NEGÓCIOS

Digital já não basta para as empresas e abre espaço para novos caminhos de vendas

Estar apenas no universo online já não é suficiente para conseguir agradar os clientes e fazê-los concretizar compras

Cadastrado por

JC

Publicado em 27/02/2022 às 8:00
BONJOUR FLORES Marcela busca oferecer a experiência sensorial e logística tanto online quanto offline - ANDREA REGO BARROS

Mais do que ter diversos canais de compra disponíveis para o consumidor, o empreendedor, sobretudo após a aceleração e manutenção de hábitos em virtude da pandemia da covid-19, precisa estar ciente de que o seu negócio precisa ser “phygital”. O termo inglês nada mais é do que a junção do mundo físico com o digital, garantindo aos negócios a completude para atender os anseios do consumidor, sem deixar escapar o faturamento.

Parece contraditório, mas não é incomum que negócios geminados no âmbito digital, ao ganharem fôlego, tenham entre as suas prioridades fincar os pés num espaço físico. A diferença agora é que não se trata apenas de um processo para fazer com que a empresa atenda um público que não está acostumado com as compras online, mas sim aprimorar a experiência da jornada desse cliente, que busca soluções híbridas que facilitem seu processo de compra.

“O Phygital é uma nova dimensão de experiência, oferecendo antes de tudo a escolha, de fato essa liberdade. Há uma incorporação das funcionalidades digitais, trazendo a experiência física e digital integrada, sempre com o consumidor em evidência nessa experiência híbrida”, resume a sócia local da consultoria PwC e líder da área de consumo e marketing, Helena Rocha.

Atualmente, é sabido por quem empreende que é imprescindível manter um perfil no Instagram ou outra rede social, por exemplo, mas isso não quer dizer que a possibilidade de vendas num espaço físico esteja no desalento. Dados da própria PwC apontam que um ano após o início da pandemia, a loja física continua sendo o canal preferido para compras diárias ou semanais, com 41% da preferência ao redor do mundo. No Brasil, o percentual está em 24%. Embora a compra digital ganhe a predileção dos brasileiros, com 30%, a diferença não é grande; e isso tem explicação.

Helena Rocha, sócia PwC - Divulgação

Para 22% dos brasileiros a ida à loja se explica pela necessidade de ver e tocar os produtos. Enquanto que nas compras digitais são imprescindíveis a entrega rápida e confiável (49%); disponibilidade em estoque e facilidade para encontrar o que procura no site (36%).

Para o dono do negócio, o melhor dos mundos para fazer com o que o cliente efetue a compra é estar ao dispor dele, oferecendo a experiência sensorial e logística, por exemplo, em qualquer que seja o ambiente - online, offline ou os dois juntos. Foi justamente isso que fez Marcela Montenegro expandir seu negócio com pouco mais de um ano após abertura.

A Bonjour Flores, que surgiu em plena pandemia com a venda, via aplicativo de mensagens, de flores desidratadas, primeiro ganhou um e-commerce com envio para todo o Brasil e, em seguida, duas lojas físicas que garantem ao consumidor mais do que apenas a possibilidade de compra.

“Para mim vale muito mais do que qualquer venda o que eu ouvi de duas senhorinhas clientes, dizendo: “A gente precisa desse momento”. Quem vai à loja não encontra só as flores, tem café, música francesa, banquinhos… Toda uma experiência sensorial. E para quem compra online também temos o mesmo cuidado, as flores chegam com aromas e em embalagens instagramáveis", conta a empresária.

Apesar de ter começado no e-commerce, com entregas predominantemente locais, é na loja que os clientes gastam mais, com um ticket médio 30% maior. A experiência da venda física deu tão certo para a Bonjour que, após a abertura de sua primeira loja com experiência sensorial, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, foi preciso reinaugurar a loja da Zona Norte, no bairro da Jaqueira, conferindo a mesma padronização.

O resultado foi um aumento de 50% no faturamento da unidade - o que ajudou a elevar as vendas físicas para uma parcela de 70% do total do volume de vendas, quando avaliado junto ao desempenho do e-commerce.

“Uma coisa não se sobrepõe à outra. As vendas têm se complementado e, ao que parece, aberto espaço nesse mercado que estava carente no Recife”, frisa Marcela.

Para a sócia da PwC, o caminho é exatamente esse que os empreendedores precisam trilhar é exatamente esse. “O consumidor está procurando cada vez mais valor, em toda a jornada (de venda) que começa desde achar o que ele quer, na hora que ele quer até comprar com tranquilidade, sentindo e experimentando o que deseja”, pontua.

E o investimento na loja física, agregada ao e-commerce, não necessariamente precisa representar um acréscimo de custos. A empresa de acessórios feitos a mão e glitter Vamo Brilhar! encontrou no modelo de loja colaborativa a saída para conseguir dar conta da demanda de clientes que gostariam de cumprir uma jornada de compra para além do digital.

Vamo Brilhar! apostou na venda em postos físicos por meio de lojas colaborativas - DIVULGAÇÃO

“Mesmo com esses anos já sem Carnaval, começamos a investir em linha de acessórios com a proposta de levar o brilho da folia para o dia a dia das pessoas. Fortalecemos os nossos canais de venda, criando um site e melhorando as estratégias de divulgação nas redes sociais. Mas, com a retomada das atividades, em 2021, os clientes voltaram a demandar um ponto físico de vendas, para que pudessem ver as peças pessoalmente. Então, retomamos a parceria com a Me Poupe, loja colaborativa localizada na zona norte do Recife, e voltamos a expor as peças em agosto de 2021”, conta uma das sócias da empresa, Amanda Miranda.

O acerto na estratégia é percebido com a triplicação das vendas no último mês de dezembro e um aumento gradual neste começo de 2022, mesmo sem que haja o maior propulsor de vendas para o período: o Carnaval.

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