Com a suspensão do ponto facultativo de Carnaval em Pernambuco, a cadeia produtiva do turismo já olha para a frente, com a expectativa de maior movimentação em feriados como a Semana Santa (em abril) e, principalmente, o São João (em junho). Representantes do setor adotam cautela nas previsões, por conta do cenário pandêmico, mas se mostram confiantes em um maior volume de flexibilização das atividades.
Confira o debate da Rádio Jornal sobre a não realização do Carnaval em Pernambuco:
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Durante a tarde desta terça-feira, o Governo de Pernambuco já realizou uma flexibilização das regras de convivência com a covid-19, que entra em vigor a partir desta quarta-feira (2). Fica autorizada a realização de eventos sociais com 1,5 mil pessoas ou 70% da capacidade em ambientes fechados, e de até três mil pessoas ou 70% da capacidade em locais abertos. Segue obrigatória a apresentação do passaporte vacinal e de teste negativo a partir de 500 pessoas. As mudanças são válidas até o dia 15 de março. O Estado havia cancelado festas de Carnaval e proibido a realização de eventos de qualquer tipo entre os dias 25 de fevereiro e 1º de março, a sexta pré-carnavalesca e a Terça-Feira Gorda, respectivamente.
Presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos em Pernambuco (Abrape), Waldner Bernardo comenta que a volta será gradativa, mas ressalta que alguns eventos já estão programados. "A gente imagina sim que ocorra a Semana Santa e o São João. A Semana Santa é uma manifestação pública religiosa, tem o evento turístico da Paixão de Cristo, que já realiza venda de ingressos, mas o São João é uma festa de cunho muito maior e é necessário antecedência na preparação, captação de recursos, não temos precisamente o quanto teremos de São João da ordem pública, mas com a liberação deve acontecer".
Ainda segundo Waldner, no feriado de Tiradentes, em 21 de abril, já estão previstos eventos com camarotes e a realização de festas que foram proibidas no período carnavalesco.
Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE), Eduardo Cavalcanti, explica que o setor hoteleiro já vende pacotes visando a Semana Santa e o São João, mas cobra um calendário de eventos para além dessas datas. "A Semana Santa tem histórico de movimentação muito boa por conta do teatro de Fazenda Nova e isso se dá muito por conta do feriado prolongado, mas o que será feriado só saberemos em cima. A hotelaria tenta vender pacotes de Semana Santa, mas sem amarrar a nenhuma festividade, Gravatá tem algumas festas da iniciativa privada que mexem com a hotelaria, mas não estão liberadas. E temos pacote de São João, o planejamento está sendo feito semanalmente, quinzenalmente, pois tivemos cancelamento de 30% das reservas feitas no Carnaval, pois foi cancelado em cima. Então, não adianta fazer uma previsão grande e não sabemos o que vai caminhar", disse.
Ele explica que mais do que a festa o importante é o feriado, pois as pessoas viajam para descanso. "Na Semana Santa, há pacotes de quatro, cinco dias, e se espera movimentação satisfatória, mas não é com Semana Santa e São João que você resolve, precisa de movimentação constante, com feriado prolongado. A Semana Santa é muito regional, o litoral já entra no período chuvoso. Mas, como o inverno é fraco, ainda traz parcela do Sul e Sudeste. Mas, a maior demanda será no interior. A demanda maior passa a ser Caruaru, Gravatá, pessoas vão descansar, vão ao turismo de lazer e ele não depende das festas, depende do feriado. Quem vai a um resort, por exemplo, não se preocupa com Carnaval ou não", comentou.
Ele explicou como o cancelamento do ponto facultativo e das festas impactou na rede hoteleira do Estado. "Vimos o cancelamento do ponto facultativo, mas quem vem ao litoral ou para um hotel fazenda vem com objetivo fugir do Carnaval. Então, a restrição das festividades de grande porte, como Galo da Madrugada, ou das ladeiras de Olinda, que as pessoas não respeitaram, e nada disso era prudente, mas o cancelamento prejudicou hotéis. A taxa média de ocupação no estado foi de 62% e, geralmente, passa de 85% neste período", disse.
