CRISE ENERGÉTICA

Apesar da diminuição do risco de racionamento, contratação de energia emergencial impacta reajuste de 2022 em 7%

A conta de luz aumentou por causa da pouca água existente nos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste. No entanto, agora que os reservatórios estão aumentando, o governo federal decidiu manter as térmicas operando para poupar a água

Angela Fernanda Belfort
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Angela Fernanda Belfort
Publicado em 09/11/2021 às 8:01 | Atualizado em 05/01/2022 às 18:51
AGÊNCIA BRASIL
Os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste estão recuperando a sua capacidade de armazenamento com as chuvas que começaram em outubro - FOTO: AGÊNCIA BRASIL
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Num país em que planejamento não existe, o risco de racionamento diminuiu, mais uma vez, por causa da mãe natureza, que enviou chuvas às regiões dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste que começaram a ocorrer desde outubro último. Isso fez aumentar a quantidade de água desses reservatórios. Agora, a tarifa de energia vai continuar em alta por dois motivos. Primeiro, todas as  térmicas vão continuar produzindo energia para "poupar" a água dos reservatórios. Mas não para por aí. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) homologou no sábado (6) um leilão de contratação emergencial de energia que vai custar ao consumidor residencial do País mais de R$ 40 bilhões a serem divididos nos reajustes anuais da conta de energia, que vão ser cobrados entre 2022 e 2025. Somente esse extra deve gerar um aumento de 7% na conta de luz, anualmente, neste período. 

Como as chuvas vêm ocorrendo desde outubro, alguns técnicos do setor elétrico argumentam que não precisaria mais contratar esta energia emergencial. No entanto, a compra desta energia já tinha cumprido todos os rituais para a contratação. O leilão foi realizado no dia 25 de outubro. A lógica do governo federal foi de que era melhor a energia ficar mais cara do que o País ficar sem energia. 

Agora, os reservatórios atingiram no começo deste mês um patamar parecido com os registrados neste mesmo período do ano passado. Este cuidado - de contratar uma energia a mais - não ocorreu no ano passado, quando o governo federal preferiu acreditar que as chuvas viriam. O que mudou neste cenário é que o País vai eleger um presidente da República em 2022 e não quis correr o risco de ter um racionamento, o que é muito desgastante politicamente.

Os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste estavam com 18,66% da sua capacidade de armazenamento de água no domingo (7), contra os 16,8% que estavam no último dia 29 de setembro, quando perdiam 0,2% da quantidade de água armazenada por dia. E cerca de 70% de toda a água que pode ser acumulada para gerar energia no Brasil estão nos reservatórios destas duas regiões. O período úmido destas áreas começa em novembro, mas este ano já ocorreram chuvas em outubro.

"O risco de racionamento deve cair pra zero até o final deste ano. O risco está bem menor", comentou o diretor da comercializadora Kroma Energia, Rodrigo Mello, argumentando que mesmo com todas as térmicas operando não se sabe ainda se vai conseguir fazer com que os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste se recuperem.

CRISE

Desde o começo da atual crise hídrica, que a bandeira da conta de energia dos clientes começou a subir por causa do aumento da energia produzida pelas termelétricas, que têm um custo maior porque usam combustíveis, como o gás natural e diesel, para gerar energia. "O risco que tem hoje é o mesmo existente nesta época do ano passado, que não teve racionamento", comentou o diretor da consultoria JBCon, João Bosco de Almeida. E acrescentou: "Já a conta de luz vai continuar pesada por alguns anos, porque a conta das térmicas é grande e não pode ser cobrada, de uma só vez, ao consumidor". Na última grande estiagem que atingiu o Sudeste (em 2012), a conta das térmicas fez o reajuste anual da conta de luz ser mais alto por pelo menos três anos.

Além dos R$ 40 bilhões adicionais calculados pela Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace) pela contratação homologada no sábado (6), o consumidor do mercado cativo - formado pelo consumidor que compra das distribuidoras, como é o caso da Neoenergia para os pernambucanos - também vai pagar por todas as térmicas que estão trabalhando agora, inclusive as mais caras.

Algumas delas estão vendendo o megawatt-hora (MWh) por cerca de R$ 2 mil, quando a média do preço da energia comercializada no mercado livre está em cerca de R$ 200. Em outras palavras, energia não vai faltar, mas comece a pensar em economizar, porque a conta de luz já está cara e vai continuar subindo. A estimativa dos técnicos do setor é de que o reajuste anual - do próximo ciclo - fique entre 12% e 20%. No caso dos pernambucanos, este aumento será em abril, quando faz aniversário a data do contrato de concessão da distribuidora Neoenergia Pernambuco.

