Ítalo Ferreira critica confederação brasileira por não valorizar surfe

Surfista diz que hoje em dia quase não há eventos acontecendo no Brasil. Adalvo Argolo, prsidente da CBSurf ,contesta
Estadão Conteúdo
Publicado em 30/04/2020 às 14:03
ítalo Ferreira é o atual campeão do circuito mundial Foto: ED SOLANE/WSL


Felipe Rosa Mendes

Mesmo com mudança de data e preocupações com a pandemia do novo coronavírus, a Olimpíada de Tóquio-2020 já mudou o surfe. Para o brasileiro Italo Ferreira, atual campeão mundial da WSL, a entrada da modalidade no programa olímpico trouxe alterações profundas para o esporte. Entretanto, isso não faz com que o atleta brasileiro minimize as críticas contra o presidente da Confederação Brasileira de Surfe (CBSurf), Adalvo Argolo. Segundo Italo, o dirigente não faz o que pode para valorizar o esporte no Brasil.

"Quando eu comecei a competir nos torneios ‘pro-junior’, era sempre um sonho competir no Campeonato Brasileiro profissional. Porque era um evento muito grande e atletas do WCT, do Circuito Mundial, queriam competir no campeonato nacional por ser incrível e premiações gigantescas. E hoje quase não vemos nenhum evento acontecendo na região pelo fato de as pessoas que estão por trás não conseguirem realizar um bom trabalho. Precisa mudar a cabeça das pessoas que estão por trás e ter profissionais que querem ajudar e querem que o esporte cresça no geral", disse o surfista potiguar, reiterando as críticas.

Na sua avaliação, melhorias na gestão da modalidade no País vão permitir novos e maiores patrocínios aos atletas da base. "Acho que, se a casa estiver limpa, as empresas grandes podem entrar e abrir o leque de opções para que o esporte volte a crescer no nosso País", declarou o surfista à reportagem.

"Melhor circuito nacional do mundo"

Em contato com o Estado, Adalvo Argolo, presidente da CBSURF, rebateu as declarações de Italo. "O fato é que atualmente o circuito de surfe profissional brasileiro é o melhor circuito nacional do mundo porque oferece a maior premiação - R$ 40 mil por gênero - se comparado com os circuitos nacionais das outras duas principais potências: Austrália e EUA", declarou o dirigente.

<< Atletas e federações acusam a CBSurf de má gestão

Ele afirmou que está trabalhando para realizar neste ano o Circuito Brasileiro nas categorias sub-14, sub-16 e sub-18. A primeira etapa foi realizada no início do mês, na Bahia. Também disse apoiar competições de longboard e Stand up Paddle. E garantiu que a entidade está sem dívidas.

"A CBSurf é uma entidade sem dívidas e com suas contas e obrigações absolutamente em dia. Estamos buscando patrocinadores para nos apoiar a organizar o surfe brasileiro e promover mais e melhores eventos. Este é um momento no qual os principais surfistas brasileiros deveriam se unir e ajudar a entidade a se estruturar. Sem isso, nenhum patrocinador irá se interessar em investir no surfe brasileiro", afirmou Argolo.

"Todos os nossos recursos estão disponíveis de uma forma transparente no site da CBSurf e também no do COB (Comitê Olímpico do Brasil). A transparência é nossa principal ferramenta para mostrar a todos o grau de responsabilidade e comprometimento com a lisura da entidade", completou.

De olho em 2021

Na avaliação do mais novo campeão mundial, o "aval" que o Comitê Olímpico Internacional (COI) dá ao surfe deve proporcionar novos apoios e patrocínios de maior peso aos surfistas no futuro. Italo vai representar o Brasil em Tóquio, em 2021, ao lado de Gabriel Medina.

"Sem dúvida, a Olimpíada já mudou o surfe. Grandes empresas estão nos visando agora porque o surfe está em um nível mais alto. Pode ser que mude todo o cenário, pode ser que grandes empresas venham a patrocinar outros atletas e fazer grandes eventos. Não só no Brasil, mas nos outros países também", afirmou o brasileiro, ao Estado, em evento do prêmio Laureus, em Berlim.

O benefício pode ser ainda maior para o Brasil em razão do grande momento vivido pelo País no surfe. Na temporada passada, por exemplo, Italo conquistou o título em uma final emocionante contra o compatriota Gabriel Medina, já dono de dois troféus mundiais. Além deles, também se sagrou campeão Adriano de Souza, o Mineirinho, em 2015. O trio se destacou no que é chamado "Brazillian Storm", algo como a "Tempestade Brasileira", em referência ao surgimento de grandes surfistas do País nos últimos anos.

Se o aumento do apoio se confirmar, segundo a previsão de Italo, a base brasileira poderá ganhar novo fôlego. "Isso pode trazer empresas gigantes que queiram investir no esporte num geral, não apenas no profissional, mas na base também porque é dali que saem os grandes campeões".

 

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