Aposentadoria, 2004 e 2016: Marco Antônio lembra de histórias no Náutico

Marco Antônio foi um dos entrevistados dessa semana na Live do Torcedor
Davi Saboya
Publicado em 21/06/2020 às 10:07
Marco Antônio foi campeão pernambucano pelo Náutico em 2004 Foto: DIEGO NIGRO/ACERVO JC IMAGEM


Dois anos após pendurar as chuteiras, o ex-meia Marco Antônio lembrou das passagens pelo futebol de Pernambuco em live no Instagram do Blog do Torcedor. Ao repórter Davi Saboya, ele comentou sobre os momentos marcantes que viveu com o Náutico, tanto em 2004, no título estadual, quanto em 2016, onde viveu o outro lado da história no fracasso contra o Oeste pela Série B. Além disso, também falou sobre a rápida oportunidade que teve de vestir a camisa do Sport e a atual situação profissional.

Confira

HOJE EM DIA

Depois da minha aposentadoria, eu comecei a trabalhar na empresa de logística da minha família que era comandada pelo meu pai. Como é logística e transporte, a gente não parou e continuou seguindo tomando todos os cuidados. É uma situação bem difícil para todo mundo. Mas estamos conseguindo levar.

APOSENTADORIA

Parei em 2018 no Figueirense. Foi um ano atípico. Descobri três hernias de disco na coluna. Fiquei cinco meses parados. Tive problemas familiares, que eu precisava estar em São Paulo com a minha família. Então, esses foram alguns dos motivos que me fizeram parar e seguir para outra vida. Agora, no mundo corporativo. Decidi sair do futebol, pois enxerguei que era o momento de aproveitar mais a minha família, os finais de semana e feriados depois de um longo tempo abrindo mão por causa da minha profissão.

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2004

Era um garoto cheio de sonhos e planos. Projetava uma carreira pela frente. Foi um crescimento pessoal e profissional muito grande. Nunca tinha saído de São Paulo para morar sozinho em outra cidade. Tive que quebrar o vínculo familiar que era muito forte. Foi importantíssimo. Fui muito bem recebido no Náutico, em Recife. Foi um ano perfeito, só não foi perfeito mesmo porque não conseguimos o acesso. Mas a final do Pernambucano de 2004 foi um dos melhores dias da minha vida. E foi o início de toda a minha carreira. O time era bom demais, mesclado na dose certa com experiência e juventude. Faltou pouca coisa para conseguir uma vaga na Série A. Dois jogos que nos tiraram o acesso.

SPORT

Minha passagem pelo Sport não foi tão boa. Eu estava no Juventude, de Caxias do Sul, tinha acabado de encerrar meu contrato lá. Dois dias antes da estreia, o professor Givanildo (Oliveira, técnico) disse que eu iria começar jogando, mas eu tive uma lesão na panturrilha. Não sei se pela mudança grande no clima. Participei em alguns jogos, mas não foi uma passagem feliz.

OUTRAS PROPOSTAS

Depois de 2004, quando fiz uma grande temporada no Náutico, você termina abrindo os olhos dos outros times da cidade. Tive algumas sondagens de volta em vários anos, nada concreto, até pelo meu momento, mas em 2006, quando fui para o Sport, era para eu ter voltado para o Náutico. Em outros momentos, surgirão sondagens do Santa Cruz, Náutico e Sport. Só que efetivamente apenas as oportunidades que voltei mesmo.

FINAL

Teve o episódio curioso da quebra do ônibus saindo do hotel Quatro Rodas. Ligaram para a empresa, não dava para chegar na hora. Eram mais de 14h30. Então, Zé (Teodoro, técnico do Náutico em 2004), numa sacada rápida, parou os carros que estavam com bandeiras, e fomos de carona para esse jogo. Perdemos por 1x0, Gil Baiano (meia) que era um líder do grupo, foi expulso. Então, Zé toma a decisão de ir para o Arruda jogar com três atacantes e me chamou dizendo que eu iria jogar sozinho na criação. Acho que foi o ponto fundamental para inverter o cenário do jogo. E, o fato mais gostoso de lembrar, é a conversa da gente com o finado e glorioso Robertinho (auxiliar técnico). Ele mandou todo mundo deitar no chão do vestiário e fechar os olhos. E foi falando com cada um. Passou uma energia muito boa para a gente. Além disso, disse: vocês estão esperando uma vitória por 2x0, mas vamos ganhar por 3x0. E foi isso que aconteceu. Essa conversa mexeu com a gente demais. O título iria acontecer, não da forma que foi, com a bola na bandeirinha, o gol do Batata em cinco minutos. Quando o santa cruz conseguiu acordar para o jogo, já estávamos com tudo dominado e encaminhado para o título.

