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WhatsApp caiu e derrubou os negócios na vida real: pequenos empreendedores acumulam prejuízos com queda de apps

De acordo com uma pesquisa do Sebrae, na hora de vender pela internet, 84% dos comerciantes preferem a plataforma de mensagens

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 10/10/2021 às 6:00
ACERVO PESSOAL
"Então, sem o WhatsApp, perdemos tudo que poderíamos ganhar", diz a confeiteira Rayssa Neves, que vende cursos por meio do Instagram e WhatsApp - FOTO: ACERVO PESSOAL
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Com a queda do WhatsApp, Instagram e Facebook, Mark Zuckerberg, o CEO do companhia que reúne as redes e sexto homem mais rico do mundo, perdeu US$ 5,9 bilhões de sua fortuna nessa segunda-feira (4), após uma queda de quase 5% no preço das ações de sua empresa na Nasdaq, a bolsa de tecnologia de Nova York. Engana-se, porém, quem pensa que apenas o poderoso dono do Facebook teve prejuízos com as plataformas fora do ar por quase 6h.

Cada vez mais popular entre os internautas, o WhatsApp é figura certa em praticamente todos os celulares do Brasil. Desde 2018, a ferramenta ainda conta com a opção "business", que abre um canal de comunicação exclusivo para clientes chegarem até o vendedor com mais praticidade.

De acordo com uma pesquisa do Sebrae, só 23% dos empresários têm sites próprios de venda. Na hora de vender pela internet, 84% preferem o WhatsApp – em seguida aparecem Instagram (54%) e Facebook (51%). Nesse cenário, as horas de isolamento digital representaram uma verdadeira odisseia, cujos minutos contabilizados a cada olhada no relógio foram rapidamente convertidos em milhares de reais de prejuízo.

Foi o caso da confeiteira Rayssa Neves, que vende cursos por meio do Instagram e WhatsApp. Em média, a empreendedora cobra R$ 300 pelas aulas. Sem o principal meio de vendas e comunicação do seu negócio, ela amargou uma segunda-feira sem faturamento.

“A gente sempre consegue vender, pelo menos, um curso por dia. Além disso, geralmente, no começo do mês, vendemos dois ou três. Então, sem o WhatsApp, perdemos tudo que poderíamos ganhar na segunda-feira”, diz ela.

Assista à reportagem de 'O Povo na TV', da TV Jornal

Quem também sofreu foi Luana Lima, dona de um restaurante na área central do Recife. Segundo ela, o estabelecimento recebe a maior parte dos pedidos pelo WhatsApp. Com a queda da plataforma, a rotina virou de cabeça para baixo e o faturamento minguou. "Aqui, os problemas começaram bem na hora do almoço", afirma.

"Muitos pedidos não chegaram a ser finalizados pelo cliente e, por isso, nem chegaram até nós. Como também estamos em um aplicativo de delivery, acredito que o prejuízo não vai ser tão grande, mas a falta do WhatsApp deu muito mais dor de cabeça do que qualquer outra coisa".

O taxista Luiz Viana, que atende no bairro do Derby, na área central do Recife, destacou a dificuldade de conseguir atender seus clientes sem as ferramentas. "Eu sempre uso o Whatsapp para marcar as viagens e buscar meus clientes. Eles entram em contato comigo por mensagem e depois me passam a localização por lá também. Na segunda-feira, infelizmente, quase não tive corridas por causa disso", conta o profissional.

Dependência e alternativas

Na avaliação do gerente do Laboratório de Estratégias Digitais de Negócios do Sebrae Pernambuco, Thiago Suruagy, atualmente os diferentes negócios – grandes e pequenos – são afetados com esse tipo de pane nas redes sociais porque as pessoas estão cada vez mais dependentes da tecnologia. Por isso, a alternativa é ter outros canais de atendimento e comunicação.

“Neste caso específico, quando o WhatsApp caiu, vimos que alguns empreendedores migraram rapidamente para o Telegram, mas o volume de pessoas que utilizam essa plataforma ainda é muito incipiente, o que acaba não rendendo o resultado esperado. Mas de certa forma, essa foi uma alternativa que os empresários tiveram”, afirma Suruagy.

DIVULGAÇÃO/SEBRAE
Thiago Suruagy, gerente do Laboratório de Estratégias Digitais de Negócios do Sebrae/PE - DIVULGAÇÃO/SEBRAE

“O episódio da segunda-feira escancarou a nossa dependência e nos mostrou que não podemos estar reféns de uma ou duas plataformas, principalmente, quando elas pertencem a um mesmo conglomerado, como o Facebook, Instagram e WhatsApp. Então, o aprendizado que precisamos retirar disso é que é fundamental e vital a diversificação de canais”, completou.

Na mesma linha, o economista e consultor de gestão de negócios Werson Kaval alerta para a necessidade de não se restringir a poucas plataformas. “Antigamente, nós falávamos que os negócios não podiam se limitar ao espaço físico, precisando criar uma presença digital. Agora, vemos a necessidade de essa presença estar pulverizada em múltiplas plataformas”, diz o especialista.

“O empreendedor precisa estar em aplicativos de delivery, em algum market place. Sempre que possível, precisa ter o seu próprio e-commerce. Claro que isso gera um nível de complexidade maior, mas, de certa forma, cada canal desse tem uma estratégia diferente para garantir o sucesso do negócio”, conclui.

Plataformas fora do ar

As dificuldades para acessar o WhatsApp, o Instagram e o Facebook atingiram internautas em todo o mundo. As causas da falha, no entanto, ainda não são oficialmente, visto que a companhia de Zuckerberg investiga o caso. Apesar disso, a principal hipótese é de que tenha ocorrido um erro de DNS, uma espécie de GPS ou "agenda de contatos" que leva os internautas às páginas.

O problema iniciou por volta das 12h e só após as 18h30, mais de seis horas após o instabilidade começar, o Facebook, o Instagram e o WhatsApp começaram a funcionar novamente.

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