Entrevista

''O mundo poderá suprir a ausência do petróleo russo'', diz ex-diretor da ANP

Com petróleo nas alturas, o ex-diretor da ANP ainda apontou caminhos para o preço não explodir no Brasil

Cadastrado por

Cássio Oliveira

Publicado em 09/03/2022 às 15:06 | Atualizado em 09/03/2022 às 15:11
Petróleo Brent do Mar do Norte chegou a passar or US$ 90 pela primeira vez desde novembro - ILUSTRATIVA/PIXABAY

Em um cenário de instabilidade por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, os preços do petróleo alcançaram os níveis mais altos desde 2008, com os Estados Unidos (EUA) e aliados europeus considerando proibir as importações de petróleo russo.

Nessa segunda-feira (7), o petróleo Brent subiu US$ 5,1, ou 4,3%, para fechar em US$ 123,21 o barril, e o dos EUA (WTI) avançou |US$ 3,72, ou 3,2%, encerrando o dia em US$ 119,40 o barril. Durante a sessão, ambos os benchmarks atingiram o nível mais alto desde julho de 2008, com o Brent chegando a US$ 139,13 por barril e o WTI, a US$ 130,5.

Questionado se o Brasil poderá aproveitar as sanções à Rússia para ampliar sua exportação, o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Florival Carvalho, explicou à Rádio Jornal, na manhã desta quarta-feira (9), não ser tão simples.

"Não se faz contrato de petróleo da noite para o dia. São contratos de longo prazo, o principal comprador é a China. Somos diferentes dos anos 80, quando eramos importadores. Agora, somos exportadores, produzimos mais do que consumimos e há excedente, mas já há contrato firmado há anos e não podemos romper de uma hora para outra", comentou.

Entrevista com Florival Carvalho:

Listen to Como a Petrobras pode se aproveitar das sanções à Rússia? byRádio Jornal on hearthis.at

Sobre os preços, Carvalho disse que há três caminhos para evitar o impacto do aumento no bolso dos consumidores. "O nível de preço aumenta a lucratividade da Petrobras, ela produz em consórcio com outros players e aumenta o lucro deles com exportação em preço nas alturas. Mas, há cerca de dez anos, o preço do barril também estava em US$ 120, então não é tão absurdo. O que está caro é a taxa do dólar. E o governo tem dois parâmetros que não pode mexer: a cotação do dólar e o preço internacional. Então, para diminuir o preço interno, é preciso diminuir o lucro da Petrobras, uma intervenção que não sei se o governo tem coragem de fazer,  diminuir o tributo e dividendos, pois o governo recebeu quase 40 bilhões no último ano en dividendos, e, por fim, os governos estaduais podem baixar o valor do ICMS. Só tem esse caminho", destacou.

Os preços globais do petróleo aumentaram cerca de 60% desde o início de 2022, levantando preocupações sobre o crescimento econômico global e a estagflação. A China, segunda economia do mundo, tem como meta um crescimento mais lento de 5,5% neste ano.

No domingo (6), o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que seu país e aliados europeus estavam explorando a proibição de importações de petróleo russo. Há discussão sobre o preço do petróleo subir para mais de US$ 300 por barril se os Estados Unidos e a União Europeia proibirem as importações de petróleo da Rússia. 

Florival Carvalho diverge dessa perspectiva. "O valor não deve dobrar, creio que não. O petróleo vai sempre flutuando, subindo e caindo. E nunca é uma questão de oferta. Sempre tem oferta, aumentar a produção é tranquilo, mas tem especulação com picos altos e baixos."

Há suprimento de petróleo no mundo, o Oriente Médio tem para suprir. Os Estados Unidos têm reserva de óleo. Então, o petróleo russo vai fazer falta, mas, neste momento, é mais preocupante a falta do gás para a Europa. O óleo, o resto do mundo vai suprir, não de imediato, pode levar dois anos, mas pode suprir.
Florival Carvalho

A Rússia é o maior exportador mundial de petróleo e derivados combinados, com exportações de cerca de 7 milhões de barris por dia, ou 7% da oferta global. Alguns volumes das exportações de petróleo do Cazaquistão dos portos russos também enfrentaram complicações. 

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