''Dinheiro esquecido'' frustra brasileiros que possuem somente centavos para resgate

Em janeiro, o Banco Central (BC) anunciou que liberaria R$ 8 bilhões em valores esquecidos pelos brasileiros e o sistema, simplesmente, saiu do ar por conta da alta procura.

Com a consulta funcionando em fevereiro, os brasileiros souberam, apenas, se havia dinheiro a ser recuperado ou não, mas o valor disponível não foi informado.

Na última segunda (7), o mistério acabou. O valor que cada pessoa ou empresa tem para transferir foi liberado e acabou frustrando em muitos casos. Há relatos de quem encontrou apenas centavos esquecidos nos bancos.

"Foram 0,76 centavos para o meu marido. Eu que fiz a consulta. Disseram que eram milhões, mas era o somatório da população, poderíamos ter nada ou muito dinheiro, mas não conheço ninguém que tenha retirado muito dinheiro. Minha irmã tinha quatro centavos. Não fiquei chateada porque nada no Brasil me chateia mais, estou imune. E entendi que é o somatório de todo mundo", contou a empresária pernambucana Susana Martins de Lucena ao JC.

Ela explica que a expectativa era grande. "Pensávamos que era um dinheirinho maior, nem dormi direito, acordei às 4h, dormia e acordava. Pra retirar tinha de ligar para um 0800, tinha um e-mail, mas deixei para lá. Eu não tinha nenhum para mim. Verifiquei somente o do meu marido", contou.

O BC informou que entre os dias 7 e 11 de março, nascidos antes de 1968 podem descobrir quanto têm para retirar e pedir a transferência bancária. Ao fazer a consulta, o sistema informa a data de retorno para informação sobre o valor a ser recuperado. O valor pode ser transferido via Pix, DOC ou TED, sem taxas. Segundo balanço do BC, cerca de 25,9 milhões de pessoas físicas e 253 mil empresas descobriram que têm recursos a receber.

Expectativa x realidade

Na segunda (7), Antonia Campos, de 83 anos, que mora em Natal (RN), contou ao G1 que chegou a fazer planos quando soube que tinha dinheiro para receber. No entanto, ela se frustrou quando descobriu que tinha apenas R$ 2,82.

"Fiz tantos planos, disse que ia trocar meu carro, porque o meu é pequeno demais. Gravei o dia para saber logo, mas onde já se viu banco guardar dinheiro de alguém de graça?", questionou. Segundo ela, o valor de R$ 2,82 era de um consórcio que havia iniciado anos atrás, mas abandonou após uma discussão em uma reunião.

Piada

O baixo valor de dinheiro esquecido em bancos vira meme em redes sociais. "Meu pai está rico graças ao 'valores a receber'. Obrigada, Banco Central", disse uma internauta no Twitter ao mostrar o saldo disponível de R$ 0,96.

"Há duas semanas, minha mãe viu que tinha algum valor pra receber naquele negócio do Banco Central, mas não dava pra ver quanto, pois só liberava dia 10. Hoje, ela pediu pra eu ver e tinha esse valor", disse outro sobre o saldo de noventa e sete centavos.

"Fui consultar aqueles valores a receber do banco central pro meu vô. O veinho ficou rico com o total de 0,33 centavos que tem pra ele", afirmou o usuário Iúri Matos.

Confira o passo a passo para a retirada do dinheiro:

Passo 1

Acessar o site valoresareceber.bcb.gov.br na data e no período de saque informado na primeira consulta. Quem esqueceu a data pode repetir o processo.

Passo 2

Fazer login com a conta Gov.br (nível prata ou ouro). Se o cidadão ainda não tiver conta nesse nível, deve fazer logo o cadastro ou aumentar o nível de segurança (no caso de contas tipo bronze) no site ou no aplicativo Gov.br. O BC aconselha ao correntista não deixar para criar a conta e ajustar o nível no dia de agendar o resgate.

Passo 3

Ler e aceitar o termo de responsabilidade

Passo 4

Verificar o valor a receber, a instituição que deve devolver o valor e a origem (tipo) do valor a receber. O sistema poderá fornecer informações adicionais, se for o caso. A primeira etapa da consulta só informava a existência de valores a receber, sem dar detalhes.

Passo 5

Clicar na opção indicada pelo sistema:

"Solicitar por aqui": para devolução do valor via Pix em até 12 dias úteis. O usuário deverá escolher uma das chaves Pix e informar os dados pessoais e guardar o número de protocolo, caso precise entrar em contato com a instituição.

"Solicitar via instituição": a instituição financeira não oferece a devolução por Pix. O usuário deverá entrar em contato pelo telefone ou e-mail informado para combinar com a instituição a forma de retirada.

Importante: Na tela de informações dos valores a receber, o cidadão deve consultar os canais de atendimento da instituição clicando no nome dela.

Calendário

Quem nasceu antes de 1968 ou abriu a empresa antes desse ano poderá conhecer o saldo residual e pedir o resgate entre 7 e 11 de março, no mesmo site.

A própria página informará o horário e a data para pedir o saque. Caso o usuário perca o horário, haverá uma repescagem em 12 de março, das 4h às 24h.

Para pessoas nascidas entre 1968 e 1983 ou empresas fundadas nesse período, o prazo será de 14 a 18 de março, com repescagem em 19 de março.

Quem nasceu a partir de 1984 ou abriu empresa nesse ano, a data vai de 21 e 25 de março, com repescagem em 26 de março. As repescagens também ocorrerão aos sábados no mesmo horário, das 4h às 24h.

Quem perder o sábado de repescagem poderá pedir o resgate a partir de 28 de março, independentemente da data de nascimento ou de criação da empresa.

O BC esclarece que o cidadão ou empresa que perderem os prazos não precisam se preocupar. O direito a receber os recursos são definitivos e continuarão guardados pelas instituições financeiras até o correntista pedir o saque.

Após o pedido de saque, a instituição financeira terá até 12 dias úteis para fazer a transferência. A expectativa é que pagamentos realizados por meio do Pix ocorram mais rápido. Nesta primeira fase, estão sendo liberados R$ 3,9 bilhões esquecidos em instituições financeiras. Em maio, haverá uma nova rodada de consultas, com mais R$ 4,1 bilhões disponíveis.

Além dos valores residuais em bancos, o cidadão pode ter outras fontes de dinheiro esquecido, como cotas de fundos públicos, revisão de benefícios da Previdência Social, restituições na malha fina do Imposto de Renda e até pequenos prêmios de loterias.