Em Petrolina, no Sertão do Estado, as atenções também estão voltadas para o São João 2022. "A Semana Santa é religiosa, nossa programação é feita com a igreja, se prepara seguindo calendário cristão, não tem programação de festejo profano. O nosso turismo é constante, temos ações da rede hoteleira, turismo empresarial, visita a fazenda, ao agronegócio, fruticultura, passeios nos rios, vinícolas. Mas, nossa maior festa em volume turístico que dura onze dias é o circuito junino. E a expectativa é de que a pandemia diminua e os festejos aconteçam, a gente acredita que vai acontecer e começamos preparativos para que possa acontecer", disse o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo da Prefeitura de Petrolina, Jorge Assunção. A prefeitura de Caruaru foi contatada pela reportagem e disse que vem acompanhando o cenário pandêmico para a tomada de decisões. A reportagem não conseguiu contato com a Prefeitura de Gravatá.
Em entrevista recente à Rádio Jornal Caruaru, o ministro do Turismo, Gilson Machado, também falou em São João. "Apesar de nós não termos tido São João esse ano, eu quero dizer agora, para todos os ouvintes de Caruaru, que vai ter São João em 2022 e que o São João de Caruaru em 2022 vai valer por dois", afirmou.
Ao tratar das expectativas para o ano e da não realização do Carnaval durante debate na Rádio Jornal, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Pernambuco (Abrasel-PE), André Araújo, disse que a música ao vivo no período carnavalesco foi um atrativo importante. "Tivemos focos com queda e outros com aumento (de movimento nos bares e restaurantes), temos a característica de bar/restaurante com música ao vivo, ela se tornou atrativo a mais, acabou criando componente de entretenimento e lazer forte, supriu a decepção de não ir para as ladeiras de Olinda ou ao Recife antigo e contentaram ir a mesa de bar fazer sua comemoração carnavalesca", disse.
Ele destacou a importância da vacinação, falou sobre a necessidade de mão de obra, pois a pandemia fez com que muitos profissionais fossem para outras áreas e destacou que o setor de bares e restaurantes precisa de atenção, por cota da alta geração de empregos.
O setor hoteleiro em Pernambuco teve um impacto de cerca de 30% na ocupação, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE), Eduardo Cavalcanti. Durante debate da Rádio Jornal sobre o assunto, ele explicou que o interior sofreu ainda mais.
Segundo Cavalcanti, o feriado de Carnaval faz com que muitas pessoas busquem o interior para "fugir" da festa. "Quem viaja para um resort no litoral, para um, hotel fazenda no interior, vem com objetivo de fugir do Carnaval, não se vem para Gravatá atrás de Carnaval, não tem essa tradição. Então, a restrição das festividades de grande porte, como Galo da Madrugada e das ladeiras de Olinda, pois se sabe que as pessoas não respeitam mais máscara depois da terceira dose, nada disso seria prudente, mas o cancelamento prejudicou hotéis", disse.
Confira o debate da Rádio Jornal sobre a não realização do Carnaval em Pernambuco:
De acordo com Cavalcanti, o público que vai ao interior é do próprio Estado de Pernambuco e de vizinhos como Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e o público dos resorts em Porto de Galinhas tem muita gente do Sul e do Sudeste. Assim o litoral sofreu menos. "O índice de cancelamento pós anuncio do feriado (da não realização de festas) chegou a 30%. Tínhamos 80%, 90% de taxa de ocupação, batemos 50%, 55% no interior. A média do Estado está em 62% e, historicamente, passa de 85%", comentou Eduardo.
O presidente da ABIH-PE disse esperar um melhor cenário com a diminuição no número de casos de covid-19 no Estado, mas cobrou sequência para o turismo. "O turismo precisa ter sequência, o dinheiro que se ganha na Semana Santa e no São João não compensa o movimento do ano todo, temos folha de pagamento todo dia, precisa movimentação média para pagar as despesas".
Segundo Cavalcanti, o cancelamento do Carnaval deve dar melhor possibilidade para os eventos do restante do ano. "Vamos seguir com vacinação e com cuidados necessários. Teremos eleição (o que movimenta a rede hoteleira) e se constatou que quem fosse em campanha política não pegava covid", ironizou o presidente em relação às aglomerações registradas pelas campanhas nas eleições municipais de 2020.
Por fim, o presidente cobrou maior antecedência nos anúncios sobre restrições para que prejuízos sejam evitados. "O lamentável é que a hotelaria, o turismo, se programa com antecedência, precisa de três meses, ao menos, é como um evento, que não se contrata hoje para evento amanhã com cinco mil pessoas. Não se pode avisar como aconteceu no Carnaval uma semana antes, tivemos que devolver diárias, se tivermos condição de fazer e planejar antes terá a Semana Santa, a Paixão de Cristo recebe dez mil pessoas dia. Se não souber antes, vai ser difícil, imagine prejuízo", disse.