Na Rádio Jornal, especialistas apontam soluções para combate à fome e convocam sociedade civil e governos para esta luta

O debate abriu a série de produções sobre a fome pelos veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC)
Adriana Guarda
Marcelo Aprígio
Publicado em 17/12/2021 às 12:40
Situação de pessoas em situação de rua durante a pandemia. Muitos não contam com auxilio do governo e vivem pedido dinheiro e comida Foto: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM


Abrindo a série de produções sobre a fome pelos veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), a Rádio Jornal promoveu um debate no programa Super Manhã, nesta sexta-feira (17), para tratar do assunto.

Com o tema "O Brasil com fome", o debate foi mediado pelo apresentador Wagner Gomes e contou com a participação dos sociólogos José Arlindo Soares e Renato Carvalheira, especialistas na obra do pernambucano Josué de Castro, o primeiro cientista a estudar o fenômeno da fome. Além deles, a jornalista Adriana Guarda participou da conversa, na qual os debatedores discutiram sobre os motivos do aumento da miséria e apontaram como governo, sociedade e associações civis podem resolver o problema no País.

Soares começou sua participação citando Josué de Castro e afirmando que a fome não é um problema natural, mas produzido socialmente por um conjunto de fatores. Por isso, ele defende que o combate à fome não é um problema que deve ser enfrentado apenas pelo Estado, mas pelo conjunto da sociedade.

Segundo ele, a sociedade tem se mobilizado com mais força por meio de programas de assistência social, mas é preciso restabelecer as condições para a sociedade atuar de forma permanente. Por exemplo, exercendo maior controle sobre os conselhos da merenda escolar.

“Quando existe uma sociedade ativa cobrando uma produção e distribuição de merenda adequada, há, claramente, uma melhoria nas condições de alimentação dos setores mais pobres. Então, a participação da sociedade nos conselhos é decisiva em todos os níveis. Assim, ela fiscaliza a presença e a responsabilidade do Estado”, afirmou José Arlindo Soares.

Na busca por soluções para o enfrentamento da fome, o sociólogo Renato Carvalheira apontou que a criação, por parte dos governos, de políticas públicas para aumentar o nível de renda dos brasileiros pode contribuir para reduzir o número de pessoas atingidas pela fome no Brasil.

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM - Combate à fome

De acordo com o especialista, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (RBPSSAN) realizou uma pesquisa em dezembro de 2020, na qual foi identificado que quando uma família tem renda maior ou igual a 1,5 salário mínimo, a fome tende a desaparecer.

“Mas vale frisar que a fome envolve outras questões além da renda. O Brasil sempre teve programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, que agora é o Auxílio Brasil. Mas eles, obviamente, têm um limite", disse ele.

“Voltando a Josué de Castro, a fome é multicausal. E, desta forma, suas soluções também envolvem múltiplos fatores. Por isso, o Estado sozinho, através das políticas públicas, não consegue acabar com a fome. É necessária a participação exitosa da sociedade civil”, emendou Carvalheira.

Em relação às responsabilidades do Estado, Renato defendeu a criação de programas de transferência de renda permanentes, que não tenham características de programas apenas de um governo. "Aqui, entra a ideia da Renda Básica, que tem uma série de características, como permanência e garantias mínimas para as famílias", defendeu, ressaltando a necessidade de se diminuir a concentração de renda na mão de poucos e o retorno da geração de emprego.

Na mesma linha, José Arlindo apontou a necessidade de o País voltar a crescer para um enfrentamento mais adequado deste problema. "Todo esse cenário vai continuar se não tivermos um crescimento econômico razoável para recompor as perdas da pandemia", concluiu.

SJCC faz série sobre a fome

Agora, o SJCC começa uma série de reportagens sobre a fome. A proposta é materializar o tema por meio de histórias de pessoas que vivem o drama da fome em Pernambuco. São mulheres e homens que viram sua situação piorar graças ao fim de políticas públicas, do aumento do desemprego, do baixo crescimento econômico, da inflação e de outros fatores econômicos que corroeram o poder de consumo das famílias.

"O debate desta sexta abre essa discussão sobre a fome, que afeta o País e muito fortemente o Nordeste e, consequentemente, Pernambuco, é um ponto de partida para que a sociedade, e sobretudo os governos, entendam que esta é uma chaga que já deveria ter sido abolida do nosso País. Nós, como sistema de comunicação que somos, temos o dever de denunciar e colocar luz sobre este problema tão grave, tão sério, tão urgente, e que afeta cada vez mais brasileiros", afirma a diretora de jornalismo da Rádio e TV Jornal, Mônica Carvalho.

No JC, a produção começa no domingo (19) e segue até a quarta-feira (22). A primeira matéria vai contar um pouco da história de Josué de Castro, o homem-fome que tornou-se referência internacional nos estudos desse fenômeno. Cidadão do mundo, Josué não teve no Brasil a mesma deferência internacional, sendo indicado até ao Nobel da Paz. Sua obra, no entanto, permanece viva e merece ser revisitada num momento em que o Brasil revive a mazela da fome.

"O tema da fome sob vários pontos de vista já foi abordado em várias plataformas do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. O que a gente está começando agora é um debate que se tornou urgente, necessário, diante das condições gerais da situação econômica e social do Brasil. Com esse debate hoje a gente abre uma discussão importante de olho em 2022. A fome é um tema que ganhará muito espaço no debate eleitoral de 2022, junto com outros temas, que nós vamos abordar daqui até o período de eleição", destaca o diretor de Redação do JC, Laurindo Ferreira.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM - Combate à fome

Ele aponta, ainda, a importância de fomentar o debate para ajudar a população a refletir e se decidir nas próximas eleições. "Estamos considerando a fome o abre-alas para chamar a atenção dos candidatos aos cargos eletivos. O tema é uma contribuição para um debate muito necessário. A partir da fome a gente abre um leque de debates sobre temas que são importantes para a eleição de 2020. Temas que interessam não só aos políticos, mas também à sociedade. No próximo ano a sociedade terá que tomar uma decisão importante e aqui a nossa intenção é ajudar nesse debate para que as pessoas reflitam", complementa.

Na TV Jornal, a série tem reportagem de Beatriz Albuquerque, com imagens de Guga Matos, Day Santos e Alex Oliveira. A produção é de Laís Reynaux, a edição de texto de Denis Cavalcanti, a edição de vídeo de Cristiane Gomes e a direção de jornalismo de Mônica Carvalho. A série poderá ser vista de segunda a quarta-feira (20 a 22), no TV Jornal Meio-Dia.

Nesses dias, o Jornal do Commercio e a TV Jornal estarão trabalhando os mesmos temas nas suas produções. No JC, a reportagem é de Adriana Guarda e as imagens de Guga Matos, Day Santos e Alex Oliveira. A edição de texto é de Raphael Guerra e a direção de jornalismo de Laurindo Ferreira.

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