Ele falou para várias gerações, diante de um auditório lotado com capacidade para 272 pessoas. A passagem do presidente do Grupo JCPM, João Carlos Paes Mendonça, pelo REC 'n' Play foi marcada por estréias. Pela primeira vez, o empresário visitou oficialmente o Porto Digital e também inaugurou, nesta quarta-feira (18), o formato de entrevista pública do evento, discutindo Marketing do Futuro. No final, encerrou sua participação aplaudido de pé.
O encontro aconteceu no Auditório É do Povo, no Cais do Sertão, no Bairro do Recife, com mediação de Rosário Pompéia, Mestre em Comunicação e consultora em marketing e comentários de Silvio Meira, cientista-chefe da TDS Company. A governadora Raquel Lyra e a vice-governadora Priscila Krause prestigiaram a participação de João Carlos no chamado Carnaval do Conhecimento de Pernambuco.
O REC 'n' Play começou nesta quarta-feira (18) e segue até o sábado (21), ocupando vários espaços do Bairro do Recife e oferecendo mais de 600 atividades gratuitas. Em sua quinta edição, o evento mal começou e já superou a expectativa de público. "Já estamos com mais de 42 mil inscrições e a expectativa é que ultrapasse 50 mil", comemorou o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, na abertura da entrevista de João Carlos.
FESTIVAL
Na sabedoria dos seus 85 anos, João Carlos estava à vontade em um festival forjado na inovação tecnológica, na modernidade e na perspectiva de futuro. A receptividade do público foi imediata. Recebeu longos e entusiasmados aplausos na sua subida ao palco.
Brincou que foi convidado para falar sobre marketing do futuro, mas que só sabia falar do passado. Na verdade, fez-se entender porque é reconhecido como uma "lenda do mundo dos negócios". Contou a história do grupo, iniciada com a mercearia de seu pai, Pedro Paes Mendonça, na pequena Ribeirópolis (Sergipe). Falou, ainda, sobre inovação, estratégia, curiosidade, lançamento de produtos e serviços, aproximação com a comunidade, responsabilidade social e ousadia.
Na cota de suas maiores ousadias como empreendedor, aliás, ele aponta a decisão de construir um supermercado na Capital Pernambucana, em 1966. "Eu era um jovem de apenas 28 anos e resolvi investir no Recife. Escolhi o bairro de Casa Amarela para abrir a primeira loja (do então Bompreço). Tive que enfrentar uma concorrência pesada, porque naquela época o Grupo Batista da Silva (donos do Comprebem) dominava o mercado. O nosso slogan também foi ousado: 'Uma loja em Casa Amarela servindo a cidade inteira'", recorda.
João Carlos revela, bem-humorado, que para bater o martelo por Casa Amarela ele e sua esposa, Maria Auxiliadora, passaram um tempo observando o comportamento do varejo e da população do bairro. "Nós ficávamos sentados no muro da delegacia, olhando as pessoas carregando sacolas e o que elas compravam. A partir disso, tivemos a certeza de que a primeira loja seria ali", reforça.
COMUNIDADES
Silvio Meira explica que a proposta do REC 'n' Play de discutir Maketing do Futuro é uma tentativa de entender não apenas os públicos, mas as comunidades. "A discussão é sobre tratar as comunidades do seu negócio. Não uma coisa genérica para fazer propaganda. A intenção é conhecer gente e isso você fazia desde sempre", diz.
Ao longo de sua história, a empresa criou vários programas e ações de aproximação com a comunidade, desde as visitas nos finais de semana, que o empresário fazia nos supermercados junto com a esposa, passando pelo Encontro Bompreço com a Dona de Casa (1982), que depois se transformou em Encontro Cliente Bompreço. Em 1992 saiu pelas ruas de Boa Viagem pela primeira vez o Bloco da Parceria, que se tornou uma das prévias mais famosas do Carnaval e chegou a reunir 1 milhão de pessoas.
INOVAÇÃO
As inovações tecnológicas que João Carlos buscava mundo afora transformou o Bompreço em referência no varejo brasileiro. Ele chegou a viajar 70 vezes aos Estados Unidos e outras 50 à Europa, mapeando novidades. A rede foi a primeira no País a importar 12 scanners e implantar o sistema de código de barras. A primeira loja a adotar a tecnologia foi a do Parque Amorim, no Recife, em 1971.
No rol de inovações financeiras, o Grupo JCPM passou a usar a Divisumma 24 Olivetti, uma calculadora eletrônica que fazia as quatro operações e otimizou a contabilidade. "Antes as somas eram feitas no papel almaço ou na ficha tríplice (formulário contábil em três vias)", compara.
Em 1969, a rede varejista criou um cadastro de recebimento de cheques para garantir mais confiabilidade nas transações. O negócio se transformou no estrondoso sucesso do Hipercard (1982). Nos anos 90, uma das inovações foi o lançamento do clube de fidelidade, o Bomclube (1995). "Fomos verdeiros players da modernidade", comemora o empresário.
SOCIAL
Durante a entrevista no REC 'n' Play, João Carlos se emociona várias vezes. Uma delas é quando diz que aprendeu sobre responsabilidade social com o pai. O empresário costuma diferenciar responsabilidade de compromisso social. A primeira ele considera como a obrigação de cada cidadão de ser honesto, de não sonegar impostos, de ter civilidade e de respeitar as pessoas. A segunda é como cada um percebe o mundo e age sobre ele, tentando dar alguma contribuição: um voluntariado, projetos e obras em favor das comunidades.
Há 34 anos, a Fundação Pedro Paes Mendonça, localizada no povoado da Serra do Machado, no município de Ribeirópolis, transforma a vida das pessoas da terra natal de João Carlos. O projeto atende desde crianças até idosos, com educação, assistência à saúde e geração de renda. "Hoje temos 45 jovens na universidade. Tenho um orgulho muito grande, porque foi o lugar onde eu nasci", diz, emocionado.
O presidente do Grupo JCPM também volta a se emocionar quando lembra que os jovens do Instituto JCPM foram entregar cestas básicas e fazer busca ativa das pessoas das comunidades para se vacinar na época da pandemia. "Eles iam até as palafitas entregar as cestas básicas a quem estava precisando", lembra, com a voz embargada.
Na sua mensagem final, João Carlos falou, sobretudo para os jovens, da necessidade de aprimorar vocações, de ser curioso, de trocar ideias, de não ir atrás de repetir os projetos dos outros, de estudar, de não perder tempo desnecessário na internet, de ter limite entre a ansiedade e a ambição.
Silvio Meira afirmou que depois daquele dia o empresário passa a fazer parte da história do Porto Digital e encerrou a noite do REC 'n" Play no Cais do Sertão. "Senhores e senhoras a lenda empreendedora de Pernambuco: João Carlos". O empresário foi aplaudido de pé por todos os que estavam no auditório.
Na verdade, a aula de João Carlos foi sobre empreendedorismo e humanidade.