O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (29) que encerrará as isenções concedidas a Hong Kong como parte de seu relacionamento especial com Washington.
A China "não cumpriu com a sua palavra de garantir a autonomia de Hong Kong", disse Trump no jardim da Casa Branca, em uma declaração de detalhes firmes, mas limitada.
"É uma tragédia para o povo de Hong Kong, para o povo da China e para o povo de todo o mundo", afirmou.
A declaração ocorre em meio a um clima explosivo: o bilionário republicano elevou o tom nas últimas semanas, ao acusar Pequim de ser responsável pela propagação do novo coronavírus em todo o planeta, e prometeu represálias.
Os Estados Unidos denunciam há vários dias a controversa lei de segurança nacional que a China quer impor a Hong Kong, considerando que se trata de uma forma encoberta de silenciar a oposição e restringir as liberdades no território, o que Pequim nega veementemente.
"Peço a meu governo que inicie o processo de eliminar as isenções que dão a Hong Kong um status especial", disse Trump.
"Esta decisão terá um impacto em todos os acordos que temos com Hong Kong", acrescentou, referindo-se em particular ao tratado de extradição e certos privilégios comerciais, com algumas exceções.
A entrega de Hong Kong foi realizada em nome do princípio "Um país, dois sistemas", que permitiu à ex-colônia britânica preservar liberdades desconhecidas na China, como uma justiça independente, liberdade de expressão e um Parlamento parcialmente eleito por sufrágio universal, além de outras no campo econômico.
Estas isenções levaram muitos países, como os Estados Unidos, a aprovarem leis que os autorizam a tratar Hong Kong como uma entidade comercial separada do regime chinês.
Após manifestar o desejo de preservar a pesquisa universitária "vital para o país", Trump também anunciou a suspensão da entrada de "certos cidadãos chineses" identificados como "riscos potenciais" para a segurança nacional.
O presidente americano, no entanto, foi esquivo sobre o alcance desta decisão e o número de estudantes que poderão ser afetados.
Segundo o Instituto de Educação Internacional (IIE), os chineses representam um terço dos estudantes estrangeiros nos Estados Unidos, com quase 370.000.
O embaixador britânico na ONU, Jonathan Allen, disse que se for aplicada a lei desejada pela China, exacerbaria as "divisões profundas" na sociedade de Hong Kong.
Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália lideram a resistência internacional ao projeto, que planeja punir as atividades separatistas e "terroristas", a subversão ou inclusive a interferência estrangeira no território autônomo chinês.
A China apresentou seu projeto após as gigantescas manifestações celebradas em Hong Kong em 2019 contra a influência de Pequim inicialmente pacíficas, mas também marcadas pela violência e pelo vandalismo.
Estes protestos reforçaram um movimento independentista, anteriormente marginal.
A China, que bloqueou uma solicitação americana para uma reunião formal do Conselho de Segurança sobre Hong Kong na quarta-feira, avaliou ao final da videoconferência desta sexta que a iniciativa do Ocidente foi inócua.
"Qualquer tentativa de utilizar Hong Kong para interferir nos assuntos internos da China está condenada ao fracasso", disse o embaixador de Pequim nas Nações Unidas, Zhang Jun.