Abrindo a série de produções sobre a fome pelos veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), a Rádio Jornal promoveu um debate no programa Super Manhã, nesta sexta-feira (17), para tratar do assunto.
Com o tema "O Brasil com fome", o debate foi mediado pelo apresentador Wagner Gomes e contou com a participação dos sociólogos José Arlindo Soares e Renato Carvalheira, especialistas na obra do pernambucano Josué de Castro, o primeiro cientista a estudar o fenômeno da fome. Além deles, a jornalista Adriana Guarda participou da conversa, na qual os debatedores discutiram sobre os motivos do aumento da miséria e apontaram como governo, sociedade e associações civis podem resolver o problema no País.
Soares começou sua participação citando Josué de Castro e afirmando que a fome não é um problema natural, mas produzido socialmente por um conjunto de fatores. Por isso, ele defende que o combate à fome não é um problema que deve ser enfrentado apenas pelo Estado, mas pelo conjunto da sociedade.
Segundo ele, a sociedade tem se mobilizado com mais força por meio de programas de assistência social, mas é preciso restabelecer as condições para a sociedade atuar de forma permanente. Por exemplo, exercendo maior controle sobre os conselhos da merenda escolar.
“Quando existe uma sociedade ativa cobrando uma produção e distribuição de merenda adequada, há, claramente, uma melhoria nas condições de alimentação dos setores mais pobres. Então, a participação da sociedade nos conselhos é decisiva em todos os níveis. Assim, ela fiscaliza a presença e a responsabilidade do Estado”, afirmou José Arlindo Soares.
Na busca por soluções para o enfrentamento da fome, o sociólogo Renato Carvalheira apontou que a criação, por parte dos governos, de políticas públicas para aumentar o nível de renda dos brasileiros pode contribuir para reduzir o número de pessoas atingidas pela fome no Brasil.
De acordo com o especialista, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (RBPSSAN) realizou uma pesquisa em dezembro de 2020, na qual foi identificado que quando uma família tem renda maior ou igual a 1,5 salário mínimo, a fome tende a desaparecer.
“Mas vale frisar que a fome envolve outras questões além da renda. O Brasil sempre teve programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, que agora é o Auxílio Brasil. Mas eles, obviamente, têm um limite", disse ele.
“Voltando a Josué de Castro, a fome é multicausal. E, desta forma, suas soluções também envolvem múltiplos fatores. Por isso, o Estado sozinho, através das políticas públicas, não consegue acabar com a fome. É necessária a participação exitosa da sociedade civil”, emendou Carvalheira.
Em relação às responsabilidades do Estado, Renato defendeu a criação de programas de transferência de renda permanentes, que não tenham características de programas apenas de um governo. "Aqui, entra a ideia da Renda Básica, que tem uma série de características, como permanência e garantias mínimas para as famílias", defendeu, ressaltando a necessidade de se diminuir a concentração de renda na mão de poucos e o retorno da geração de emprego.
Na mesma linha, José Arlindo apontou a necessidade de o País voltar a crescer para um enfrentamento mais adequado deste problema. "Todo esse cenário vai continuar se não tivermos um crescimento econômico razoável para recompor as perdas da pandemia", concluiu.
Agora, o SJCC começa uma série de reportagens sobre a fome. A proposta é materializar o tema por meio de histórias de pessoas que vivem o drama da fome em Pernambuco. São mulheres e homens que viram sua situação piorar graças ao fim de políticas públicas, do aumento do desemprego, do baixo crescimento econômico, da inflação e de outros fatores econômicos que corroeram o poder de consumo das famílias.
"O debate desta sexta abre essa discussão sobre a fome, que afeta o País e muito fortemente o Nordeste e, consequentemente, Pernambuco, é um ponto de partida para que a sociedade, e sobretudo os governos, entendam que esta é uma chaga que já deveria ter sido abolida do nosso País. Nós, como sistema de comunicação que somos, temos o dever de denunciar e colocar luz sobre este problema tão grave, tão sério, tão urgente, e que afeta cada vez mais brasileiros", afirma a diretora de jornalismo da Rádio e TV Jornal, Mônica Carvalho.
No JC, a produção começa no domingo (19) e segue até a quarta-feira (22). A primeira matéria vai contar um pouco da história de Josué de Castro, o homem-fome que tornou-se referência internacional nos estudos desse fenômeno. Cidadão do mundo, Josué não teve no Brasil a mesma deferência internacional, sendo indicado até ao Nobel da Paz. Sua obra, no entanto, permanece viva e merece ser revisitada num momento em que o Brasil revive a mazela da fome.
"O tema da fome sob vários pontos de vista já foi abordado em várias plataformas do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. O que a gente está começando agora é um debate que se tornou urgente, necessário, diante das condições gerais da situação econômica e social do Brasil. Com esse debate hoje a gente abre uma discussão importante de olho em 2022. A fome é um tema que ganhará muito espaço no debate eleitoral de 2022, junto com outros temas, que nós vamos abordar daqui até o período de eleição", destaca o diretor de Redação do JC, Laurindo Ferreira.
Ele aponta, ainda, a importância de fomentar o debate para ajudar a população a refletir e se decidir nas próximas eleições. "Estamos considerando a fome o abre-alas para chamar a atenção dos candidatos aos cargos eletivos. O tema é uma contribuição para um debate muito necessário. A partir da fome a gente abre um leque de debates sobre temas que são importantes para a eleição de 2020. Temas que interessam não só aos políticos, mas também à sociedade. No próximo ano a sociedade terá que tomar uma decisão importante e aqui a nossa intenção é ajudar nesse debate para que as pessoas reflitam", complementa.
Na TV Jornal, a série tem reportagem de Beatriz Albuquerque, com imagens de Guga Matos, Day Santos e Alex Oliveira. A produção é de Laís Reynaux, a edição de texto de Denis Cavalcanti, a edição de vídeo de Cristiane Gomes e a direção de jornalismo de Mônica Carvalho. A série poderá ser vista de segunda a quarta-feira (20 a 22), no TV Jornal Meio-Dia.
Nesses dias, o Jornal do Commercio e a TV Jornal estarão trabalhando os mesmos temas nas suas produções. No JC, a reportagem é de Adriana Guarda e as imagens de Guga Matos, Day Santos e Alex Oliveira. A edição de texto é de Raphael Guerra e a direção de jornalismo de Laurindo Ferreira.