BANDEIRINHA

O lance começa com Marquinhos (lateral-esquerdo) abrindo uma bola para mim. Fui driblar, naquela época, Curê estava fazendo uma dobra de marcação, a bola foi e não saiu na linha de fundo. Coloquei o pé para ele não lançar a bola para o ataque. E Curê desistiu do lance. Isso porque ele estava de costas para bandeirinha e eu de frente. Quando eu vi, corri para a bola, olhei para a grande área e vi Kuki na frente, além de Jorge Henrique por trás. Com toda inteligência que ele tinha, Kuki deu o 'corta luz' e deixou para Jorge Henrique. Mas eu, e nem ninguém iríamos imaginar que a bola bateria na bandeirinha e não sairia. Zé (Teodoro, técnico do Náutico em 2004) fez uma preparação decisiva para a final.

2016

Quando eu cheguei, na teoria, o Náutico não via muitas chances de acesso. Tanto que acertei o contrato até 2017. Fechei na segunda, Givanildo (Oliveira, técnico do Náutico na época) fechou na terça. Inclusive, ele me ligou, pois estava estudando o elenco e queria me usar como segundo volante. O tenho como um mentor honesto, certo, que não tem meias palavras, ou é ou não. O futebol precisa de pessoas feito ele. O Náutico tinha perdido para o Sampaio Corrêa na Arena, jogo que assisti no camarote. Então, não estávamos acreditando no acesso. Mas na reta final, quando Givanildo montou o esquema, muito certinho, ganhamos logo os seis primeiros jogos. Fizemos 18 pontos e fomos para terceiro lugar. Isso criou aquela coisa de vai subir. Até teve aquela oscilação natural. Mas se pensou: ganhou seis e faltavam seis jogos, vamos lá. No jogo contra o Ceará, que Igor rabelo faz o gol aos 48 minutos, tive a certeza que as coisas estavam caminhando para o acesso.

AMBIENTE

Lembro que no penúltimo jogo, eu corria o risco de ficar fora por desgaste físico da última rodada. Então fui poupado, a gente foi enfrentar o Tupi e perdemos. Teve Vinícius (meia) foi substituído, saiu reclamando, discutindo e de lá ele foi para o Rio de Janeiro, que a esposa morava lá. Na volta, lembro que Júlio (César, goleiro) me disse que a situação esquentou e a gente precisava contornar. Givanildo com maestria foi lá, resolveu e Vinícius voltou. Mas foi uma semana muito turbulenta. Tínhamos algumas pendencias financeiras que precisavam ser resolvidas. Na quinta, Givanildo reuniu a rapaziada, disse que a semana estava ruim, estávamos com a cabeça em outro lugar, apagando incêndios que eram problemas da diretoria. Pediu para a gente tentar concentrar, treinar, pois se sentisse que não conseguiria extrair tudo, seria o primeiro a dizer que não dava. Mas ele (Givanildo Oliveira, técnico) disse que acreditava na gente.

OESTE

Só que não foi a preparação que era preciso. Se tivéssemos um respaldo maior, uma conversa olho no olho, mais transparente, mais franca da diretoria, as coisas poderiam mudar. Vínhamos de várias semanas dizendo que tudo seria resolvido na sexta-feira. Givanildo até brincou dizendo que por sextas desse tipo já tinha saído de clube. Na terceira pediu demissão. O problema era equalizar tudo isso diante de um adversário que vinha em uma sequência ruim, mas tinha um técnico (Fernando Diniz, atual treinador do São Paulo) que não está no patamar atual por nada. Ele pensa futebol mais na frente. Até conseguimos pressionar no começo da partida, mas na primeira jogada que eles acertaram, fizeram um a zero. A atmosfera virou ao contrário, não conseguimos reverter e dominar as nossas emoções. A Arena de Pernambuco estava lotada.

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