Bastidores da Notícia

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ANDRÉ NERY/ACERVO/JC IMAGEM
NA CONTA Empréstimo feito pelo governo federal será pago pelo consumidor através da fatura de energia - FOTO:ANDRÉ NERY/ACERVO/JC IMAGEM

Brasil tem mais de 800 mil consumidores gerando energia solar

É a geração própria (pelo consumidor) que já tem uma capacidade instalada para gerar 7,2 gigawatts, o que corresponde a mais da metade da usina hidrelétrica de Itaipu

Brasil tem mais de 800 mil consumidores gerando energia solar
Os consumidores residenciais respondem por 75,8% de toda a geração própria instalada no Brasil que produzem energia, em pequenas unidades, a partir da radiação solar

A alta do preço da energia está contribuindo para muita gente começar a gerar sua própria energia no telhado. O Brasil acaba de ultrapassar a marca de 800 mil unidades consumidoras com geração própria de energia a partir da fonte solar, segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar). A modalidade representa mais de 7,2 gigawatts (GW) de potência instalada, o que corresponde a mais da metade da potência da usina hidrelétrica de Itaipu, uma das maiores do mundo.

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O investimento feito nestas pequenas unidades é estimado em R$ 36,7 bilhões.  Ainda de acordo com a Associação, foram mais de 217 mil empregos acumulados desde 2012, espalhados pelas cinco regiões nacionais.

Os consumidores residenciais representam 75,8% do total de geração própria do País. Eles são os que mais sentem os aumentos constantes da conta de energia do mercado cativo, aqueles consumidores que só podem comprar de um único fornecedor de energia, que geralmente é a distribuidora que leva energia para todo o Estado. No caso dos pernambucanos, a distribuidora é a Neoenergia Pernambuco. 

Depois dos consumidores residenciais, 14,4% da geração própria foi implantada pelos setores de comércio e serviços (14,4%), seguidos pelos produtores rurais (com 7,3%), das  indústrias (2,1%), poder público (0,3%), serviços públicos (0,02%) e iluminação pública (0,01%).

A geração própria de energia solar está ocorrendo em 5.083 municípios do País e em todos os Estados. Os cinco municípios líderes neste tipo de produção de energia são as seguintes cidades Cuiabá, no Mato Grosso; Brasília, no Distrito Federal; Uberlândia, em Minas Gerais; Teresina,no Piauí, e Rio de Janeiro, no Estado de mesmo nome.

“A energia solar terá função cada vez mais estratégica para o atingimento das metas de desenvolvimento econômico e ambiental do País, sobretudo neste momento, para ajudar na recuperação da economia após a pandemia, já que se trata da fonte renovável que mais gera empregos no mundo”, afirma o presidente da ABSolar, Rodrigo Sauaia.

Este tipo de geração também "ajuda a reduzir as perdas elétricas e novos gastos com infraestrutura, que seriam cobrados nas faturas de energia elétrica”, como explica o presidente do Conselho de Administração da entidade, Ronaldo Koloszuk. Isso ocorre porque grande parte desta energia é consumida no próprio local onde ocorre a geração e somente o excedente é colocado na rede da distribuidora, que, em princípio, vai fornecer esta energia para os clientes que estão nas proximidades. Isso é bom até para o sistema elétrico nacional, como um todo, porque esta energia não vai passar pelas grandes linhas de transmissão.  

O Brasil tem um dos melhores recursos solares do planeta, mas continua atrasado na geração própria, quando se compara com o total da população. A geração própria é realizada com a implantação de uma pequena unidade que produzir energia. Dos mais de 88 milhões de consumidores de eletricidade do País, apenas 0,9% já faz uso do sol para produzir energia limpa, renovável e competitiva. Segundo análise da ABSolar, a tecnologia fotovoltaica em telhados e pequenos terrenos deve ganhar um impulso importante neste e nos próximos anos.






“A energia solar tem ajudado a baratear a conta de luz de todos os brasileiros com a redução do uso de termelétricas fósseis, mais caras e poluentes e responsáveis pela bandeira vermelha, incluindo o adicional de escassez hídrica. Também ajuda a reduzir as perdas elétricas e novos gastos com infraestrutura, que seriam cobrados nas faturas de energia elétrica”, comenta o presidente do Conselho de Administração da entidade, Ronaldo Koloszuk.



Sobre a ABSOLAR

Fundada em 2013, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) congrega empresas e profissionais de toda a cadeia produtiva do setor solar fotovoltaico com atuação no Brasil, tanto nas áreas de geração distribuída quanto de geração centralizada. A ABSOLAR coordena, representa e defende o desenvolvimento do setor e do mercado de energia solar fotovoltaica no Brasil, promovendo e divulgando a utilização desta energia limpa, renovável e sustentável no País e representando o setor fotovoltaico brasileiro internacionalmente.

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