Nesta sexta-feira (16), o Recife sedia pela primeira vez a etapa final do STU NATIONAL, o circuito nacional de skate 2022. Há dois meses, teve início a construção da primeira pista da modalidade Skate Park fora do eixo Sul e Sudeste, localizada na Rua da Aurora, Centro do Recife.
Ainda nesta quarta-feira (14), às vésperas do evento, equipamentos de obra e materiais de construção ainda podiam ser vistos na área da competição, para além da estrutura desmontável que servirá para o evento. Os arredores da pista ainda não estavam finalizados.
Estruturado com o investimento total de R$ 840 mil, feito integralmente pela Plataforma Skate Total Urbe (STU), o equipamento de 600 m² será a 11ª pista da capital pernambucana. As demais perecem devido à falta de manutenção e projetos mal pensados para os skatistas.
O estudante Zé Ribeiro, 35, relembra que entre os anos de 2013 e 2018 precisou se juntar com os parceiros de pista para construir obstáculos minimamente necessários para as manobras da categoria Street, na pista do Parque Santana, Zona Norte do Recife.
"Entregaram para a gente a pista com praticamente só o piso, tudo o que foi prometido não tinha. A gente se organizou como crew e levamos serralheiro e ferramentas para fazer as coisas. Isso deu muita briga, até que em 2018 derrubaram a pista pra reformar e criar uma nova".
PARQUE SANTANA
Mesmo com a reforma, a falta de manutenção ainda é o pesadelo de quem anda de skate na pista do Parque Santana. Por lá, é possível ver buracos, estruturas de cimento desgastadas, placas de ferro soltas e rachaduras significativas.
A situação preocupa quem anda na área, já que acidentes se tornaram comuns entre os que utilizam o espaço.
"Já vi amigos se machucarem muito por causa dos buracos. A gente que anda constantemente no parque já decora onde estão as rachaduras para não ser pego de surpresa", relata Henrique César, 42.
Praticante do skate desde a década de 90, Henrique afirma que as péssimas condições estruturais e a falta de segurança pública são vistas em quase todas as pistas da cidade. A situação já foi denunciada por ele no blog de sua autoria, especializado em skate (Picos e Pistas).
"Eu ando em quase todas as pistas de Recife. Frequento mais as próximos da minha casa, na Zona Norte, só que a do parque Macaxeira é impraticável. O piso lá e os obstáculos são horríveis, o material que reveste a área é grosso, de qualidade ruim, o que dificulta nas manobras. Lá também não tem manutenção, só fazem pintar quando tem algum evento."
CAXANGÁ
Na Zona Oeste da Cidade, outra construção segue esquecida. Não só pelas condições da pista, como pela insegurança na área, a pista da Caxangá é raramente usada pelos skatistas da região.
Frequentador assíduo do local desde sua inauguração, o fotógrafo Wellington Rodrigues, 37, deixou de ir ao equipamento no início de 2019.
"Eu não vou mais lá por conta de assalto. O local precisa de uma reforma, não está tão acabada quanto a da Macaxeira, mas dá pra ser aproveitada. Só que é impossível ir lá com a falta de segurança", relata.
DONA LINDU
No Dona Lindu, na Zona Sul, a pista construída no espaço é trocada pelo estacionamento do parque por quem pratica o esporte.
"Aquela pista foi um erro, construíram um bow sem acompanhamento de especialistas no skate e a obra ficou ruim, cheia de ondulações e sem a parte rasa para iniciantes. Quem anda lá prefere o estacionamento, mas acaba colocando em risco quem passa pela área, já que o equipamento pode se soltar e atingir alguém sem querer", afirma Henrique César.
OTIMISMO
Um acerto pontuado pelos praticantes do esporte é a construção do Skate Park Marcelo Lyra, no Pina, Zona Sul do Recife. Segundo os entrevistados, o local é um dos melhores para praticar as manobras.
"A pista é ótima e já prova que quando tem uma mão de obra qualificada faz toda a diferença. A pista tem uns 4 anos e continua uma das melhores de Pernambuco, o espaço precisa de reformas pontuais, mas é bom", afirma Henrique César.
O skatista acredita ainda que a chegada do STU National no Recife ajude os amantes do esporte a terem melhores condições para praticar e treinar na cidade.
"Esse evento é muito bom para incentivar o poder público a entender que o skate é grande e importante. Espero que a gestão municipal tenha um olhar mais carinhoso para o skate, para que eventos como esses aconteçam mais vezes. A cobrança da gente é que não tenha só quantidade de pistas, mas qualidade", finaliza o skatista.
Procurada pela reportagem do JC, a prefeitura do Recife informou em nota que nos últimos dois anos o investimento na modalidade, construção e manutenção das pistas de Skate da cidade do Recife foi de R$ 1.250.000,00.
Segundo a gestão há também um projeto para a implementação de mini pistas espalhadas pela capital. A previsão de início das construções é para a partir de 2023.
Sobre as más condições estruturais das pistas, uma equipe da Emlurb deverá ser enviada ainda nesta semana para o skate da Caxangá, na Zona Oeste, para "realizar uma vistoria no equipamento e programar as ações mais adequadas para os reparos".
Em relação às pistas de skate do Parque Santana e Macaxeira, na Zona Norte, a Secretaria de Turismo e Lazer do Recife informou que realiza rotineiramente reparos e manutenção, e que próximas melhorias estão previstas para serem realizadas "assim que as condições climáticas estiverem mais estáveis".