das bandas é bastante crítica, mas afirma que nas grandes cidades, por onde o 5G vai começar, não vai haver esse problema. "Embora nem todas as capitais estarão cobertas totalmente em julho do ano que vem. As capitais terão cobertura, mas algumas áreas da cidade não. Não há uma obrigação de cobrir tudo imediatamente. Até 2025 é que a cobertura estará totalmente sedimentada', observou Lauria.

 

 

 

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