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Maradona por Eduardo Galeano: o mais humano dos deuses

O escritor uruguaio, morto em 2015, foi quem melhor descreveu o ídolo argentino, falecido nesta quarta-feira (25)

Karoline Albuquerque
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Karoline Albuquerque
Publicado em 25/11/2020 às 17:02 | Atualizado em 25/11/2020 às 19:01
EQUIPE / ESTADÃO CONTEÚDO
Para Galeano, a fama aprisionou Maradona. - FOTO: EQUIPE / ESTADÃO CONTEÚDO

Poucos têm a capacidade que Eduardo Galeano tinha de descrever o futebol. Para além de dentro do estádio, o escritor uruguaio, morto em 2015, observava também quem estava fora. E, por isso, ninguém descreveu melhor Diego Armando Maradona, que faleceu nesta quarta-feira (25), do que Eduardo Galeano.

Em O parto, o nascimento da estrela argentina ganha contornos fantásticos. Galeano lembrava, logo nas primeiras palavras, que dona Tota, como era conhecida Dalma Salvadora Franco, deu a luz àquele menino em um hospital no bairro de Lanús, na província de Buenos Aires.

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Antes de descer à Terra, o bebê encontrou uma estrala jogada no chão, com o formato de um prendedor de cabelo. "A estrela brilhava em um lado, e no outro não. Isso acontece com as estrelas, toda vez que caem na terra, e na terra se reviram: em um lado são de prata, e fulguram esconjurando as noites do mundo; e no outro são só de lata."

E a tal estrela esteve com dona Tota durante o parto. "O recém-nascido foi chamado de Diego Armando Maradona." A estrela que nasceu.

Além do bebê Maradona, Eduardo Galeano também exaltou o ser humano Don Diego. Coube ao "mais famoso e mais popular" esportista de todos os tempos denunciar "os amos do negócio do futebol". Na crônica intitulada Maradona, o convicto latino-americano escritor apaixonado pelo esporte dos colonizadores relembrou os dois gols mais contraditórios da história, intervalados por apenas cinco minutos.

"Seus devotos veneravam pelos dois: não apenas era digno de admiração o gol do artista, bordado pelas diabruras de suas pernas, como também, e talvez mais, o gol do ladrão, que sua mão roubou", escreveu. E isso serviu de mote para Galeano explicar a adoração dos fãs pelo ídolo.

Ele foi querido não só pelos "prodigiosos malabarismos" em campo, mas por também ser um "deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses". "Qualquer um podia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas, ou ao menos masculinas: mulherengo, beberrão, comilão, malandro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável."

Uma lista que, mesmo com xingamentos, soava de forma elogiosa. Pois, deuses não se aposentam, mesmo os humanos. E a fama aprisionou Maradona, tornando Don Diego a estrela de todos os momentos. "Mais devastadora que a cocaína foi a sucessoína. As análises, de urina ou de sangue, não detectam essa droga."

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