Atacante brasileiro conta como é a vida em Wuhan, onde surgiu surto de covic-19

Rafael Silva, do Wuhan Zall, que disputa a divisão de elite do Campeonato Chinês, voltou com o elenco e a comissão técnica após 104 dias longe da cidade
Estadão Conteúdo
Publicado em 05/05/2020 às 13:48
Rafael foi com o elenco do Wuhan Zall em janeiro até Guangzou. Depois, com o crescimento do surto no país, foi continuar sua pré-temporada na Espanha, em Sotogrande, e retornou à China para ficar em Shenzhen,antes voltar para casa Foto: Wuhan Zall/Divulgação


Ricardo Magatti, especial para a AE


Cidade onde começou a pandemia do novo coronavírus, Wuhan, na China, recebeu recentemente, com muita emoção, os jogadores e comissão técnica do Wuhan Zall, que disputa a divisão de elite do Campeonato Chinês. Entre os atletas da equipe que regressaram às suas casas depois de 104 dias está o brasileiro Rafael Silva

Em entrevista ao Estado, o atacante, que tem passagem pelas categorias de base do Corinthians e foi revelado pelo Coritiba, contou o que sentiu ao retornar a Wuhan depois de mais de três meses. Os sentimentos foram contrastantes logo que desembarcou na estação de trem, onde torcedores esperavam o elenco com faixas. O técnico espanhol José González recebeu um buquê de flores de presente.

"Foi uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo legal. Estávamos voltando para a cidade onde tudo começou. E o torcedor estava nos esperando na estação de trem. Mas é esquisito ver uma cidade tão movimentada com pouca gente na rua. Está tudo fechando cedo", relatou.

A volta de Rafael e de todo o elenco para seus lares só foi possível porque a cidade de Wuhan, primeiro epicentro da doença no mundo, já saiu do confinamento a que foi sujeitada devido ao surto que rapidamente se propagou dando origem a uma pandemia reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Peregrinação para fugir da covid-19

Para se afastar da covid-19, o elenco do Wuhan Zall viajou em janeiro até Guangzou, a mais de mil quilômetros de distância. Depois, com o crescimento do surto no país, a equipe foi continuar sua pré-temporada na Espanha, em Sotogrande, próximo a Cádiz. Com o país europeu tomado pela doença - é, até hoje, o segundo do mundo com mais casos registrados - o time decidiu voltar à China para ficar em Shenzhen, onde a delegação permaneceu confinada em um hotel por duas semanas, cumprindo protocolo destinado a quem vinha do exterior.

"Fomos testados e ainda ficamos em quarentena. Fiquei num hotel por duas semanas aguardando o período estipulado pelos órgãos de saúde. Não podíamos sair do quarto. Recebíamos a alimentação ali Foi complicado, pois foram muitos dias de isolamento", disse o atacante. O périplo só terminaria depois de 104 dias.

Capital da província de Hubei, a metrópole de 11 milhões de habitantes em que o jogador mora desde 2018 ficou isolada do resto da China de 23 de janeiro a 8 de abril. No total, Wuhan registrou mais de 67 mil casos da covid-19 dos quase 84 mil confirmados em todo o país asiático. Ainda que todos pacientes já tenham recebido alta e a província esteja livre do vírus, segundo declarou no final de abril o porta-voz da Comissão Nacional de Saúde da China, Mi Feng, a normalidade não se fixou e as pessoas continuam receosas e prevenidas.

"As coisas estão melhorando, vemos uma evolução em relação ao controle, mas ainda vemos todo mundo preocupado", afirmou o jogador, que contou que todos os atletas são testados diariamente antes dos treinamentos. "O pessoal tira uma gotinha de sangue para fazer o teste. Tiram a temperatura também. Estamos seguindo todos os protocolos de higiene com álcool em gel em todos os lugares".

A rotina do atacante, que jogou no futebol suíço e japonês antes de aventurar na liga chinesa, ainda é restrita apenas às atividades essenciais. "Eu só vou para o treino e volto pra casa Além disso, sair apenas para ir ao mercado", afirmou.

O jogador revelou que o governo chinês monitora a população por meio de um sistema de QR Code que é capaz de identificar, por exemplo, quem cumpriu a quarentena e já foi testado.

Em que pese a retomada dos treinamentos, ainda não há uma definição quanto ao início do Campeonato Chinês. O torneio começaria no dia 22 de fevereiro, mas foi adiado indefinidamente assim que o contágio da doença se intensificou. Há a expectativa de que a bola comece a rolar no final de maio ou início de junho, embora nenhum prazo tenha sido estipulado pela federação local. O que o jogador sabe é que seu salário e o dos companheiros será reduzido em uma porcentagem ainda não revelada pelo clube.

"Estamos treinando e aguardando a definição de tudo. É difícil dizer com certeza quando tudo voltará ao normal, inclusive o esporte", avaliou. Rafael Silva tem bons números com a camisa do Wuhan Zall. Marcou 31 gols em 38 partidas nas duas temporadas em solo chinês.

PODCAST

Por conta da pandemia do novo coronavírus, o futebol segue paralisado há mais de um mês e meio e ainda não tem previsão de volta. No entanto, o esporte segue sendo debatido no podcast Liga do Escrete, um programa exclusivo da Rádio Jornal sobre o futebol internacional. No episódio desta semana, um debate sobre Seleções que marcaram época no futebol, mas que nunca venceram uma Copa do Mundo. Dentre as citadas, está a Holanda de 1974, vice-campeã do mundo daquele ano e que tinha o gênio Johan Cruyff como principal craque.

Além deste assunto, o programa também relembrou partidas marcantes de Copa do Mundo e Champions League, além de montar um time ideal envolvendo craques da Premier League e da La Liga. Por fim, mas não menos importante, um duelo: Kevin de Bruyne ou Kaká? Na trilha sonora do programa...Red Hot Chili Peppers!

Listen to Relembramos grandes Seleções que marcaram época, mas não venceram a Copa do Mundo byRádio Jornal on hearthis.at  

 

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