Adaptação foi a palavra-chave quando analisamos os últimos meses e as transformações causadas pelo coronavírus. Os impactos, que se estenderam em todas as áreas, promoveram mudanças na vida pessoal, social e profissional de todos. Para as empresas, lidar com um novo cenário trouxe possibilidades que antes não eram consideradas. Isso se destaca quando falamos de trabalho remoto ou híbrido.
“A maioria das empresas não estavam preparadas para a realidade do trabalho remoto e muitos líderes só entenderam que praticavam uma gestão ainda pautada no comando e controle apenas quando viram seus times espalhados. Neste momento, bateu um desespero, uma insegurança, evidenciando um despreparo na gestão. Foi preciso, antes de tudo, estabelecer relações de confiança com o time para conseguir operar no modelo remoto. Quando algumas práticas começaram a se estabelecer, nasceu o novo modelo de trabalho, também totalmente novo, o chamado híbrido”, explica Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais do Great Place To Work (GPTW).
De acordo com uma pesquisa recente realizada pelo GPTW, que ouviu mais de 2000 pessoas, foi constatado que a maior parte das empresas está no momento trabalhando no modelo híbrido e as que ainda não estão, pretendem ficar nos próximos meses. “Com a pesquisa, pudemos perceber que as empresas que estão testando o modelo híbrido, passaram a identificar seus ganhos e seus desafios. Mas ainda é um teste. Sabemos que a comunicação será um grande desafio para chegar da mesma forma, do mesmo jeito e na mesma hora para times presenciais e remotos ao mesmo tempo”, complementa Diniz.
Embora a experiência esteja sendo satisfatória, os obstáculos do remoto ou híbrido são reais e precisam de atenção nas suas resoluções para que as empresas possam fortalecer suas culturas organizacionais. De acordo com Fabio Menezes, consultor da TGI, consultoria em gestão estratégica para a competitividade das empresas, o processo de adaptação deve ser muito bem pensado e discutido, inclusive com envolvimento da equipe em alguma medida.
“A rotina do trabalho remoto, sobretudo num período tão dramático como a pandemia, motivou muitas pessoas a repensar a vida, profissional e pessoal. O home office aproximou muitas famílias no dia a dia, mas também deu luz a conflitos intrafamiliares. Desta forma, podemos entender que os modelos de trabalho influenciam de forma abrangente a vida das pessoas, e isso precisa ser considerado. O mais cuidadoso é que as organizações possam ir testando os modelos e fazendo as adaptações necessárias de forma gradual. Vale lembrar que os formatos adotados não podem significar perda de competitividade das organizações, pelo contrário, o objetivo deve ser ganhar produtividade e satisfação das equipes de trabalho, consequentemente ampliar os resultados dos negócios”, detalha o consultor.
“MENOS ESCRITÓRIO”
Seja num cenário totalmente em casa ou alternando com idas ao local de trabalho, repensar os modelos de gestão nas empresas, e os impactos na vida das pessoas, se tornaram pautas recentes, mas que na realidade já passaram a ser a escolha de algumas empresas há algum tempo. A Officeless surgiu em 2017 como um movimento para falar de uma nova relação das pessoas com o seu trabalho, trazendo pilares como propósito, autonomia e confiança. No entanto, a empresa começou com o trabalho remoto há 13 anos. A cultura Officeless (“menos escritório”) é fruto do Startaê, uma consultoria de design e tecnologia para startups.
“Já ajudamos direta e indiretamente milhares de empresas de diferentes tamanhos, e hoje somos uma comunidade com mais de 3.000 líderes de equipes remotas conectados em torno do desejo de criar equipes com pessoas mais realizadas, produtivas e conectadas, independente de suas localizações”, explica Renato Contaifer, head de conteúdo e facilitador no Officeless.
E são os líderes que a Officielles destaca como diferencial quando falamos de transformar a cultura das organizações. Pois, quando essas lideranças assumem a frente da transformação, o movimento iniciado é geral nas empresas.
“O despreparo das empresas em lidar com o trabalho a distância naturalmente trouxe uma experiência bem questionável e até traumática para algumas pessoas. Isso não é o trabalho remoto, mas uma cultura ruim, baseada em soluções aparentemente óbvias e intuitivas que tentam reproduzir o mundo físico no digital. O resultado disso é a sensação de nunca conseguir desligar do trabalho, fruto do imediatismo incentivado pelo uso de aplicativos de comunicação instantânea, o excesso de reuniões e relações baseadas em controle, práticas indesejáveis do trabalho remoto”, enumera Contaifer.
O head destaca também que o trabalho remoto pandêmico é muito diferente do que esse movimento representa fora desse cenário, e que o híbrido não significa a saída perfeita. “Espera-se que o trabalho híbrido represente o melhor dos dois mundos, mas isso não é tão simples. Os desafios são diferentes dos enfrentados no 100% remoto e a complexidade é bem maior. Em alguns casos o híbrido é só uma desculpa para retornar aos poucos ao trabalho presencial. No entanto, apesar de tantas dificuldades, as pessoas descobriram que passaram anos atravessando a cidade todos os dias para fazer um trabalho que já dava para ser feito de qualquer lugar. Especialmente em mercados onde existe uma competição acirrada por talentos, oferecer flexibilidade será o básico. Os melhores profissionais vão exigir isso e as empresas que não se adaptarem poderão ter dificuldades”, finaliza.