O volume de vendas do comércio varejista brasileiro registrou, em agosto, um recuo de 3,1% segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada na quarta-feira (6), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado representou a maior queda das vendas para meses de agosto desde 2000, início da série histórica da PMC, e frustrou as expectativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) que apontava avanço mensal de 0,5%.
Na avaliação da entidade, o varejo ainda caminha para a normalização do consumo presencial, buscando contrabalançar impactos da inflação, as perdas de receitas impostas pela crise sanitária e a elevação dos custos com energia elétrica e combustíveis. E, considerando esse cenário, a CNC reduziu a expectativa de crescimento do setor em 2021 de 4,9% para 4,6%.
INFLAÇÃO
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, lembra que o resultado negativo das vendas do varejo, coincide com o registro da maior taxa mensal de inflação dos últimos vinte anos, considerando apenas produtos comercializáveis. "É um ponto importante a ser considerado. Esse panorama lança dúvidas sobre a capacidade do varejo sustentar o ritmo de reação apenas com base na queda do isolamento social esperada para os próximos meses", ponderou Tadros.
Na comparação com agosto de 2020, as vendas registraram o maior recuo de 2021, 4,1%, o que também representa a maior queda para meses de agosto desde 2016, 5,5%. Além disso, sete dos dez segmentos acompanhados pelo IBGE apuraram retrações mensais destacando-se as perdas de volume de vendas registradas nos ramos de artigos de uso pessoal e doméstico (-16,0%), equipamentos e materiais para escritório informática e comunicação (-4,7%) e combustíveis e lubrificantes (-2,4%).
HÁBITOS
As vendas em hiper e supermercados, principal ramo do comércio varejista brasileiro, acumularam três meses sem avanços reais: - 0,5% em junho, 0% em julho e - 0,9% em agosto. A razão para estagnação do setor, segundo a CNC, são as altas recorrentes nas tarifas de energia elétrica e de combustíveis, que têm prejudicado os preços de alimentos.
O economista da CNC responsável pelo estudo, Fabio Bentes, destaca que, nos últimos meses, esse comportamento do preço médio de bens de consumo essenciais acabou ressuscitando o hábito de antecipação de compras. "No ano passado, em períodos nos quais a inflação de alimentos situou-se acima de 1%, houve um impacto significativo no fluxo de consumidores a estabelecimentos voltados para a venda de itens essenciais, como alimentos e medicamentos", observa.
Ainda segundo o economista, observou-se uma maior frequência de consumidores nos primeiros dias desses meses. Foi o caso, por exemplo, do período compreendido entre agosto de 2020 e janeiro de 2021, quando o IPCA de alimentos acumulou avanço de 10,7% (média mensal de +1,7%) e observaram-se movimentações atípicas para inícios de mês.